20.6.15

Paris, hoje





Mais cidades AQUI
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Stop Austeridade – Apoio à Grécia – Mudança na Europa



Concentração Lisboa 
Segunda-feira, 22 Junho 
Largo Camões 19h

«Em funções há cinco meses, o governo da Grécia tem procurado consensualizar na União Europeia uma renegociação da dívida e um caminho alternativo à austeridade.

Desde o primeiro dia, as instituições europeias e o FMI mantêm total intransigência e desafiam o mandato democrático do povo grego, procurando impor novos cortes nas pensões, entre outras medidas recessivas. O garrote financeiro agrava a situação económica e social na Grécia e serve de chantagem política contra todos os povos da União.

Vivemos a hora decisiva em que cabe à mobilização impedir a expulsão da Grécia da moeda única e da União Europeia. Só a democracia dos povos da Europa pode evitar a punição de um país inteiro pela recusa de mais austeridade e miséria.»

Ana Gaspar, António Eduardo Pinto Pereira, Carlos Trindade, Fernando Rosas, Henrique Sousa, Joana Lopes, José Castro Caldas, José Gusmão, Luís Branco, Luísa Teotónio Pereira, Mariana Avelãs, Paulo Ralha, Tiago Gillot, Vítor Sarmento.

Evento no Facebook.
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Demasiado lampeiros para serem sérios



Grande texto de José Pacheco Pereira, no Público de hoje. Excertos que não dispensam leitura na íntegra:

«Lampeiros com a verdade, neste governo e no anterior, há muitos. Sócrates é sempre o primeiro exemplo, mas Maria Luís Albuquerque partilha com ele a mesma desenvoltura na inverdade, como se diz na Terra dos Eufemismos. E agora Passos deu um curso completo dentro da nova tese de que tudo que se diz que ele disse é um mito urbano. Não existiu. Antes, no tempo do outro, era a ”narrativa”, agora é o “mito urbano”. (...)

Este tipo de campanha eleitoral é insuportável, e suspeito que vamos ver a coligação a “bombar” este tipo de invenções sem descanso até à boca das urnas. O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo – não tem melhor em que gastar dinheiro? – e vão longe.

Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor Primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “o senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples, é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação. (...)

Mas, para isso é preciso aquilo que falta no PS (e não só), que é uma genuína indignação com o que se está a passar. Falta a zanga, a fúria de ver Portugal como está e como pode continuar a estar. Falta a indignação que não é de falsete nem de circunstância, mas que vem do fundo e que, essa sim, arrasta multidões e dá representação aos milhões de portugueses que não se sentem representados no sistema político. Eles são apáticos ou estão apáticos? Não é bem verdade, mas se o fosse, como poderia ser de outra maneira se eles olham para os salões onde se move a política da oposição, e vêm gente acomodada com o que se passa, com medo de parecer “radical”, a debitar frases de circunstância, e que não aprenderam nada e não mudaram nada, nem estão incomodados por dentro, como é que se espera que alguém se mobilize com as sombras das sombras das sombras?

Enquanto isto não for varrido pelo bom vento fresco do mar alto, os lampeiros vão sempre ganhar. As sondagens não me admiram, a dureza e o mal são sempre mais eficazes do que o bem e muito mais eficazes do que os moles e os bonzinhos.» 
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Ide e lede


«Actualmente, as condições na Grécia são uma reminiscência das da Alemanha em 1933. Naturalmente, a União Europeia não precisa temer a ascensão de um Hitler grego, não só porque poderia facilmente esmagar um tal regime, mas também - e mais importante ainda - porque a democracia da Grécia se revelou incrivelmente madura durante a crise. Mas há uma coisa que a UE deve temer: a miséria dentro das suas fronteiras e as consequências perniciosas para a política e para a sociedade do continente. (...)

Vários países europeus parecem agora satisfeitos em empurrar a Grécia para um ‘default’ e em provocar a sua saída do euro. Acreditam que a saída pode ser controlada sem pânico ou contágio. Essa é uma ilusão típica entre os políticos. Na verdade, é o tipo de negligência que levou o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, a permitir que o Lehman Brothers colapsasse em Setembro de 2008, para dar uma "lição" aos mercados. Uma parte da lição é que ainda estamos a sofrer as consequências do erro monumental de Paulson.» 

Na íntegra aqui.
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19.6.15

Dica (77)



Crianças pirómanas. (Fernanda Câncio) 

«Leiam-se os documentos do próprio FMI sobre o cumprimento do programa grego: todos assumem que os efeitos das brutais exigências foram muito diferentes dos estimados. (...) 

E o melhor é que, tendo [a troika] "acudido", quer, cinco anos depois, continuar a mesma brincadeira - ou deitar fogo ao brinquedo, sem cuidar de saber se com isso incendeia a casa. Está na altura de um bom par de estalos -- mas na Europa, pelos vistos, não sobra ninguém para pôr ordem na criançada.» 
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Atenas, Madrid y Barcelona



«Atenas, Madrid e Barcelona. Três cidades onde estão a ser desmanchadas as costuras daquilo a que se chama democracia. É caso para perguntar que sentido tem esta palavra em cenários onde só é permitida uma forma de gestão da economia e da política. Na Grécia e em Espanha estamos a assistir não apenas ao bloqueio de outra forma de gerir o que existe, mas a um cerco quanto a possibilidades ainda não realizadas. Porque está em jogo, dizem, a sobrevivência do próprio sistema democrático ocidental. (...)

Na construção e na articulação de actores sociais, neste tecido social constituído como sujeito político, encontra-se a semente para começar a remendar as costuras, hoje esgarçadas, em Atenas, Madrid e Barcelona.»

Mario Rísquez

Perguntem aos ventos que passam

A invasão de Lisboa, versão 2015



«Tem sido tema aflorado com cautela, não vá alguém ofender-se. A baixa da cidade de Lisboa foi entregue aos turistas. Não há um restaurante ou pastelaria no Chiado que não tenha fila de loiros. Ainda por cima não sabem comer. Pedem sardinhas com batata frita, fazem sandes de posta de bacalhau e pedem lulas à sevilhana, convencidos de que isto ainda é Espanha. Comem pastéis de nata, sentados ao colo da estátua do Pessoa, vestidos como se fosse Agosto. Ou seja, querem sentir que são de cá, à força. (...)

Lisboa transformou-se num enorme galo de Barcelos com rendas. Uma enorme loja de aeroporto. Uma Joana Vasconcelos com colinas. Toda a baixa é uma loja de "souvenir". Já nem um isqueiro se pode comprar porque: "Só temos para turistas; custa dois euros, mas tem a Torre de Belém." Não há sapatarias, nem livrarias. Há "o melhor pastel de natal do mundo", o "gourmet" da lata de atum, a melhor tarte do mundo, o mais barulhento tuk tuk da galáxia. E há uma voragem gigante para lhes vender tudo. Impingir, impingir, impingir, impingir. Já vendem a luz de Lisboa em frascos de "pickles". Um dia destes, os lisboetas têm de andar mascarados de pastel de nata, ou galo de Barcelos, para terem autorização para andar na rua. É só dar tempo ao tempo. (...)

Eu já só peço o meu galão em alemão, mas aos berros, porque no Chiado uma pessoa não consegue fazer-se ouvir com o barulho dos tuk tuk.»

João Quadros

18.6.15

Saudades Lagardianas

2º centenário de Waterloo

Questões de governança



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje:

«Adquirir dezenas de carros novos para o Governo, ao mesmo tempo que se viaja de avião em turística e se vai à praia de saco de plástico na mão, é o equivalente ao método dietético daquelas pessoas que colocam adoçante no café enquanto comem um pastel de nata. Passos Coelho precisa de um nutricionista de Estado»

Na íntegra AQUI.
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Dica (76)



Grécia. (Pedro Lains) 

«Agora, que a Grécia já não precisa do dinheiro emprestado de fora para "pagar salários e pensões", mas apenas para pagar a dívida a quem emprestou (estúpido, não é?), acabou-se a farsa. E a "Europa" pode finalmente reagir e começar a governar também a periferia.» 
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O futuro do Estado Social



«O Estado Social está em perigo, está ligado às máquinas, quase a morrer. Esta morte anunciada não é inevitável. Existem alternativas e outro caminho para o revitalizar. A intenção de destruir o Estado Social é política e ideológica pois permite ao actual Governo ter o falso argumento de passar para a esfera privada funções sociais do Estado lucrativas. Com a falência do Estado Social é mais fácil florescer o negócio lucrativo na área da educação, da saúde e da gestão do fundo de pensões. Com a anunciada morte do Estado Social o dinheiro para proteger as pessoas pode ser descaradamente utilizado para comprar títulos de dívida pública. Com a anunciada morte do Estado Social os cofres de Portugal ficam vazios para pagar os juros da dívida à senhora Merkel. Com a anunciada morte do Estado Social vamos ter mais tolerância para o empobrecimento, para o aumento das desigualdades sociais, para a perda de direitos e para o retrocesso civilizacional que nos envergonha a todos. Com a anunciada morte do Estado Social aceitamos sem protesto e indignação um Estado mínimo de caridade e assistencialismo que humilha e não emancipa os mais desfavorecidos.»

José António Pinto

17.6.15

Falência política e geracional



«A dívida e a demografia farão a reforma estrutural que temos vindo a adiar. Salazar ainda persiste no dia-a-dia do nosso Estado. Agora temos uma relação tecnológica e informática com ele. Melhor não poderia ser para quem o concebeu como o centro e o disciplinador da sociedade.

Mais rapidamente se intromete na nossa vida. As informáticas disparam avisos atrás de avisos, prazos, multas, penalidades, formulários e anexos, cumprimento de obrigações, informações, inquéritos, requisitos, documentos para pagar, ofícios, códigos multibanco, plataformas do e-governo e um sem-número de "papeladas" electrónicas para nos explicar que temos uma dívida para com ele, mas numa relação "moderna". Os novos estatistas do Estadão chamam-lhe modernização da Administração Pública. (...)

Não faremos nenhuma reforma por decisão autónoma. Os ventos de mudança da revolução americana e francesa com os seus liberalismos, das pensões de Bismarck, da social-democracia do Norte da Europa, das terceiras vias serviram para esta velha nação se ir ajustando, ainda que com atraso histórico. Temos de aguardar que a reforma se faça na Europa ou em qualquer país europeu para a podermos copiar: talvez a nossa maior especialidade. O relógio demográfico e da dívida ainda assim não se imobilizam por decreto.

Não temos o consenso político para promover a reforma, não temos elites capazes de a apoiar, não temos juventude que se revolte, não temos instituições sólidas e independentes, não temos capitalistas com capital, não temos professores motivados, não temos universidades financeira e moralmente independentes dos naturais interesses da sociedade e do seu velho Estado, não temos dimensão territorial que nos auxilie, e não temos sistema e instituições políticas reformistas. Somos situacionistas por atavismo. Devagar se vai ao longe, nem que se sacrifique o bem-estar de algumas gerações. (...)

Os políticos do arco de governação (...) entupiram-nos de vãs palavras sobre reformas porque a Reforma é a reforma dos conceitos destas gerações. Diz-se tudo sobre reformas, faz-se quase nada. É por incompetência, ignorância ou irrealismo políticos? Ou são os políticos que estão prisioneiros dos eleitorados e das gerações que os elegem, e ou dos interesses das gerações que os financiam e promovem? Qualquer resposta pode servir. É só escolher a carapuça.» 

Jorge Marrão

Dica (75)




«Either the Greek government will concede too much, lose its support and collapse, in which case whether the end result is another receivership or Golden Dawn, democracy is dead in Europe. Or, in the end, the Greeks will be forced to take their fate – at enormous risk and cost – into their own hands, and to hope for help from wherever it might come.» 
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António Costa: «A Esquerda radical quer sair da Europa para abandonar a austeridade.»



O secretário-geral do PS dá hoje uma longa entrevista ao Público, que justificará o ganha pão de muitos comentadores durante umas horas, se o futebol assim o permitir.

Restrinjo-me a um ponto, já que perguntei aqui, há alguns dias, o seguinte: «Não haverá por aí algum jornalista que consiga arrancar a António Costa o que ele (não necessariamente o PS) pensa, neste preciso momento, sobre o estado actual das negociações sobre a Grécia, ou seja, sobre credores versus governo grego?»

A resposta está dada hoje, embora de raspão, mas vai ao que interessa. Anda meio mundo a tentar que a Grécia não saia do euro e da Europa, a começar por grande parte dos 11 milhões de gregos, e a questão, para António Costa, parece simples: o que eles querem é o contrário, porque são governados pela «esquerda radical».

Transcrevo do Público:

Entendidos?
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16.6.15

Problema realmente gravíssimo deste país

David Mourão-Ferreira calou-se há 19 anos



David Mourão-Ferreira morreu em 16 de Junho de 1996. Um dos nossos grandes poetas do século XX, ficcionista também, autor de alguns poemas imortalizados pelo fado, na voz de Amália Rodrigues.




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Dica (74)




«A derrota de Tsipras é a derrota de qualquer tentativa de corte com a austeridade. Dentro da Europa não há matizes: infelizmente existe uma agenda única, a dos “compromissos europeus”, que podem ser mais ou menos bem desenvolvidos conforme as personagens envolvidas. Acabaram agora as ilusões: não há política sem austeridade na zona euro. A Europa ilegalizou a social--democracia quando aprovou o famoso “défice zero” do Tratado Orçamental, como na altura vários economistas notaram. (...) 
Imaginar que Portugal sai disto ileso não passa pela cabeça de nenhum economista.»
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Confiança e estabilidade?



«Confiança. Estabilidade. Não é por acaso que as campanhas eleitorais, em Portugal e em outros países, batem tanto nestas teclas. Os eleitores prezam estes valores e os partidos acreditam que serão premiados nas urnas se parecerem garanti-los. (...)

Mas… e quando o status quo é o desemprego, a crise financeira, o aumento dos impostos e a perda de direitos, o retrocesso, a pobreza, a degradação da democracia, a destruição da saúde e da educação, o êxodo dos jovens, uma dívida crescente, a humilhação dos pobres e a subserviência aos ricos? Será “estabilidade” a destruição das empresas, das famílias, das escolas, dos laboratórios de investigação, das poupanças e do investimento? (...)

A estabilidade que os eleitores procuram não é uma garantia de que o futuro será igual ao presente (muito menos nestes anos de chumbo) mas sim uma garantia de que haverá referências e procedimentos que serão respeitados, de que o contrato social não será rasgado nem as leis ignoradas, de que haverá honestidade e transparência, sensatez e competência. Os eleitores querem saber o que podem esperar e têm esse direito natural e constitucional.

Numa época onde caminhámos à beira do abismo e em que vimos milhares e milhares de pessoas precipitarem-se no vácuo é evidente que não queremos continuar a viver a mesma vida. (...)

Este é um daqueles momentos históricos em que não há razão para temer correr riscos, porque o status quo representa um enorme risco. Um momento onde é necessário e justo propor o novo. Este é um daqueles momentos em que se devem fazer escolhas e em que os eleitores percebem as escolhas e querem outra coisa.

Este é o momento em que o PS deveria ter a coragem de escolher e de apontar caminhos em vez de se dirigir ao regaço morno e seguro do centrão, onde às vezes defende a reestruturação da dívida e às vezes não, onde às vezes quer privatizar a TAP e às vezes não. Este é o momento em que a oposição pode e deve apresentar verdadeiras alternativas. Este não é o momento de adoçar a austeridade mas de recusar e combater a austeridade, em Portugal e na UE; de defender e negociar a renegociação da dívida que todos sabemos impagável, para Portugal, para a Grécia e para todos; de recusar a “parceria transatlântica” TTIP que colocará os estados da UE na mão das grandes multinacionais; de defender uma Europa de acolhimento e que não tem receio de defender a paz na cena internacional em vez de fingir que não existe guerra na Líbia nem ISIS.»

José Vítor Malheiros

15.6.15

A Grécia encurralada pelos países ricos


grecia obs
«É na Grécia que se esconde o verdadeiro adversário do status quo: é preciso castigar uma figura anti-sistema como Tsipras e demonstrar que a esquerda radical não pode dirigir um país europeu.»

Este texto de Roberto Savio tem o mérito de situar a questão da Grécia, em termos muito simples, num contexto global que tendemos a esquecer, tantos são os episódios, mais ou menos burlescos, com que somos bombardeados todos os dias.

Cinquenta anos de Guerra Fria e o facto de a chanceler Angela Merkel ter crescido na Alemanha Oriental podem talvez explicar a influência política que os Estados Unidos exercem sobre a Europa. Depois de uma reunião bilateral entre Merkel e o presidente dos EUA, Barack Obama, durante a cimeira do grupo dos sete países mais ricos do mundo (G7), na cidade alemã de Elmau, em 7 e 8 do corrente mês, soube-se que se tinha chegado a uma solução de compromisso: a chanceler alemã aceitou que a União Europeia (UE) continuasse a aplicar sanções à Rússia, o que levou outros países a segui-la; em contrapartida, Obama mudou a posição de Washington em relação à ajuda financeira a prestar à Grécia. Esta atitude tinha sido inequivocamente expressa aos líderes europeus, poucos dias antes, pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, que defendeu a necessidade de resolver o problema grego para evitar um impacto global inadmissível – posição que acelerou imediatamente as negociações, ficando a esperança de que tudo seria resolvido antes da cimeira do G-7.

Mas a Grécia não aceitou o plano que lhe foi apresentado pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, porque o mesmo reflectia posições semelhantes às do Fundo Monetário Internacional (FMI), que incluía mais cortes no orçamento e mais austeridade. Na cimeira, Obama endureceu a posição dos EUA em relação à Grécia, afirmando inclusive que «Atenas tem de executar as reformas necessárias».

O braço de ferro entre a Grécia e os seus parceiros europeus já dura há cinco anos.

A crise grega teve origem nos gastos excessivos dos governos anteriores ao actual, de Alexis Tsipras, concretizados, nomeadamente, num aumento em grande escala do emprego na função pública e num sistema de pensões extremamente caro.

Em 2009, o PASOK venceu as eleições e descobriu-se então que os números que Atenas tinha enviado para Bruxelas eram falsos: o deficit anual real era várias vezes superior ao declarado, em quase 12,5% do produto interno bruto (PIB). Foi a confirmação daquilo que a UE desde há muito suspeitava, apesar de nada ter feito.

Sem entrar em detalhes sobre as angustiantes negociações que se seguitam, entre a Grécia e a União Europeia, chega-se às eleições de Janeiro deste ano, ganhas pelo partido progressista de Tsipras, o Syriza. O seu programa era claro: parar o plano de austeridade da troika – FMI, UE e BCE –, imposto em nome dos países europeus liderados pela Alemanha, Países Baixos, Áustria e Finlândia.

A Grécia está de rastos. Oficialmente, o desemprego passou de 11,9% em 2010 para os actuais 25,5%. Mas sabe-se que, na realidade, se situa à volta de 30% e que, entre os jovens, se aproxima de 60%. O PIB caiu 25%, os cidadãos gregos perderam cerca de 30% por cento das suas receitas e a despesa pública diminuiu tanto que até os hospitais têm grandes dificuldades de funcionamento.

No entanto, a exigência da troika é simples: cortar e continuar a cortar até à eliminação do deficit. As pensões, por exemplo, já sofreram dois cortes e pede-se mais uma redução. Esta renderia apenas cerca de 100 milhões de euros e causaria enormes prejuízos aos pensionistas que vivem com 685 euros por mês, ou até menos.

Quando Juncker assumiu a presidência da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, anunciou um grande Plano Marshall para a Europa. Mas ficou pela proclamação: o projecto desapareceu totalmente de cena.

A austeridade é o fosso que divide as opções dos EUA e da UE. Os Estados Unidos escolheram o caminho do investimento para o crescimento - apesar da pressão do Partido Republicano a favor da austeridade – e a economia está de novo a crescer. Pelo contrário, a UE é dirigida pela Alemanha e os alemães estão convencidos de que aquilo que fizeram no seu país é válido para todos.

Há um consenso generalizado de que a crise na Grécia, que representa apenas 2% do PIB da UE, podia ter sido resolvida quando começou, com um empréstimo que iria de 50.000 a 60.000 milhões de euros (56.600 a 67.800 milhões de dólares).

Mas desde que Tsipras se tornou primeiro-ministro e, com o apoio de apoio popular, começou a recusar em bloco o plano de credores, a Grécia converteu-se em tema de grande importância. Agora fala-se de um «Grexit», ou saída da Grécia do euro e da UE, que teria um efeito de cascata e significaria o fim do sonho comum de uma Europa baseada na solidariedade e no sentido de comunidade.

No G-7, Obama insistiu no investimento e no estímulo à procura como uma forma de sair da crise. Merkel afirmou, uma vez mais, que a Europa não precisa de estímulos financiados por endividamento, mas de incentivos que resultem da reforma de economias ineficientes.

Este espectáculo recorda-me uma frase do prestigiado jornalista do Sri Lanka TarzieVittachi: «Tudo é sempre sobre outra coisa».

É interessante sublinhar que uma das razões dadas para se ser tão duro com o Syriza é que os cidadãos de Espanha, Portugal e Irlanda, os primeiros que engoliram a pílula amarga da austeridade, ficariam indignados se se optasse por um caminho diferente para a Grécia. Acontece que estes três países têm governos conservadores...

Todo o sistema político europeu estremeceu quando o Syriza venceu as eleições, e de novo há alguns dias com a vitória de Podemos (o partido de esquerda, que se opõe à austeridade) nas eleições locais em Espanha.

Por alguma razão, o governo extremamente autoritário e conservador húngaro de ViktorOrbán, a recente vitória da muito conservador Andrzej Duda como presidente da Polónia, assim como a ascensão, em Itália, de Matteo Salvini, da antieuropeia e xenófoba Liga Norte, não criam pânico.

Isso acontece porque é na Grécia que se esconde o verdadeiro adversário do «status quo»: é preciso castigar uma figura anti-sistema como Tsipras e demonstrar que a esquerda radical não pode dirigir um país europeu.

Mas será que alguém realmente acredita que as massas de cidadãos em Madrid, Lisboa ou Dublin encheriam as ruas para protestar, se a Europa desse um salto mortal de solidariedade e de idealismo e decidisse reduzir as exigências draconianas que faz à Grécia?

Texto original aqui.


[Publicado originalmente no Observatório da Grécia]
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Perguntar não ofende



Não haverá por aí algum jornalista que consiga arrancar a António Costa o que ele (não necessariamente o PS) pensa, neste preciso momento, sobre o estado actual das negociações sobre a Grécia, ou seja, sobre credores versus governo grego? É que já sabemos o que opinam alguns dos seus comparsas europeus e também Cavaco Silva.

(Já agora, pergunta idêntica para Sampaio da Nóvoa.)
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Tsiptas dixit


«Κουβαλάμε στις πλάτες μας την αξιοπρέπεια ενός λαού, αλλά και την ελπίδα των λαών της Ευρώπης. Είναι πολύ βαρύ το φορτίο για να το αγνοήσουμε.
Δεν είναι ζήτημα ιδεολογικής εμμονής. Είναι ζήτημα δημοκρατίας.
Δεν έχουμε το δικαίωμα να θάψουμε την ευρωπαϊκή δημοκρατία στον τόπο που γεννήθηκε.

«Nós carregamos às costas a dignidade de um povo, mas também a esperança dos povos da Europa. É carga demasiado pesada para a ignorarmos.
Não é uma questão de obsessão ideológica. É uma questão de democracia.
Não temos o direito de enterrar a democracia europeia no lugar em que nasceu.» 
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O FMI que ainda anda por aqui



«Um menino entra pela mão da mãe numa pastelaria. Lá dentro uma senhora come um bolo. O menino olha sofregamente para o dito, transmitindo sinais de uma fome avassaladora. A senhora condói-se e oferece um bolo ao menino que o come num ápice. A mãe pergunta então ao filho: o que se diz à senhora? E o menino responde, com um misto de desfaçatez e ausência de boas maneiras: – quero outro.

A anedota é conhecida. Com uma mudança de protagonista. O menino é o FMI. Ou melhor, os seus técnicos, que se mostram insensíveis e vorazes. Depois de uma nova missão técnica a Portugal, o FMI insiste em mais cortes nos salários e nas pensões e diz que só assim será possível ao Governo cumprir a meta do défice de 2,7% para este ano.

Esta atitude é abusiva e revela a soberba dos tecnocratas. Para os técnicos do FMI, os políticos e os governantes de um país deviam ser apenas os amanuenses que aplicam as disposições que eles decidem abstractamente no recato dos seus gabinetes. (...)

Naturalmente, as conclusões do FMI agradam à oposição e indispõem o Governo. Só que, tanto para um como para os outros, aceitar que o Fundo concentre as atenções do debate político, é uma faca de dois gumes. O mesmo PS que agora usa os alertas dos técnicos para atacar o Governo, tem de aceitar como válidas as críticas que o FMI possa fazer quando e se chegar ao poder. E o actual Governo não pode agora atirar pedras do Fundo e a seguir exibi-lo como trunfo, caso as avaliações futuras lhe interessem.

Ou seja, o poder político legitima a intromissão do FMI e com isso deixa-se aprisionar por um outro poder, o tecnocrata, que se mostra cada vez mais prepotente e insaciável.

Depois queixam-se…»

Celso Filipe

14.6.15

Parabéns pelos 71, Chico



Francisco Buarque de Holanda nasceu em 14 de Junho de 1944.

Parabéns, mas manda(-nos) algum cheirinho de alecrim, pode ser?








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Grécia: líderes socialistas alemães e italianos ao lado dos credores



Sigmar Gabriel, líder do SPD e vice-chanceler alemão, e Matteo Renzi, líder do PD e primeiro-ministro de Itália, distanciam-se de Atenas no momento crucial das negociações em Bruxelas 

Ler mais AQUI.


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Dica (73)

Europeus contra europeus e no fim ganha a China



«A União Europeia está muito longe de ter qualquer estratégia face à China, que ultrapasse as relações comerciais e a competição interna para ser o melhor amigo de Pequim. A última triste demonstração pública foi a corrida desordenada entre os grandes países europeus para serem fundadores do novo Banco Asiático de Investimento e Infra-estruturas de iniciativa chinesa. O problema é que a China tem uma estratégia para a Europa que está a pôr em prática meticulosamente. (...)

A crise europeia ofereceu-lhe uma oportunidade de ouro que não vai desperdiçar. Enquanto olha, horrorizada, para a forma como os europeus se gerem a si próprios, vai aproveitando a vulnerabilidade dois países do Sul e do Leste para criar as bases que lhe podem abrir caminho para a Europa mais rica em áreas que considera fundamentais, incluindo de alta tecnologia. E se há exemplo acabado desta estratégia, ele está em Portugal. O capital chinês, estatal ou privado, comprou algumas empresas estratégicas (por exemplo, a REN), lançou-se nos seguros (com a compra da Fidelidade à CGD) e prepara-se agora para entrar na banca com a aquisição do Novo Banco. Os chineses ganham porque pagam mais do que os outros e não porque trazem consigo melhor gestão e melhor tecnologia. O que é mais preocupante é que ninguém discute sobre isto, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não passa pela cabeça dos nossos governantes olhar para o que se está a passar no Mar da China do Sul. A generalidade dos analistas acha que, em tempo de “guerra”, não se limpam armas.» (Realce meu.)

Teresa de Sousa