28.1.10

Socialismo honorário




Quando a Madeira regressa à boca de cena, em ínvias negociações das quais sei que só entrevejo a ponta do iceberg, e com dramatizações que vão até à ameaça de queda do governo de Sócrates, recorde-se que Almeida Santos terá sentido recentemente a obrigação de elogiar a obra de Jardim. Só ele saberá porquê, já que se encontrava numa simples actividade do PS Madeira e nem sequer em visita protocolar. Mais: as suas afirmações provocaram incómodo no seu próprio partido.

Jardim é a tal ponto politicamente repugnante que qualquer louvor que lhe seja dirigido soa a bofetada na decência e na democracia. Ou então estamos no tal «Soialismo honorário» de que fala Manuel António Pina:

«Como naquele anúncio de um hipermercado, ainda sou do tempo em que o arroz carolino custava um tostão e em que o socialismo tinha como valores estruturantes a liberdade e a igualdade. Para alguns dos por assim dizer notáveis que hoje transportam o inerme facho do socialismo, isso foi chão que deu uvas.
Às alcatifas do seu socialismo "moderno" não chegam já as distantes vozes dos "humilhados e ofendidos" e dos "condenados da terra", e a liberdade que espere sentada na antecâmara dos valores mais altos que entretanto se alevantaram das "infra-estruturas urbanísticas, rodoviárias e turísticas". Daí os elogios do "presidente honorário" do PS, Almeida Santos, à "obra positiva" de Jardim no encerramento do Congresso do... PS-Madeira. Pelo suave milagre das "infra-estruturas", esfumaram-se nas brumas da memória deste neo-socialismo o "défice democrático", o caciquismo, a liberdade vigiada e a miséria e exclusão ocultas atrás do "glamour" dos hotéis de luxo. De fora da gaveta onde Soares o meteu, o PS havia guardado do socialismo algumas palavras "ad usum" eleitoral. Agora, pelos vistos, já nem isso.»

E talvez seja altura para recordar outra personalidade, outras declarações.

Há mistérios que me ultrapassam.

2 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Claro que é impossível compreender estes elogios de Almeida Santos, aliás como os semelhantes proferidos há tempos por Jaime Gama.

Só estime uma vez na Madeira, sítio realmente agradável para quem está de visita e com alguns cobres no bolso. calculo que tenha dado um pulo qualitativo desde o 25 de Abril.

Relaciono-me com alguns Madeirenses e já desisti de discutir João Jardim com eles. Não são defensores de JJ, são fanáticos. Nada se pode dizer de negativo sobre a figura.

As eleições têm mostrado que muita gente pensa que a obra se sobrepõe a tudo – o que querem é viver bem.

JJ é um produto (refinado) da ideia de democracia que deixámos criar. Sem escrúpulos deve ser fácil ser-se popular.

Os outros – os profissionais do discurso e da carreira politico-partidária – quando se esquecem que têm espinha, convivem, ou melhor, amocham "cantando e rindo, levados, levados, sim..."

septuagenário disse...

O Almeida Santos concorda que o Jardim da Madeira é "económicamente sério".

Só mesmo a "seriedade" de toda uma geração de advogados que arranjaram lábia para durante estes trinta e tal anos mandarem o povinho para a esquerda enquanto eles se governaram todos à direita.

Socialismo à-la-portuguesa, em que os protagonistas se encostam e sentam em Bancos, em Fundações, enfim todos bem abrigadinhos, para não se griparem.

Mas que logro!