23.2.13

Já chegou longe a criatividade nas facturas



(Imagem recolhida ontem no Facebook)  

El País: Nuevo tipo de protesta en Portugal: pedir facturas a nombre del primer ministro

Financial Times: Lisbon anti-austerity groups get creative (só para assinantes) Alguns excertos:

«Anti-austerity campaigners in Portugal are giving the prime minister’s personal tax number when paying for goods and services, in protest at a new anti-tax evasion law threatening fines of €2,000 for withholding tax details at point of sale.

The campaign is the latest in a series of imaginative protests in Portugal, Spain and other struggling eurozone countries that has led to the Portuguese prime minister being silenced in parliament by a song, and the similar disruption of public appearances by two ministers this week. (...)

The government said in a statement that protests of this nature would be “repudiated by all those who valued individual freedoms and the right to free expression”.»

(Segue-se o vídeo de «Grândola» cantada na AR.)
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Something completely different


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Liberdade, onde estás? Quem te demora?



Na íntegra, o texto de José Pacheco Pereira, no Público de hoje. Autor todos os dias citado, muito mais pela esquerda do que pela direita? Sem dúvida. «É a vida!», como diria o outro... 

«Este artigo é um panfleto. Não acrescenta nada de novo àquilo que digo há mais de dois anos, pelo que não tem interesse mediático. Não é distanciado, nem racional, nem equilibrado, nem paciente, nem tem um átomo da imensa gravitas de Estado que enche a nossa vida pública no PS e no PSD, cheia daquilo a que já chamei redondismo e pensamento balofo. Como vêem já disse isto tudo e estou-me a repetir. Não é sequer um artigo feliz, que se faça com gosto e prazer. Prescindia bem de o fazer para falar de outras coisas, refrigérios da alma, como se dizia no passado, seja livros, seja o Inverno, seja algum momento especial, uma descoberta de amador curioso, uma coisa que se aprendeu, uma calmaria hegeliana do espírito, ou uma negatividade divertida e sagaz.

Bem pelo contrário. Não ilumina, não é feito pela curiosidade, é feito em nome da voz que não tem voz e por isso tem muitos adjectivos e podia ser todo escrito em calão, aqueles plebeísmos, grosserias e obscenidades que tem nos dias de hoje a enorme vantagem de não conter hipocrisia, porque são palavras inventadas contra a hipocrisia. Ao menos, vamos hoje usar o esplendor das belas palavras do português contra o abastardamento da língua como maneira de falarmos uns com os outros, de nos entendermos na simplicidade do povo comum, ou na riqueza criativa de uma velha fala, capaz de tudo se a deixarmos à solta, mas magoada e ferida pelo seu uso para esconder vilezas e malfeitorias, e acima de tudo para esconder arrogâncias ignorantes, que é a moeda falsa que para aí circula.

Pode ser porque eu dou valor às palavras — uma sinistra manifestação da condição suspeita de intelectual — que me repugna, enoja, irrita, indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sua sistemática violação pelo governo. Violação, exactamente como as outras violações. Devia haver uma lei não escrita para punir a violência feita com as palavras e pelas palavras, como há com a violência doméstica, a violência contra os mais fracos, o abuso do poder. Devia haver uma lei não escrita para punir o envenenamento das palavras pela desfaçatez lampeira, a esperteza saloia.

De novo, pela pecha de ser intelectual, — um estado miserável nos dias de hoje, “treinador de bancada”, “comentador”, “opinador”, “achista”, “inútil”, “velho do restelo”, “negativista”, ou qualquer outra variante das palavras com que hoje o poder e os seus serviçais entendem diabolizar o debate público que não lhes convém — é que me repugna, enoja, irrita, indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sistemática tentativa de nos enganar, de nos tomar por parvos, de nos despachar com um qualquer truque verbal destinado a dizer que uma coisa é diferente do que o que é, porque convém que não se perceba o que é.

Os exemplos abundam. Por exemplo, chamar aos cortes “poupanças”, como se não fosse insultuoso para quem quer que seja ver a sua vida ficar miserável por uma ”poupança” virtuosa, cuja natural bondade não pode ser atacada. Quem ousa ser contra poupanças? Pode-se ser contra os despedimentos, contra a redução das despesas sociais, contra os cortes, mas não se pode ser contra as “poupanças”. Mesmo quando elas mais não sejam do que cortes, despedimentos, reduções de prestações, reformas miseráveis ainda mais miseráveis, ou, como diz Bagão Félix, “diminuição do rendimento das famílias”. Os espertos assessores de comunicação, que se esforçam todos os dias para dar ao Governo a “política” que o professor Marcelo diz que ele não tem e evitar assim “erros de comunicação”, são os aprendizes de feiticeiros deste quotidiano embuste em que vivemos. Mas estão todos bem uns para os outros.


22.2.13

Os velhos que paguem a crise?



Este é o meu texto de apoio à manifestação do próximo dia 2 de Março, que me foi pedido pelos  organizadores da mesma e que se encontra também no blogue e na página Facebook do evento.

Receio que uma das poucas vitórias que este governo venha a averbar no seu currículo póstumo seja a de ter conseguido aumentar o fosso intergeracional no nosso país.

Ano após ano, mês após mês, chegam cortes de milhões atrás de outros cortes, aos quais podem escapar algumas camadas da população, mas nunca a dos reformados. É bom ter presente, por exemplo, que a chamada CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade) só atinge esta categoria de portugueses e é uma verdadeira monstruosidade que nem as mentalidades mais perversas podiam ter imaginado que um dia viesse a existir.
Em paralelo, o primeiro-ministro e os seus ajudantes não se cansam de afirmar que penalizam os reformados para evitarem que os jovens suportem o pagamento de pensões que eles próprios nunca poderão vir a ter. E, ao contrário do que talvez se pudesse esperar mas que se compreende, este argumento vai fazendo o seu caminho e é bem provável que uma vasta camada da população jovem acabe por interiorizar a posição do governo e, mais ou menos secreta ou inconscientemente, esteja mesmo a aprová-la.

Este modo de o poder considerar hoje como parasitas as gerações mais velhas, para além de ser injusta e ilegítima, é uma estranha forma de «recompensar» aqueles que agora estão revoltados (e de que maneira...) porque lhes rasgaram um contrato que tinham feito com um Estado ao qual tinham confiado os descontos de toda uma vida e até poupanças individuais. E falo de «recompensa» porque se trata de pessoas que viveram décadas em fascismo, que nasceram e cresceram com 24 horas por dia de censura e de polícia política, homens que na sua esmagadora maioria passaram anos na guerra colonial ou no exílio, mulheres subalternizadas que aguentaram as famílias durante a ausência dos pais, dos maridos e dos filhos, antifascistas perseguidos e torturados pela PIDE e até militares de Abril que nos ajudaram a conquistar a liberdade. E se é verdade que foram muitos os que nunca lutaram contra a ditadura, não deixaram por isso de nela viverem mergulhados.

Ceder a esta tentativa de deixar cavar o fosso intergeracional é tanto mais grave quanto a unidade de todos é indispensável para fazer frente a tudo por que estamos a passar. Por isso os mais velhos, que se indignam e se manifestam contra o desemprego e a precaridade dos mais novos, contra a emigração inevitável de muitos e tudo o resto que é conhecido, contam agora com a tal geração mais preparada de sempre e fazem notar que ela é também a mais privilegiada do último século, precisamente porque nasceu ou cresceu já em liberdade – bem que herdou e que não tem preço.
E dizem aos mais jovens que continuarão a estar com eles em todas as frentes, que irão com eles encher as ruas no dia 2 de Março, mas que sabem que é às novas gerações que estão a entregar o testemunho, nesta triste corrida de estafetas de um país ainda formalmente democrático mas já socialmente totalitário. E que os esperam lutas que poderão vir a ser muito duras, mas que lhes compete, agora prioritariamente, encontrar as formas de combate para o momento que passa.

Finalmente: por muito importante e grande que seja a próxima manifestação (e vai ser), é preciso que seja vivida por todos nós como (mais um) ponto de partida e não de chegada. Um arranque para o dia seguinte, um «3 de Março» que não será de festa mas de resistência, passiva e activa, para que não se perca definitivamente o que foi conquistado numa quinta-feira de Abril. Serão os mais novos a liderar as próximas lutas que não serão nada fáceis, como as nossas não o foram. Não se iludam. Nem nos desiludam. 
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Na noite em que vi porcos a andar de bicicleta




Assino por baixo o que o Zé Neves escreveu no Facebook:
«Não votei em António Costa para presidente da Câmara de Lisboa, não vejo no seu mandato motivos para votar nele nas próximas eleições, mas nunca tive vergonha por viver numa cidade presidida por Costa. Mas ao ver este vídeo tenho quase tanta "vergonha do outro" ao ver Costa como tenho ao ver o Relvas a trautear a Grândola. E o que não se perdoa a Costa, de todo não se perdoa, é obrigar-nos a ver o Lobo Xavier como um gajo sensato, para já não falar do Pacheco. »
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Querem facturas?



Na imaginação é que está o ganho.

Informações úteis:

NIF 177142430 – Passos Coelho
NIF: 125507410 – Aníbal Cavaco Silva
NIF 120528223 – Vítor Gaspar
NIF 158792793 – Miguel Relvas
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21.2.13

O estranho caso do iraniano desejado em Coimbra



Anda tudo muito escandalizado porque o IEFP, do Ministério da Economia e do Emprego, publica uma oferta de uma empresa de Coimbra, que procura um Técnico de Relações Públicas iraniano, a quem oferece um contrato a termo certo de seis meses (mais subsídio de refeição de 5 euros), por um salário de 485 euros. Cheguei lá através do Dinheiro Vivo mas fui à fonte, para ver e crer. 

(Clicar para ler melhor)

Quando se lê o perfil desejado tudo fica mais ou menos esclarecido. 
A filha do dono da referida empresa foi de férias ao Irão, encantou-se por um nativo, ele veio cá ter, o rapaz anda por aí aos caídos, a família não permite o casamento por motivos religiosos mas quer ver se lhe arranja uma autorização de residência. 
Outras hipótese: a história de Coimbra e do Irão é só para disfarçar e isto é um anúncio da s Tugaleaks que precisa de um informático encartado e poliglota. 
Mais uma: a dita empresa procura um colaborador que dificilmente aprenda a cantar a «Grândola». 

Se não: cabe na cabeça de alguém que, em Coimbra, no ano da graça de 2013, se procure um empregado iraniano, com casa em Teerão e uma lista de qualificações que nunca mais acaba, por 485 euros / mês? Está tudo doido, o mundo anda nervoso, mas nem tanto assim... 
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Agentes políticos



Ricardo Araújo Pereira escreve hoje sobre o cu de Francisco José Viegas (salvo seja!), entretanto abafado pelo som da Grândola e as peripécias de um ministro que já não devia sê-lo. Um prazer lê-lo, como sempre.

«A entrada fulgurante do cu na vida política portuguesa valoriza simultaneamente o cu e a vida política portuguesa. (...) O cu entra na política por via da cultura, um canal de prestígio cujo acesso costuma estar barrado ao cu, e a política acolhe com agrado a sensualidade e a volúpia do cu, das quais está sempre muito necessitada.»

Na íntegra AQUI.
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Em cada esquina...



Eu sei que as desgraças económicas e financeiras anunciadas ontem por Gaspar são mais importantes, e que anda tudo entusiasmado porque (finalmente!) temos um bispo suspeito de assédio sexual a um ou vários mancebos, mas estas linhas de Viriato Soromenho-Marques, no DN de hoje, são deliciosas. E nós merecemos rir um pouco à custa dessa figura sinistra com a qual, inacreditavelmente, continuamos a esbarrar a cada esquina - e não, não é «um amigo» como na canção.

«Tomei conhecimento do duplo incidente com o ministro Relvas através de uma entrevista televisiva ao ex-ministro socialista Augusto Santos Silva. A indignação deste era tanta, por causa dos maus tratos de que o primeiro teria sido vítima, que julguei ter ocorrido uma nova "Noite Sangrenta" em Lisboa. Pensei que Relvas tinha sido metido numa camioneta, tal como António Granjo, Machado Santos e outros infelizes, assassinados na noite de 19 de outubro de 1921 por marinheiros revoltados. (...) Convidar um homem que nunca escreveu uma linha digna de memória futura, e que só diz trivialidades, para uma conferência no Clube dos Pensadores (!) ou esperar que ele possa encerrar um colóquio sobre o futuro da comunicação social, quando a sua tarefa principal no Governo é a de lotear a rádio e televisão públicas, parecem-me dois gestos insensatos. Ficar condoído com o silêncio forçado de Relvas, e esquecer as vozes inteligentes que a sua ação tem afastado do serviço público de comunicação social, parece-me tão despropositado como acusar a poesia erótica de Bocage de pôr em causa as liberdades fundamentais do intendente Pina Manique.»
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20.2.13

Trivial, mais do que trivial



... mas absolutamente incontornável nos dias que correm.
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Quem quer casar com a Carochinha?



Eu juro que não tirei o dia para embirrar com o PS, mas algumas das suas figuras importantes puseram-se ontem a jeito. Para além das condenações dos apupos a Relvas, registem-se as declarações de Francisco Assis em entrevista à Rádio Renascença, sobre possíveis cenários eleitorais em que o PS venha a precisar de estabelecer alianças.

Não é a primeira vez que Assis afirma que considera ser mais fácil o PS fazer uma aliança à direita do que com os partidos situados à esquerda, mas é notável que mantenha essa posição, apesar de tudo o que tem vindo a acontecer. É verdade que diz ter esperança que PSD e CDS se tornem menos neoliberais e sobretudo..., sobretudo..., oiça-se o elogio que faz a Paulo Portas, na parte final do vídeo... 
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De que se ri?




(Poema de Mario Benedetti.)
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Protestos e liberdade de expressão



Depois de Relvas ter sido alvo de dois protestos em menos de 24 horas, sucederam-se, no serão de ontem, dezenas de tomadas de posição.

Se os comentadores que se identificam com as forças que estão no poder, com honrosas excepções, se precipitaram como seria de esperar para defenderem o ainda ministro, o mais extraordinário é que não estiveram sozinhos. Para citar apenas dois casos, membros do PS com responsabilidades políticas e intelectuais insurgiram-se com veemência contra «o inadmissível ataque à liberdade de expressão». Estou a falar de declarações de Augusto Santos Silva e de Paulo Pedroso, o primeiro em entrevista à TVI, o segundo no seu blogue pessoal.

Para Santos Silva, tratou-se de «manifestações antidemocráticas» com «limitações ilegítimas à liberdade de expressão», agravadas por terem visado um ministro (!), a quem, por isso mesmo, manifesta «solidariedade política e pessoal». Repito: «solidariedade política e pessoal». Já Paulo Pedroso diz que «Portugal está a desaprender a liberdade» e pergunta-se «se o caminho para mudar o estado de coisas passa por impedir os Ministros - ou as oposições, tanto faz - de falarem nas Universidades, lugar por excelência da liberdade.» 

O que está em causa nestas posições não é a liberdade expressão de um ministro, mas a atitude dos cidadãos quanto ao exercício de democracia. Sobretudo ASS, mas também PP, parecem não considerar que este governo perdeu parte da sua legitimidade pelo exercício que está a fazer do poder que lhe foi confiado pelos portugueses e assumem implicitamente que a liberdade democrática se reduz a actos eleitorais, o que não é verdade: a legitimidade mantém-se por uma conquista permanente, no dia a dia, não só de quatro em quatro anos.

Mais: quando todos os limites de má governação parecem ter sido ultrapassados, condenam a terrível transgressão de pequenos grupos de cidadãos que, pacificamente, interrompem ou impedem o mais trapaceiros dos ministros de dizer umas patacoadas. (Que o façam numa Universidade parece impressionar especialmente PP, para quem os jovens do ISCTE se terão transformado ontem em membros do Pussy Riot, profanadores de catedraisl!)

O que diriam, ou dirão, estes dois socialistas se viermos a assistir a protestos bem mais musculados? Nem dá para imaginar... Algum espanto ou novidade com estes ventos provenientes do PS? Não, obviamente. Mas é bom que fiquem registados para memória futura. 
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19.2.13

Relvas também não dormirá bem esta noite


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Relvas: ministro mas só por Skype?




Depois de mais esta, hoje...
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Importam-se de repetir

E por falarmos em corda



... na tal corda da austeridade sobre os portugueses, que Passos Coelho admite já estar esticada:

Era uma vez um pescador que resolve ir tirar a carta de marinheiro. Chegado à Capitania, disseram-lhe que precisa de fazer um teste.

Quando lá chegou, o Chefe da Capitania perguntou-lhe:
- Imaginemos que está no mar e, de repente, vem um vento forte. O que faz o senhor?:
- Dou-lhe corda.

- E se o vento se tornar cada vez mais forte?
- Dou-lhe mais corda.

- E se levantar um vendaval?
- Dou-lhe ainda mais corda.

- E se o vento for na ordem dos 130 a 150kh?
- Aí dou-lhe muito mais corda.

O Chefe da Capitania pergunta-lhe já irritado:
- Onde é que você vai buscar tanta corda?
- Ao mesmo sítio onde você vai buscar tanto vento.

Se PPC não pode esticar mais a corda é porque ninguém sabe onde ir buscar mais vento. Vai partir-se a corda.

(História encontrada aqui.)
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Cara mais parva não há




Ontem à noite, no Clube dos Pensadores.
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18.2.13

Comunicado da APRe!



APRe! ( Aposentados, Pensionistas e Reformados)

Comunicado para a imprensa

A Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados, APRe!, está a acompanhar com toda a atenção as conjecturas, especulações e artifícios dos nossos governantes e de toda a imprensa nacional sobre os cortes dos quatro mil milhões de euros. Registamos e lamentamos a opacidade com que o Governo tem tratado este melindroso assunto, a qual qualificamos como manifesta falta de respeito pelo cidadão. Nós, reformados, especialmente interessados em matéria de pensões, repudiamos ser tratados como servos de um regime senhorial. Nós cumprimos as nossas obrigações, pagámos e merecemos as nossas pensões. Este Governo não cumpriu, há-de pagar e não merece governar.

No domínio das pensões do regime contributivo podemos demonstrar que é o Estado quem deve aos regimes da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social e não estes que devem ao Estado. Este Governo quer aproveitar a embalagem da TROIKA para alterar esta importante vertente do contrato social, não estando mandatado para isso. Deve submeter-se a votos.

Parece-nos oportuno recomendar ao Governo que em vez da urgência em cortar no Estado social o Governo dê prioridade ao seguinte:

a) Recuperação dos milhares de milhões de euros que colocou no BPN;
b) Recuperação dos milhares de milhões de euros que colocou no BCP; BANIF e BPI;
c) Correcção dos desmandos da gestão da Caixa Geral de Depósitos;
d) Adopção duma politica de crescimento económico que atinja o valor nominal do PIB do ano de 2011;
e) Deixar de pagar aos gestores públicos do sector financeiro e não financeiro vencimentos e prémios superiores ao abonado ao Senhor Presidente da República;
f) Promoção de uma auditoria independente á CGA que apure o montante em dívidas, em consequência do Estado não ter transferido os montantes correspondentes à taxa social única, relativamente à massa salarial dos funcionários públicos, bem como uma auditoria ás dívidas (históricas) do Estado ao regime previdencial da Segurança Social. Estas auditorias devem ser acompanhadas por cidadãos independentes de reconhecido mérito e idoneidade.

Só após a concretização destas medidas, o Governo poderá ter alguma moralidade e idoneidade para poder equacionar alterações no Estado Social. A APRE! fará tudo o que estiver ao seu alcance para defender o Estado Social, em especial, em matéria de pensões.

Em 16 de Fevereiro de 2013

A Coordenadora
Maria do Rosário Gama

(Daqui)



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Ide e lede



God has left the building, porque bloggers como o Luís januário já não há muitos.

«Deus já não está no Vaticano. Apenas cardeais, conspirando nos intervalos de uma partida de futebol. Resignaram o Papa ou o Papa resignou-se.» 
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Europa: o massacre do Dia do Namorados



Este título resume, de certa forma, a conclusão a tirar dos números do crescimento da Europa no quarto trimestre de 2012, publicados em 14 de Fevereiro. O declínio de 0,6% na riqueza da zona do euro é o terceiro maior colapso registado desde 1995, o que acaba de a transformar num território em recessão, já que o seu PIB se contrai há três trimestres. E desta vez ninguém foi poupado – nem sequer a França e a Alemanha.

O Dia dos Namorados é propício a ilusões e todos tentam tranquilizar-nos identificando este desastre com o pico da crise. Tanto políticos como economistas garantem que o futuro é radioso e que «o pior já passou». Por uma triste ironia da história, os líderes europeus, que já se regozijaram com a morte do comunismo, limitam-se hoje a prometer aos seus povos «amanhãs que cantam» graças à consolidação orçamental.

E, no entanto, é já evidente que a austeridade não resultou, nem resultará. Alguma dúvida?

Tradução livre de excertos deste texto (em francês). 
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Uma pedrada no charco



Paulo Varela Gomes escreveu este texto que foi publicado, entre muitos outros, na página do Facebook e no blogue «Que se Lixe a Troika! Queremos as nossas Vidas», mantidos pelos organizadores da manifestação do próximo dia 2 de Março. Uma pedrada no charco, que aqui fica para reflexão.

A mais conhecida frase de Gandhi é:
«Não há qualquer causa pela qual esteja disposto a matar. Mas há causas pelas quais estou pronto a morrer.»

Estas palavras resumem a perspectiva de luta com que hoje se defrontam centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, mas em especial no Ocidente (Europa e continente americano). Estamos na última das extremidades: está em jogo a vida das pessoas. Primeiro seremos reduzidos à pobreza. Depois farão de nós o que bem lhes aprouver.

A maioria das pessoas no Ocidente já há duas ou três décadas percebeu aquilo que a esquerda ocidental mostra extrema relutância em aceitar: que não vale a pena nem é possível combater apenas por meios legais o capitalismo sustentado parlamentarmente.

A maioria das pessoas pensa que os políticos são uns aldrabões ou corruptos, que o sistema judicial está ao serviço deles e que só os ricos e poderosos se safam. O chamado «descrédito do sistema político», assunto sobre o qual se têm tecido profundíssimas reflexões, é simples de explicar: o sistema está desacreditado porque não merece crédito. As pessoas já perceberam. Uma parte delas continua a votar por desfastio, a outra vota com os pés.

A esquerda parece estar convencida de que escapará entre as gotas desta bátega torrencial de desilusões recorrendo à luta dentro do sistema: o discurso parlamentar, as eleições, a ocasional coluna nos jornais ou prestação televisiva, etc. Triste engano. A maioria das pessoas não distingue um deputado do PCP de um do PSD, para referir casos portugueses. Estão todos no mesmo sistema.

Dizer coisas como esta pode parecer o regresso a um dos mais velhos debates da esquerda ocidental: como combater o sistema capitalista e o seu parlamentarismo? A partir de dentro ou a partir de fora?

Parece, mas não é. Pela primeira vez desde o século XIX, o sistema não tem alternativa nem teórica nem prática, quer dizer, não pode ser substituído. Mas têm alternativa os seus governos e regimes mais injustos e corruptos. É indispensável resistir-lhes, desgastá-los, desregular-lhe os mecanismos de funcionamento, derrubá-los.

Para resistir desta maneira não se pode agir apenas com os meios que o sistema permite. Quando se convoca a greve geral nº 354, a grande manifestação nº 1723, ou se assina o manifesto nº 10 655, só se está a desacreditar a greve geral, a manifestação e o manifesto, respectivamente.

Todavia, as greves e as manifestações podem atingir uma dimensão verdadeiramente surpreendente se pararem de facto o país, se encherem de facto as cidades. É por isso que vale a pena investir em manifestações como a de 15 de Setembro ou a de 2 de Março próximo. Para surpreender e assustar os poderosos.

Deve pensar-se que a resistência armada ao sistema está sem qualquer dúvida na ordem do dia e será uma realidade mais cedo do que tarde. Todavia, é muito perigosa tanto do ponto de vista ético como político. O passado demonstrou-o muitas vezes.

Mais importante e efectiva é a resistência desarmada, a resistência passiva. É preciso seguir o lema de Gandhi.

Em vez de termos cinco mil pessoas em frente de S. Bento, é preciso ter cinquenta mil, deitadas nas escadas em levas sucessivas, sofrendo as cacetadas da polícia, aguentando os canhões de água, sendo presas.

Há cinquenta mil pessoas em Portugal dispostas a isto?

Não me parece. Nem sequer cinco mil.

E porquê?

Por muitas razões que todos conhecemos e uma que nos recusamos a reconhecer: porque a esquerda é vítima do seu servilismo parlamentar e acredita só poder existir enquanto tiver lugares no parlamento e aparecer na televisão ou nos jornais a apertar a mão do PR. De facto, a esquerda não promove e até condena a resistência passiva. A primeira coisa que diz um sindicalista ou dirigente da esquerda após convocar uma manifestação é que será «pacífica». A primeira exclamação que lhe sai da boca mal alguém se agita é «calma camaradas!»

Esta é a responsabilidades negativa da esquerda.

Olhemos agora para as suas responsabilidades positivas:

É sua estrita obrigação política e ética apoiar, promover e assumir o rosto da resistência passiva. Se o fizer dará o exemplo e a resistência poderá crescer. Para isso, os seus representantes, e com eles os intelectuais de esquerda e os independentes que estão contra o sistema, terão que estar prontos para resistir.

Se não há cinquenta mil pessoas dispostas a aguentar em frente do Parlamento, há dezenas de deputados que deveriam estar dispostos a: boicotar activamente sessões parlamentares, impedindo o Parlamento de funcionar; não pagar impostos e incitar ao não pagamento; sentar-se numa linha férrea em ocasião de greve dos comboios, etc., etc., etc.

Perdiam o mandato? Iam presos?

Nas presentes circunstâncias, vivendo nós sob um regime ilegítimo eticamente e tirânico politicamente, o lugar mais honroso onde podem estar Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins é a prisão.

(Pessoalmente, sentir-me-ia muito mais contente comigo mesmo e com este texto se tivesse saúde para agir em conformidade com o que aqui escrevi.)
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17.2.13

Parabéns, Alípio



Alípio de Freitas faz hoje 84 anos, quem o conhece e já o ouviu nunca o esqueceu, quem anda pelo Facebook tem ocasião de o encontrar por lá.

Os que quiserem saber um pouco de uma vida fora de todos os cânones podem obviamente recorrer à Wikipedia, mas o melhor é reservarem também 45 minutos e verem esta bela entrevista, transmitida pela RTP2 em meados de 2011.

Para além de ouvirem o Zeca, evidentemente:


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Almoço, 5 pessoas



A factura: hoje, algures nos arredores de Lisboa.
Não me perguntaram se queria outro papel e eu também não pedi. Chamem a polícia.
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É bem possível


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Experimentalismo e radicalismo ideológico



Como acontece habitualmente em tempos de crise aguda como aquele em que vivemos, o que há muito pouco tempo era ainda inverosímil aparece agora escrito e dito um pouco por todo o lado. Se, há meia dúzia de meses (ou de semanas?...), só a esquerda da esquerda denunciava inequivocamente o experimentalismo e radicalismo ideológico a que estamos a ser submetidos por este governo, por Bruxelas e por troikas várias, não é por acaso que vemos agora gritos de alerta diários, vindos de figuras que se identificam com a direita e que têm ou tiveram peso dentro dos partidos que estão no poder. E não se diga que é apenas ou sobretudo por oportunismo, ou por lutas partidárias fratricidas, que denunciam com estrondo o que vamos sabendo. Porque não é verdade.

Leia-se, hoje, Pedro Marques Lopes no DN:

«Não é só uma revolução económica que está em marcha, é sobretudo uma revolução social. O Governo e os loucos europeus apostaram na revolução, no mais puro radicalismo ideológico. Resolveram testar meia dúzia de princípios ideológicos colados com cuspo e decidiram tornar uma geração praticamente inteira num exército de inúteis, de gente dispensável, de pessoas que não encaixam, que viverão à margem.

Só que uma comunidade não subsiste, não coopera, não prospera, dividindo os seus cidadãos em obsoletos e modernos, em velhos e novos, em úteis e inúteis, em funcionários privados e públicos, em empreendedores e não empreendedores (...)

Num país com um exército de desempregados, minado pela pobreza, com as prestações sociais muito diminuídas, a democracia será apenas um detalhe sem importância. Pouco tempo sobreviverá.

Quanto tempo ainda teremos? De quanto tempo mais precisará a Europa para perceber que está a destruir um país? De quanto tempo mais precisará Passos Coelho para entender que tem de inverter o rumo? Nós já temos pouco, muito pouco tempo.» 
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