2.6.25
O almirante, o contra-almirante e as perigosas inevitabilidades
1.6.25
Quatro Estações
Daqui.
01.06.1967 – Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
.
A solução está à esquerda
«Bem sei que pode parecer insensato o título deste escrito,
principalmente depois da expressiva derrota
eleitoral das esquerdas nas eleições do dia 18 de maio, mas o meu ponto de
partida é o seguinte: a crise institucional da democracia que se vive também no
nosso país e se traduziu no desfecho eleitoral tem como origem o desprestígio e
a impopularidade do monopólio rotativo da governação PS-PSD. Adotando em áreas
fundamentais políticas essencialmente idênticas, ela permitiu a degradação dos
principais serviços públicos, agravou as desigualdades sociais e as condições
de vida. Isso mesmo semeou descontentamento, insegurança, desespero e zanga em
largos setores da população contra o bloco central informal no poder e a
ineficácia injusta dos seus governos.
Como sucedeu noutros países, também em Portugal a extrema-direita
potenciou e cavalgou – com largos apoios financeiros e mediáticos e novos
instrumentos de manipulação algorítmica – esse mal-estar de setores relevantes
das classes médias e assalariadas. Apelou sem pudor ao medo e aos instintos primitivos, explorou a
desinformação e a ignorância difusa, mentiu todos os dias, manipulou, sempre
estimulada por uma generosa e cúmplice cobertura mediática dominante. E perante
a incapacidade das esquerdas de se afirmarem como alternativa, atropelou-as e
colocou-se em posição de assaltar o poder, contra tudo o que a democracia
conquistou política e socialmente com o 25 de Abril.
A vitória eleitoral do PSD é, por isso mesmo, mais aparente e efémera do
que real e estabilizadora do regime. A meu ver, à direita clássica, formalmente
vencedora sem maioria absoluta, abrem-se três soluções possíveis.
Primeira: apoiar-se parlamentar e politicamente num acordo informal e de
incidência pontual com o PS – como este se dispõe a fazer –, colocando a
extrema-direita numa situação apendicular. Será uma “contenção” meramente
aparente e transitória: o esgotado situacionismo rotativo do centro-direita foi
precisamente o que fez crescer a extrema-direita. O seu continuismo será
provavelmente o prefácio do assalto ao poder pela extrema-direita em próximas
eleições, a curto ou a médio prazo.
Segunda: o PSD pode jogar no equilíbrio instável. Ou seja, pescando
adrede apoios no campo do PS e aceitando integrar de forma acrescida as
políticas da extrema-direita (securitarismo, anti-imigração, restrições das
liberdades públicas e dos direitos laborais…). O resultado seria o mesmo da
primeira solução, só que mais acelerado: um continuismo mais chegado à
extrema-direita apressa o seu advento.
Terceira: a direita tradicional pode desfazer-se paulatinamente do “não
é não” e mandar às urtigas a aparência de “cordão sanitário”, como reclama um
largo setor do PSD e já acontece pela Europa fora, e não só. Nesse caso, temos
uma aliança parlamentar da velha direita com a nova extrema-direita, a caminho
de um novo tipo de regime autoritário: uma espécie de neofascismo adaptado ao
regime de historicidade e às condições sociais da época atual. Com tudo o que
isso implica.
Na realidade, à luz da democracia conquistada em Abril, as soluções
aparentemente previsíveis para a direita desembocam num caminho de regressão
cívica e civilizacional a curto ou a médio prazo. Perante a gravidade do que se
configura, a solução, do ponto de vista da liberdade e justiça social, tem de
se buscar, de se construir, com um novo curso de políticas alternativas, isto
é, à esquerda. Mudando o paradigma. Devemos talvez, nesta situação grave,
procurar com lucidez e coragem reinventar o antifascismo. Ou seja, promover uma
solução à esquerda, plural, que una tudo o que pode ser junto em torno de um
duplo objetivo geral: defender a democracia e a liberdade, por um lado,
salvaguardar e aprofundar a justiça social e distributiva por outro. Para tal,
lutando por políticas concretas e urgentes que respondam à crise da habitação;
à defesa e melhoria do SNS, da escola pública e dos salários e pensões; ao
combate ao racismo e a todas as formas de exclusão e discriminação em função do
género ou da orientação sexual. Um antifascismo que se coloque contra a guerra
e a demência armamentista que a promove e se pronuncie sem tibiezas aviltantes
contra o massacre genocida em Gaza e pelos direitos do povo palestiniano.
Não é, certamente, um caminho fácil neste rescaldo de um duro revés eleitoral. Exige diálogo e construção de acordos entre forças políticas, movimentos sociais e cidadania. Mas certamente a dispersão e a divisão não são a resposta digna do nosso compromisso com o passado e com o futuro. Apesar de tudo, Abril vale bem um entendimento. E de cabeça erguida.»
Fernando Rosas
https://www.publico.pt/2025/05/31/opiniao/opiniao/solucao-esquerda-2134574
31.5.25
A canção do nosso futuro?
In the town where I was born
Lived a man who sailed the sea
And he told us of his life
In the land of submarines.
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