«A disputa crescente sobre a tecnologia é exemplificada em debates sobre a chamada neutralidade líquida e também nas disputas entre a Apple e o FBI sobre desbloquear os iPhone de terroristas. Isto não é surpreendente: à medida que a tecnologia se torna cada vez mais consequente – afectando tudo o que envolve a nossa segurança (armas nucleares e guerra cibernética) e os nossos empregos (perturbações no mercado de trabalho provocadas por software avançado e pela robótica) – o seu impacto tem sido bom, mau e potencialmente feio. (…)
Os pessimistas preocupam-se com a possibilidade de os benefícios da tecnologia para o aumento da produtividade estarem em declínio e com a possibilidade de dificilmente serem recuperáveis. Alegam que tecnologias como a internet e redes sociais não podem melhorar a produtividade na mesma dimensão que a electrificação ou a expansão do automóvel melhoraram.
Por outro lado, os optimistas acreditam que avanços como o big data, a nanotecnologia e a inteligência artificial são os arautos da nova era de melhorias impulsionadas pela tecnologia. (…)
Mas as mudanças tecnológicas provocaram também alterações consideráveis no trabalho, prejudicando muitos ao longo do caminho. No início do século XIX, os receios de tal deslocalização levaram os trabalhadores do têxtil no Yorkshire e Lancashire – os "Luddites" - a destruírem as novas máquinas como os teares automatizados e as máquinas de tecidos.
A deslocalização dos trabalhadores continua hoje, com a robótica a levar à deslocalização de alguns empregos na indústria das economias mais desenvolvidas. Muitos temem que a inteligência artificial traga mais deslocalização, embora a situação possa não vir a ser tão terrível como alguns esperam. Na década de 1960 e no início da década de 1970, muitos acreditavam que os computadores e a automatização levariam a um desemprego estrutural generalizado. Isso nunca aconteceu, porque surgiram novos tipos de empregos para compensar a deslocalização que ocorreu. (…)
Mas as desvantagens da tecnologia são bem mais profundas, com os inimigos das sociedades livres a serem capazes de comunicar, planear e conduzir actos destrutivos de forma mais fácil. O Estado Islâmico e a al-Qaeda recrutam online e dão orientações virtuais sobre como causar estragos. Frequentemente, tais grupos nem sequer têm de comunicar directamente com os indivíduos para "inspirá-los" a perpetrar um ataque terrorista. E, claro, a tecnologia nuclear dá não apenas electricidade livre de emissões, mas também armas destrutivas.
Todas estas ameaças e consequências exigem respostas políticas claras que olhem não apenas para o passado e para o presente mas também para o futuro. Com demasiada frequência, os governos ficam presos em disputas imediatas, como a do FBI e da Apple, e perdem de vista os riscos e os desafios futuros. Isso pode criar espaço para que algo realmente feio aconteça, como, digamos, um ataque cibernético que ponha abaixo uma rede eléctrica. Além das consequências imediatas, tal incidente pode incentivar os cidadãos a exigirem restrições extremamente rigorosas à tecnologia, arriscando a liberdade e a prosperidade na busca pela segurança.
O que é realmente necessário são instituições e políticas novas e melhoradas e cooperação entre a aplicação da lei e as empresas privadas, bem como os governos. Tais esforços não podem ser apenas uma reacção aos desenvolvimentos, mas têm também de os antecipar. Só aí podemos mitigar os riscos futuros, enquanto continuamos a aproveitar o potencial das novas tecnologias para melhorar a vida das pessoas.»
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