«Oito anos do processo Tutti Fruti, que sempre me pareceu ser pouco mais do que uma soma de casinhos sob um chapéu que o fizesse parecer mais do que era, e as coisas acabam de forma interessante: os principais alvos políticos ficaram fora da acusação. Sobram ilustres desconhecidos. Isto é importante? Não seria se os nomes sonantes não tivessem aparecido para servir a prioridade de alguns setores do Ministério Público: o máximo de estardalhaço mediático. Quem teria ligado a um processo com vereadores anónimos, presidentes de junta e assessores?
Olhando para os nomes dos acusados, percebe-se que, para alem de serem quase todos do PSD, incluindo o líder da Concelhia e da Federação Distrital de Lisboa, estão quase todos ao nível das Juntas de Freguesia. O crescimento das juntas, imposto pela reforma administrativa, levou ao que há muito acontece na maioria das câmaras: orçamentos generosos sem escrutínio mediático e político rapidamente degenerarem em situações menos claras.
A investigação não seria um flop se o MP não a tivessem transformado, através de fugas cirúrgicas de informação e buscas com grande aparato, quase sempre agarradas ao calendário eleitoral, num processo político. Como começa a ser hábito, fazem-se vítimas pelo caminho mas, no final, é a justiça que fica mal. Até porque, numa postura defensiva que denuncia má-fé, o MP arranjou forma de passar a ideia que quem não acusa devia ser acusado. Também não é a primeira vez que o faz.
O Ministério Público fala de comportamentos que se “desviam e atropelam as normas do exercício das funções públicas”, sendo, por isso, “ilícitos”. Ao pôr isto no despacho em que Medina foi ilibado, o MP quis ter a última palavra sem que o antigo presidente da Câmara se pudesse defender. Se houve actos “ilícitos” e não apresentam prova sustentada os procuradores reconhecem a sua incompetência.
Não é por moralismo que o MP se dedica a isto. É para justificar os oito anos em que, sobretudo em vésperas de eleições, pôs Medina em lume brando sem que ele fosse sequer arguido (foi no fim do processo). E é por isso que dizem ter extraído mais certidões para o continuar a investigar. Não tendo ponta por onde se pegue, sobrou a insinuação de que se não cometeu um crime, pecou. E a confissão da enorme vontade de o acusar.»
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