30.1.10

Matusalém (10)




Título que soa agora a pesadelo para Obama.

(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

Os nossos novos emigrantes




Nasceu em Luanda, fugiu da guerra civil e chegou à África do Sul, viveu por lá uns anos e receou de novo a violência. Regressou a Angola e veio mais tarde para Portugal onde está mais de dez anos – o El Dorado há tanto esperado, sobretudo desde que, alguns anos e cinquenta e cinco burocracites depois, guardou religiosamente na carteira o famigerado papel que passou a legalizar-lhe a residência e a garantir livre circulação no espaço Schengen.

Por cá nasceram três dos quatro filhos, limpou escritórios das 6 às 10 da manhã, arrumou casas das 11 às 16 – entre elas esta –, gastou milhares de horas da vida em transportes para vir do lugar onde vivia, longe na margem Sul.

Na segunda-feira parte para França com a família. Vai juntar-se a dois irmãos numa pequena cidade, algures perto da fronteira com a Suíça, enxotada de cá pela crise: a empresa que a sub-sub-contratava para limpeza de escritórios dispensou muito pessoal, as ucranianas substituíram africanas nos arrumos domésticos. O marido, operário da construção civil, que estava há seis meses sem trabalho - nem precário, nem sazonal, nem a dias - já tem garantido emprego em França, a escola para as crianças está assegurada e é gratuita, mesmo em frente da casa que uma irmã lhe arranjou com uma renda que nem é muito cara.

Longo percurso o desta mulher que tem pouco mais de quarenta anos e que se julgava finalmente instalada no país com que partilha a língua. Duas pessoas a menos para as estatísticas do desemprego em Portugal, seis que deixarão de fazer fila à porta do Centro de Saúde ou nas urgências do Garcia da Horta. É assim.

Na rua 23




Quando havia medo em Portugal, só teclávamos em máquinas de escrever e usávamos folhas de papel muito fino com papel químico intercalado. Algumas décadas mais tarde e três séculos depois da invenção dos direitos humanos, a resistência passa por computadores e por telemóveis, mas não deixa de haver «terror», como no caso de Yoani Sánchez:

«Siento un terror que casi no me deja teclear, pero quiero decirles a esos que hoy me amenazaron junto a mi familia, que cuando uno llega a cierto grado de pánico ya le da igual una dosis mayor. No voy a parar de escribir, ni de twittear; no tengo planes de cerrar mi blog, no abandonaré la práctica de pensar por cabeza propia y –sobre todo– no voy dejar de creer que ellos están mucho más asustados que yo.»

29.1.10

Matusalém (9)




(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

Águeda versus Boliqueime?




Segundo o Público e várias outras fontes, Francisco Assis terá dito ontem a militantes do seu partido que o PS deve estar unido para derrotar Cavaco Silva nas próximas eleições presidenciais, dando o seu apoio a um candidato «seja ele qual for». E acrescentou o que é óbvio: que é necessário que a esquerda aposte numa única pessoa para que haja hipóteses de vitória.

Entendo mas discordo deste tipo de posições, sobretudo da parte de alguém com as responsabilidades de Francisco Assis que até já declarou o seu apoio pessoal a Manuel Alegre. Reforce esse apoio junto dos seus militantes, em vez de os convocar pela negativa para uma espécie de claque num desafio de futebol.

Estou farta de ver pessoas à minha volta, sobretudo socialistas, que dizem que votarão em Alegre de olhos vendados, com um sapo entalado na garganta e com dez pedras no sapato. Como se o PS não fosse o único culpado da situação que criou: desde 2006, teve mais do que tempo para preparar o caminho a um outro candidato, se não queria ver-se «obrigado» a apoiar hoje Manuel Alegre. Talvez não o tenha feito porque, até há meia dúzia de meses, se sentisse confortável com Cavaco. Mas agora que a situação parece ter mudado e que Alegre se adiantou – e bem, do seu ponto de vista – decidam-se: ou partem para uma campanha pela positiva, sem «mas» nem «apesares de», ou fazem uma triste figura, provocam provavelmente uma monumental abstenção e dão talvez uma preciosa ajuda ao que dizem querer evitar: que o doutor Cavaco fique mais cinco anos em Belém.

Diz-se que não se gosta de Alegre pelas mais variadas razões, mas sem apontar qualquer alternativa credível e sobretudo viável. Porque, no fundo, é o velho sebastianismo que vem sempre à tona: o sonho de um príncipe perfeito que ainda está para nascer, a espera pelo quinto buda que incarnará toda a sabedoria do universo. O fado.

E eu a pensar que a minha indignação com o que se passou no Irão era genuína




«Como aconteceram as manifestações pós-eleições iranianas? Foi por causa da guerra online lançada pela América através de vídeos no YouTube e conteúdo no Twitter, espalhando rumores, criando divisões, provocando e semeando a discórdia entre os simpatizantes dos conservadores e facções reformistas.»

(China, «Diário do Povo», via «Avante!»)

Matusalém (8)




Ouvi-os em 4 de Setembro de 1970, no Råsunda Stadium, em Estocolmo. E lembro-me muito bem disto:

«The show at Råsunda stadion in Stockholm on September 4 was interrupted by police who feared that fans, provoked by Jagger, would storm the stage. The singer duly responded by pointing the microphone to the police on stage and soon after suggested the audience would sit down for the next song (the slower "Love in Vain".»

(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

28.1.10

Uma bela filosofia de vida
















(Via Jakk no Facebook)

Socialismo honorário




Quando a Madeira regressa à boca de cena, em ínvias negociações das quais sei que só entrevejo a ponta do iceberg, e com dramatizações que vão até à ameaça de queda do governo de Sócrates, recorde-se que Almeida Santos terá sentido recentemente a obrigação de elogiar a obra de Jardim. Só ele saberá porquê, já que se encontrava numa simples actividade do PS Madeira e nem sequer em visita protocolar. Mais: as suas afirmações provocaram incómodo no seu próprio partido.

Jardim é a tal ponto politicamente repugnante que qualquer louvor que lhe seja dirigido soa a bofetada na decência e na democracia. Ou então estamos no tal «Soialismo honorário» de que fala Manuel António Pina:

«Como naquele anúncio de um hipermercado, ainda sou do tempo em que o arroz carolino custava um tostão e em que o socialismo tinha como valores estruturantes a liberdade e a igualdade. Para alguns dos por assim dizer notáveis que hoje transportam o inerme facho do socialismo, isso foi chão que deu uvas.
Às alcatifas do seu socialismo "moderno" não chegam já as distantes vozes dos "humilhados e ofendidos" e dos "condenados da terra", e a liberdade que espere sentada na antecâmara dos valores mais altos que entretanto se alevantaram das "infra-estruturas urbanísticas, rodoviárias e turísticas". Daí os elogios do "presidente honorário" do PS, Almeida Santos, à "obra positiva" de Jardim no encerramento do Congresso do... PS-Madeira. Pelo suave milagre das "infra-estruturas", esfumaram-se nas brumas da memória deste neo-socialismo o "défice democrático", o caciquismo, a liberdade vigiada e a miséria e exclusão ocultas atrás do "glamour" dos hotéis de luxo. De fora da gaveta onde Soares o meteu, o PS havia guardado do socialismo algumas palavras "ad usum" eleitoral. Agora, pelos vistos, já nem isso.»

E talvez seja altura para recordar outra personalidade, outras declarações.

Há mistérios que me ultrapassam.

Na mesma noite, «small differences»




«O presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, afirmou hoje que a banca teve "um comportamento espectacular nesta crise" e declarou mais à frente ter pena pelo facto de o Estado português ter agravado os impostos ao sector. (…) Os lucros do banco subiram 29,8 por cento no ano passado face a 2008, a atingirem 522 milhões de euros.»
(Fonte)
(Ricardo Salgado referia-se à «decisão do Governo de tributar em 50 por cento, e a título excepcional, os bónus dos gestores do sector financeiro».)

Obama, Discurso sobre o Estado da União (pode ouvir aqui e ler, em paralelo, o texto em castelhano):
«Proponho que peguemos em 30 mil milhões de dólares de lucros dos bancos de Wall Street e os utilizemos para ajudar os bancos de proximidade a fornecer às pequenas empresas o crédito de que têm necessidade para continuar à tona.»


P.S. - «A prioridade que [Obama] deu à criação de empregos faz corar qualquer governante europeu, desses que julgam saber o que Washington é.»

27.1.10

Matusalém (7)




Atlantis
The continent of Atlantis was an island
which lay before the great flood
in the area we now call the Atlantic Ocean.
So great an area of land, that from her western shores
those beautiful sailors journeyed
to the South and the North Americas with ease,
in their ships with painted sails.

To the East Africa was a neighbour, across a short strait of sea miles.
The great Egyptian age is but a remnant of The Atlantian culture.
The antediluvian kings colonized the world
All the Gods who play in the mythological dramas
In all legends from all lands were from fair Atlantis.

Knowing her fate, Atlantis sent out ships to all corners of the Earth.
On board were the Twelve:
The poet, the physician, the farmer, the scientist,
The magician and the other so-called Gods of our legends.
Though Gods they were -
And as the elders of our time choose to remain blind
Let us rejoice and let us sing and dance and ring in the new
Hail Atlantis!


(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

PIB: mais 8,7% em 2009




Vi esta foto ontem à noite, com o discurso do dr. Teixeira dos Santos em fundo sonoro.
Quando estes meninos asiáticos caminharem a sério para Oeste, a Europa vai apanhar um grande susto. E talvez acorde.

Há 65 anos, a libertação de Auschwitz




Um excelente dossier:
Viaje al Holocauto

Em especial:
* Viaje al corazón del exterminio
* El horror es una cosa familiar

Rifa ou lotaria?


Matusalém (6)




Chico Buarque


Inesquecível: Lisboa, 1966, Teatro Avenida.

(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

26.1.10

PIDE, 25 de Abril de 1974 – Agora com som




25/4/1974, 21:00 horas:
PIDE/DGS
Agentes da PIDE vendo a sua sede cercada de população abrem fogo indiscriminado tendo efectuado 4 mortes e 45 feridos que serão socorridos pela Cruz Vermelha e encaminhados para o Hospital S. José e Hospital Militar.

Oiçam, sff:



Entretanto, em Janeiro de 2010, ainda não se conseguiu que a GEF, Empresa Imobiliária responsável pelo actual condomínio de luxo que ocupa o edifício que foi sede da PIDE, o «Paço do Duque», reponha a placa com os nomes dos mortos de que acabámos de ouvir falar, no seu local de origem – segundo julgo saber, porque este se encontra perto da porta principal por onde entrarão os moradores e as suas ilustres visitas.

Tudo – até a paciência – tem limites.



P.S. 1 - Por razões que me transcendem, porque uso sempre o mesmo programa para fazer upload de mp3, há quem não consiga ouvir o que aqui inseri. Pode ser tentada a audição aqui, mas essa, sim, exige software que nem toda a gente tem instalado. Sorry...)

P.S. 2 - Se alguém quiser o som inserido neste post, em formato mp3, basta pedi-lo para o meu email.

O meu «post» reaccionário desta semana




Como a discussão do Orçamento é pouco sexy e o PS nunca mais se decide a apoiar Manuel Alegre, nada melhor para alimentar comentadores, jornalistas e bloggers do que o drama da TAP. Junto-me a eles.

O que se sabe sobre a origem da catástrofe? Que um piloto disse no Facebook que não tinha gostado de viajar em classe económica quando tinha direito a fazê-lo em Executiva e que oito colegas o apoiaram. Como? Protestaram contra a compota de pêssego do último almoço a bordo? Lamentaram ter perdido dois carneiros no Farmville por causa dos atrasos nos voos? Disseram que todos os administradores da empresa são ladrões? Ameaçaram pôr uma bomba no próximo voo Lisboa – Luanda? Não se sabe ou, pelo menos, ainda não o vi escrito onde quer que seja. E faria toda a diferença sabê-lo.

Nem discuto a questão de perceber se um curso para que foram convocados é um «castigo» ou não, porque eles dizem que sim e a TAP nega-o. Mas já está envolvido o Ministério do Trabalho, há Assembleias Gerais de Trabalhadores e uma hipótese de greve. Nem no PREC vi algo de parecido, mas adiante.

Regresso ao Facebook.
O que lá se escreve pode ser pessoal mas não é privado - para isso há conversas, telefonemas e mails (pelo menos para quem não alinhe em teorias da conspiração, segundo as quais tudo isto está a ser vigiado). Não se convoque, portanto e em vão, o desgraçado Big Brother porque ele não é para aqui chamado.

Censura nunca mais? Mas qual censura? Alguém apagou páginas no Facebook?
Limite à liberdade de expressão porque um trabalhador nunca deixa de ser cidadão? Certamente, mas um cidadão também não deixa de ser empregado de uma determinada empresa só porque escreve numa rede social. Bom senso precisa-se.

Passei há pouco por uma Caixa de Comentários onde várias pessoas diziam a um desses bloggers escandalizadíssimos que talvez não lhe fizesse mal trabalhar uns tempos numa empresa a sério – com horário de trabalho, patrões e regras de conduta. Não posso estar mais de acordo: digo frequentemente aos meus amigos puramente académicos que nem sabem como esta experiência lhes mudaria a visão da vida e, sobretudo, critérios de julgamento rápido em situações como esta!

Neste caso da TAP, haverá «culpas» de ambas as partes? Talvez, mas todos sabemos, desde há muito, que quando um piloto bate as asas na Portela…

Não pense - obedeça, consuma




(Via Paz Carvalho no Facebook)

25.1.10

Matusalém (5)




Com esta legenda

(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

Chaimites em S.Bento?




Agora não a encabeçar cortejos do PREC, mas, quais tropas de um renascido Pacto de Varsóvia, a esmagar pornógrafos, abortistas e seus apoiantes. Pelo menos a crer o inefável comentador de 2ª feira - César das Neves no seu melhor, a propósito da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo:

«É bastante provável que este tema venha a revelar-se o momento de inversão deste grande ataque contra a família que começou há décadas e tem tido muitas batalhas, da pornografia ao aborto. Fazendo o paralelo com o anterior combate cultural, esta mudança do conceito de casamento pode ser a "Primavera de Praga" dos movimentos antifamília.»

(O realce é meu.)

Presidenciais, sondagens, margens de erro, etc. e tal




Ainda a procissão nem entrou no adro e já muitos engalanam em arco com os resultados da sondagem da Aximage, publicada no Correio da Manhã: 60,3% para Cavaco contra 39,7% para Manuel Alegre. Vêm depois os detalhes: consenso nem dentro do PS, quanto mais da CDU, apenas os eleitores do Bloco parecem bater palmas antecipadas à saída triunfal de Cavaco para a vivenda Mariani.

Mas vale a pena ler quem percebe da poda, neste caso Pedro Magalhães no Margens de Erro:
«Quando se fala das intenções de voto nas presidenciais entre os eleitores que tencionam votar num determinado partido, estas percentagens são calculadas em relação a sub-amostras, nalguns casos de dimensão reduzidíssima. Se a amostra tem 600 eleitores, 60% dizem que não vão votar, e 8% que votariam, por exemplo, na CDU, temos 19 pessoas que votariam na CDU. A margem de erro associada é enorme. "30,6% do eleitorado da CDU votaria Cavaco"? Claro que não.»

Este alerta é também válido para quem tira conclusões optimistas e apressadas sobre o entusiasmo dos eleitores do Bloco.

24.1.10

Andar de metro em Pyongyang




Espero que o iPod já tenha chegado à Coreia do Norte para que, pelo menos os jovens, possam ouvir o que querem quando viajam de metro - e não, em contínuo, hinos gloriosos em honra da nação e do querido camarada Kim Jong-il.


Sem ti, não há mãe pátria:




A canção do querido camarada Kim Jong-il:




(P.S. - E não se queixem do PREC porque nunca tivemos de ouvir isto, nem sequer isto, entre o Rossio e o Marquês de Pombal.)

Matusalém (4)






Não é certamente uma das melhores canções de Jacques Brel, mas há que evitar insistir sempre em Ne me quitte pas.

Além disso, esta ouvia-a em circunstâncias especiais, ao vivo e bem a cores, pouco depois de ser lançada: no cineteatro de Lovaina (terra de flamengos…), onde Brel insistiu em cantá-la apesar de todas as ameaças.
À saída, esperava-o uma enorme manifestação que acabou com bastonadas da polícia e muitas montras partidas à pedrada - les flamands, ce n'est pas mollissant.

(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)

História de um «paste» sem «copy»








... ou: «A traição do botão direito do meu rato».

Referi-me ontem por mail a um post de um colega blogger - em duas ou três linhas, com o respectivo link.

Veio a resposta:
«Hoje é um dos meus dias de estupidez (da aguda, além da crónica). Não entendi patavina e não gostava de passar por maluquinho. O que mandaste é do melhor, soou-me a reflexo psicadélico. E eu nem sequer mudei de marca de cigarros... Help me.»

O texto que eu comentava brevemente era de conteúdo político, puro e duro, o link que enviei apontava para Les feuilles mortes, de Yves Montand.