«Quando se soube que o juiz Rui da Fonseca e Castro tinha impedido o lançamento do livro “O Avô Rui, o Senhor do Café”, de Mariana Jones, sobre a vida do empresário Rui Nabeiro, respirei de alívio. Trata-se de um livro infantil, e considero nociva a promoção do café junto das crianças. Se, juntamente com a abolição da obra “O Avô Rui, o Senhor do Café”, o ex-juiz tivesse proposto a inclusão, no Plano Nacional de Leitura, do livro “O Avô Leandro Panizzon, o Senhor da Ritalina”, teria votado nele nas próximas eleições. No entanto, mais tarde percebi que o objectivo do antigo magistrado era censurar um livro anterior da mesma autora, chamado “O Pedro Gosta do Afonso”. Habituado a julgar delitos reais, o ex-juiz dedica-se agora a decretar sentenças sobre amores ilícitos inventados. Quando um pré-adolescente imaginário nutre por outro pré-adolescente ficcional um amor de fantasia, o ex-juiz entra em acção para impedir a pouca-vergonha fictícia. Na literatura infanto-juvenil é frequente os protagonistas beijarem batráquios, princesas que parecem estar mortas, e até monstros. Queremos mesmo conspurcar este ambiente com personagens que beijam pessoas do mesmo sexo? Uma coisa é incentivar as crianças a beijarem sapos, que até cumprem a importante função social de repelir ciganos; outra coisa é sugerir-lhes porcarias repugnantes.
De acordo com Rui Castro, o livro promove a homossexualidade. Ora, eu confesso que gostaria de assistir a uma boa promoção da homossexualidade (“Leve 2 Lesbianismos, Pague 1”, etc.), mas tenho verificado que, curiosamente, a homossexualidade — tal como, por exemplo, os bens de luxo — não precisa de promoção. Todos os homossexuais que eu conheço são filhos de casais heterossexuais. São todos produto da família tradicional — que é, por isso, a maior promotora de homossexualidade. Talvez o ex-juiz devesse tomar conta desta ocorrência.
Num ponto Rui Castro tem razão: se alguém quiser promover a homossexualidade junto dos jovens, o meio mais eficaz é, sem dúvida, a literatura infanto-juvenil. Esta miudagem só pensa em ler livros. É preciso arrancar-lhos da mão. Julgo que já todos presenciámos a cena: uma família está à mesa a comer e os adultos dão às crianças os telemóveis ou os tablets, para elas se entreterem. Mas os miúdos atiram os aparelhos para o chão e gritam: “Não! Eu quero é ler as obras completas de Mariana Jones! Caso contrário, não haverá sossego neste restaurante!”
Para testar a capacidade de sedução da literatura infanto-juvenil, fui à biblioteca e requisitei vários livros para a infância e a juventude, incluindo o de Mariana Jones. Escuso de dizer que saí de lá com uma vontade irreprimível não só de gostar do Afonso, mas também de ir levar o lanche à minha avozinha e de, no caminho, passar pelo mercado para comprar feijões mágicos. É por isto que o país está como está.»
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