A minha intenção era deixar um comentário a De novo e de novo a língua em A Terceira Noite, mas o texto ficou demasiado longo e ganhou estatuto de post paralelo.
La bataille des langues é o tema do último número da revista Manière de Voir, que Rui Bebiano analisa no seu texto. Porque o assunto me fascina, fui à procura da fonte (*).
Para o bem e para o mal, os franceses não se resignam a aceitar o facto de a sua língua perder cada vez mais terreno para o inglês, transformado em instrumento de vida ou de morte, mesmo se 95% da população nunca dele precisa de facto. Há por isso quem defenda que não é indispensável conhecê-lo profundamente e proponha a definição de uma base simplificada em que todos, incluindo os anglo-saxões, se exprimam (**).
De certo modo, isto aplica-se, segundo vários dos autores da revista em questão, ao conhecimento das línguas em geral. É este fundamental, sobretudo na Europa? Certamente, mas há que renunciar ao perfeccionismo. Cita-se Umberto Eco: «uma Europa de poliglotas não é uma Europa de pessoas que falam fluentemente muitas línguas, mas, na melhor das hipóteses, de pessoas que podem encontrar-se falando a sua própria língua e entendendo as dos outros, sem ser capaz de as falar fluentemente».
Os nórdicos têm experiência neste domínio: suecos, noruegueses e dinamarqueses desde há muito que tiram partido de parecenças. Há vinte anos, foi-me explicado, num centro de educação da IBM em Estocolmo, onde as aulas eram dadas em sueco mas também participadas por alunos dos outros dois países, que era fornecida aos professores uma lista com duzentas palavras a evitar – o suficiente para que todos se entendessem.
Na última secção de La bataille des langues, significativamente intitulada Des stratégies de résistance, dão-se várias sugestões no sentido de se promover a intercompreensão das línguas românicas através do ensino. Diz-se que, em cerca de sessenta horas, qualquer falante de um dos idiomas (francês, português, espanhol, italiano e romeno) aprende o suficiente para ler e compreender textos básicos em todos os outros. Defende-se que os professores poderiam / deveriam ensinar uma família de línguas e não uma única. Não dará para ler Camões, Racine ou Dante mas dá para viver – e para não ter de falar inglês com italianos!
Escândalo dos escândalos para os puristas?!... Mas eu tendo a achar razoável. E gosto desta aproximação à latinidade. Segundo uma história que me contaram em tempos e que me foi vendida como verdadeira, um português em viagem pela Roménia terá visto que se encontrava numa terra chamada VISEU. Disse então ao guia que tínhamos uma cidade com o mesmo nome em Portugal e este terá respondido: «Mas nós cá dizemos BIGEU»...
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(*) O conteúdo da revista não está disponível na net, mas podem ser lidas aqui as introduções às cinco secções em que os artigos estão organizados.
(**) Escrevi em tempos, aqui e aqui, dois textos sobre o Globish, uma iniciativa mais ou menos utópica que vai precisamente ao encontro desta pretensão.
La bataille des langues é o tema do último número da revista Manière de Voir, que Rui Bebiano analisa no seu texto. Porque o assunto me fascina, fui à procura da fonte (*).
Para o bem e para o mal, os franceses não se resignam a aceitar o facto de a sua língua perder cada vez mais terreno para o inglês, transformado em instrumento de vida ou de morte, mesmo se 95% da população nunca dele precisa de facto. Há por isso quem defenda que não é indispensável conhecê-lo profundamente e proponha a definição de uma base simplificada em que todos, incluindo os anglo-saxões, se exprimam (**).
De certo modo, isto aplica-se, segundo vários dos autores da revista em questão, ao conhecimento das línguas em geral. É este fundamental, sobretudo na Europa? Certamente, mas há que renunciar ao perfeccionismo. Cita-se Umberto Eco: «uma Europa de poliglotas não é uma Europa de pessoas que falam fluentemente muitas línguas, mas, na melhor das hipóteses, de pessoas que podem encontrar-se falando a sua própria língua e entendendo as dos outros, sem ser capaz de as falar fluentemente».
Os nórdicos têm experiência neste domínio: suecos, noruegueses e dinamarqueses desde há muito que tiram partido de parecenças. Há vinte anos, foi-me explicado, num centro de educação da IBM em Estocolmo, onde as aulas eram dadas em sueco mas também participadas por alunos dos outros dois países, que era fornecida aos professores uma lista com duzentas palavras a evitar – o suficiente para que todos se entendessem.
Na última secção de La bataille des langues, significativamente intitulada Des stratégies de résistance, dão-se várias sugestões no sentido de se promover a intercompreensão das línguas românicas através do ensino. Diz-se que, em cerca de sessenta horas, qualquer falante de um dos idiomas (francês, português, espanhol, italiano e romeno) aprende o suficiente para ler e compreender textos básicos em todos os outros. Defende-se que os professores poderiam / deveriam ensinar uma família de línguas e não uma única. Não dará para ler Camões, Racine ou Dante mas dá para viver – e para não ter de falar inglês com italianos!
Escândalo dos escândalos para os puristas?!... Mas eu tendo a achar razoável. E gosto desta aproximação à latinidade. Segundo uma história que me contaram em tempos e que me foi vendida como verdadeira, um português em viagem pela Roménia terá visto que se encontrava numa terra chamada VISEU. Disse então ao guia que tínhamos uma cidade com o mesmo nome em Portugal e este terá respondido: «Mas nós cá dizemos BIGEU»...
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(*) O conteúdo da revista não está disponível na net, mas podem ser lidas aqui as introduções às cinco secções em que os artigos estão organizados.
(**) Escrevi em tempos, aqui e aqui, dois textos sobre o Globish, uma iniciativa mais ou menos utópica que vai precisamente ao encontro desta pretensão.
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