17.1.25

Luzes

 


Candeeiro Arte Nova, em bronze e pasta de vidro. Modelo com duas túlipas gravadas «Libélula Vermelha».
Émile Gallé.

Daqui.

A palavra a quem sabe: o director da PJ

 



Françoise Hardy não chegou aos 81

 


O que aconteceria hoje, mas morreu há uns sete meses. Confessou que mais de um cancro transformaram a sua vida num pesadelo. Custou ler isto.

Seja como for, nós, «les garçons et les filles de son âge», ficaremos para sempre a dever-lhe memórias de ternura e de inocência. Voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal.

Do seu álbum «Personne d’autre» de 2018:



Do álbum de 2012:



E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria:


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Futuro

 


24 horas no serviço de urgência

 


«Por detrás das notícias que abrem os telejornais e que dão conta das longas horas de espera dos doentes nos serviços de urgência, existem histórias por contar. As dos profissionais de saúde, que trabalham horas intermináveis, as dos mais velhos, que sofrem nas desconfortáveis macas nos corredores, as dos dramas que levamos para casa, encerrados nos nossos silêncios.

Estou de urgência num turno de 24 horas. Falei há pouco com a colega de anestesiologia. O doente que estiveram a operar tinha acabado de falecer. O caso era complexo. O prognóstico mau, mesmo antes de começarem. Estão frustrados e desanimados. No entanto, o trabalho não acabou. Ainda temos mais 13h pela frente. Poucas pessoas conseguem entender o que isto é, todas as semanas.

Quando falam de planos e linhas telefónicas, despachos e decretos-leis, parece que estão a discutir mundos paralelos, afastados da rea¬lidade. O esforço físico é violento, mas as marcas psicológicas, essas ficam para a vida. E por isso, os mais novos tentam abandonar o serviço de urgência, assim que podem.

Valorizo os líderes que não têm medo de continuar as políticas que demonstram valor, que preferem os resultados em saúde às inaugurações de placas com o seu nome. E, nesse sentido, para quem não quer estar sempre a tentar reescrever a História, recordava os SNS Summit que a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) promoveu.

Formas partilhadas para atingir soluções concertadas, fóruns de discussão de boas práticas. Eventos projetados para promover a colaboração e o desenvolvimento de estratégias conjuntas. Um espaço vital para a troca de ideias, encorajando o desenvolvimento interpares de soluções inovadoras.

O primeiro ocorreu em março de 2023, e foi dedicado aos serviços de urgência (SU). Foram dezenas de profissionais que trabalharam num conjunto de consensos, traduzidos em 15 recomendações, que vale a pena recordar.

1 — Investimento em campanhas nacionais de promoção da literacia para o uso mais racional dos SU;

2 — Aumento da resposta ao doente agudo não urgente em contexto extra-hospitalar;

3 — Reforço do alinhamento de respostas entre hospitais e centros de saúde, através do alargamento do modelo unidade local de saúde;

4 — Atualização dos algoritmos de referenciação do INEM e Linha SNS 24;

5 — Implementação progressiva do modelo de urgência referenciada;

6 — Estabelecimento de equipas dedicadas no SU;

7 — Implementação de centros de responsabilidade integrados nos SU;

8 — Criação da especialidade de medicina de urgência;

9 — Alargamento do modelo de urgências metropolitanas;

10 — Implementação de um regime fiscal que garanta a contabilização para o tempo de serviço/reforma das horas extraordinárias realizadas em SU;

11 — Criação de uma rede de transporte inter-hospitalar de doentes graves;

12 — Definição de um modelo transversal de gestão de admissões /altas;

13 — Prioridade dos modelos alternativos à hospitalização clássica;

14 — Aumento da capacidade de resposta dos cuidados continuados e da segurança social aos doentes com alta clínica;

15 — Criação de um programa de investimento para requalificação das urgências hospitalares.

Em março fará dois anos sobre este plano, que pela minha vivência continua atual. Era importante perceber o que o país está a fazer para o concretizar.

Mais do que comunicados pintados com as cores do arco-íris, e do cumprimento exemplar de despachos, valeria a pena aferir se a realidade está a mudar.

O telefone toca. São 2 horas da manhã. O turno na urgência nunca mais acaba...»


16.1.25

Elogio da Raiva

 


Não abominem a raiva, porque dela brotam as ideias novas, a invenção do que há de vir, o perscrutar nervoso das possibilidades, ainda que incertas, ainda que raras, ainda que improváveis.


Mujica perto do fim

 


𝐂ML? Óptimo

 


Que o actual presidente da CML saísse já ao ataque era previsível. Que os direitosas de várias cores também o façam, com os mais variados argumentos, também. (Os que incluírem nesses argumentos o facto de ela ser gorda tornaram-se candidatos a saírem da minha lista de amigos no Facebook.) Outros, que se consideram de esquerda, passaram a elogiar timidamente Carlos Moedas, com fins tão óbvios que fazem sorrir.

Já eu considero que a aposta em Alexandra Leitão é óptima, se ela se entender com a esquerda da esquerda, para uma candidatura que pode correr com uma péssima gestão da cidade. Eu sei que Álvaro Cunhal houve só um, mas ainda espero que o PCP tenha juízo como teve no passado.

Go home?

 


Um dia feliz, a vitória de Trump e a fatura que virá

 


«O acordo de cessar-fogo em Gaza não é muito distante ao que Hamas queria, há meses. E isso diz-nos que poderiam ter sido poupadas milhares de vida. Porque há meses que se sabia que nenhum novo objetivo militar ainda poderia ser conquistado. O prolongamento da guerra resultou de interesses políticos de Netanyahu e da espectativa de ver Trump chegar à Casa Branca. E o Hamas não foi aniquilado, porque nunca poderia sê-lo, com esta ação. Foi o próprio Antony Blinken a confirmar que o grupo “recrutou quase tantos novos militantes quanto perdeu”.

Na primeira fase deste acordo, haverá cessar-fogo, com a retirada das tropas israelitas das zonas habitadas, mantendo-se em parte do território; o regresso dos refugiados palestinianos; a libertação de 33 reféns israelitas e de cerca de mil presos palestinianos, incluindo crianças. Falta perceber se, entre os libertados, está Maruan Barguti, uma possível liderança palestiniana, tal como foi pedido por Mahmoud Abbas. Apostaria que não. Isso seria retirar aos islamistas a liderança política da Palestina, coisa que Israel nunca quis, como já aqui documentei.

O cessar-fogo permitirá apoio humanitário a Gaza. Esta fase durará seis semanas, que podem ser prolongadas se as negociações para entrar na segunda fase demorarem mais tempo. A segunda fase corresponderá ao fim da guerra, retirada de Israel e libertação do resto dos reféns. A terceira fase, corresponderá à reconstrução de Gaza e entrega dos corpos dos refugiados mortos.

Mesmo que este acordo tenha sido construído por Blinken e tenha sido Joe Biden a dar a cara por ele, só a proximidade do dia em que Donald Trump chegará à Casa Branca que o permitiu. Porque a sobrevivência política de Benjamin Netanyahu depende do apoio do novo presidente. E porque o estilo destemperado de Trump é mais assustador do que o jogo do costume, dos democratas. Israel sabe que não pode fazer com Trump o que fez com Biden. E isso é triste. É uma vitória tremenda de Trump, para usar um termo que ele gosta.

Ou Netanyahu tem medo dos humores de Trump, ou foi-lhe prometida qualquer coisa para depois disto ou, provavelmente, as duas coisas. Sem pôr o carro à frente dos bois, quando apenas a primeira fase deste acordo parece fazível, podendo ser destruída a qualquer momento pelos dois lados, o futuro pode ser o reconhecimento das pretensões mais radicais de Israel para os colonatos, os territórios ocupados e Jerusalém. Pode ser o enterro definitivo da cada vez mais distante solução dos dois Estados. Em troca, Israel tem carta branca para lidar o Irão, única preocupação de Trump.

Para Trump, é importante recuperar a dinâmica dos acordos de Abraão, que desequilibraram os poderes no Médio Oriente, ajudando a enterrar os palestinianos na areia dos interesses e negócios das ditaduras árabes. Deixando os iranianos sozinhos a defender, por interesse próprio, o abandonado povo da Palestina. Transformar a causa palestiniana naquilo em que se tornou a causa curda: em vez de uma disputa territorial, a luta solitária e perdida de um povo sem Estado.

A solução trumpista para o conflito não é defender a causa palestiniana, é isolá-la e matá-la. O que não é difícil, tendo em conta a natureza ditatorial dos regimes árabes, distantes da opinião popular. O que quer dizer que se isolam os moderados e ficam os aliados de Irão. Mas, para chegar a isso é necessário pôr fim a um genocídio que não permite que qualquer país árabe converse sequer com Israel.

Mas isto é o futuro. Agora, é tempo para celebrar a interrupção do massacre, permitindo que o povo mártir de Gaza saia do inenarrável inferno em que vive há mais de um ano e receba o apoio humanitário que um mundo que se demitiu de todos os deveres lhe deve. É tempo para celebrar a libertação dos reféns criminosamente capturados pelo Hamas, que nunca estiveram nas prioridades de Netanyahu. Sabendo que a fatura virá a ser apresentada. Tem sido sempre. Não será seguramente diferente com Donald Trump.»


15.1.25

Está frio?

 


Não nos encostem aos extremos

 

«Foi pena o primeiro-ministro não ter ido à manifestação da Avenida Almirante Reis, mesmo que na qualidade de observador. Teria constatado facilmente, sobretudo se se sentasse numa esplanada para ver passar os manifestantes, que a sua grande maioria era constituída por gente moderada, muito distante dos extremos. (…)

Luís Montenegro, que tem assento à mesa do Conselho Europeu, poderia aprender alguma coisa com os seus pares. Foi ele que quis introduzir na agenda política a questão da segurança, ligando-a mais ou menos subtilmente aos imigrantes. Foi ele que começou por saudar o espectáculo dado pela polícia na Rua do Benformoso, declarando-se "atónito" com as críticas que suscitou imediatamente. Foi ele que decidiu dar "visibilidade" às acções da polícia, como esta, numa zona de grande concentração de imigrantes, sobretudo de origem indostânica. Foi ele que quis manipular a realidade, na crença de que "segurança" e "imigrantes" lhe permitem tirar votos ao Chega.»

Teresa de Sousa
Newsletter do Público, 14.01.2025