25.9.10

Ciganos - «O que terá começado primeiro, a expulsão ou a recusa de entrar?»


Foram publicados hoje dois importantes textos na imprensa portuguesa:

DN, Fernanda Câncio - Os sentimentos destes ocidentais
Uma estudante de enfermagem e outro de engenharia física, um estagiário de advocacia e um educador falam de estereótipos, de integração e assimilação, de estigma e exclusão, de pertença e de recusa. e dessa linha que faz a diferença entre o eles e o nós, os 'ocidentais' de cá e de lá.

Suplemento «Actual» do Expresso, pp. 38-41 (sem link, mas em breve online e devidamente assinalado aqui), José Gabriel Pereira Bastos - Sobre a questão cigana
A decisão do Presidente Sarkozy de expulsar os ciganos não é um caso circunstancial, insere-se numa longa história de racismo e ciganofobia. O caso português. Culturalmente nómadas? Culpar a vítima.


Muita informação também em França:

Le Monde, Christian T. - Les gens du voyage sont-ils nomades ?
Nomadismo e sedentarização, um tema também largamente abordado por José Gabriel Pereira Bastos.

Nouvel Observateur, Georges Jacknovitz - Les roms et les juifs
Em comum, a rejeição que estas duas comunidades suscitam nas sociedades estabelecidas.
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Se os nossos políticos ficassem quietinhos «cá dentro», nada disto aconteceria


Depois de a polícia finlandesa andar à procura de um vigarista muito parecido com Durão Barroso, é a vez de Sócrates ser confundido com comunista em Nova Iorque.
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Algo me diz que acabarão todos assim

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As Cidades e as Praças (4)



Schwedagon, Yangon (2009)
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24.9.10

Vida Moderna

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Era uma vez…


«Como casi nunca tenía nada que hacer en su puesto de electricista de mantenimiento, Cuco era el que se ocupaba de actualizar diariamente el mural del sindicato; llevaba además, con esmerado rigor, la libreta donde se anotaba el cumplimiento de la Guaria Obrera y era el encargado de darle la bienvenida a los nuevos trabajadores. (...)

Por todo eso y porque en realidad nunca tenía nada que hacer, nadie le quiso poner a mano el periódico Granma del pasado lunes 13 de septiembre donde la última página estaba dedicada totalmente a publicar el pronunciamiento de la Central de Trabajadores de Cuba en el que se anunciaba que, como parte del proceso de perfeccionamiento del modelo económico cubano, medio millón de trabajadores vinculados a diferentes sectores estatales quedarían disponibles, o sea, serían despedidos. (…)

Cuando terminó de leer el texto tuvo la extraña sensación de que se había saltado una línea muy importante. No era posible que sus máximos dirigentes sindicales hubieran olvidado que él no era solamente el asalariado de una empresa del Estado, sino además el fiel afiliado, que durante su impecable trayectoria laboral había cotizado puntualmente. (…)

Como electricista podría ganarse la vida en su futuro nuevo papel de cuentapropista, pero no sabía a qué Círculo Social llevar a su familia, ni con quién compartiría los matutinos. Estaba confundido. ¿Cómo aportaría su jornal de un día a las Milicias de Tropas Territoriales, a qué Brigada de Respuesta Rápida podría incorporarse, cómo quedaba el asunto de los méritos, con quién tendría que emular, quién le entregaría ahora algún diploma? ¿Será que nada de eso era importante?»

(Fonte)
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Recordações


Das tentativas para ouvir a Rádio Voz da Liberdade, de Argel, nos idos de 60.
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Uma já morreu


Cerca das 21h de ontem (hora local), Teresa Lewis morreu por injecção letal, numa prisão algures na Virgínia. Alegadamente atrasada mental (QI=72), foi acusada de estar na origem da morte do marido e de um filho.

Impossível não pensar em Sakineh. Tudo diferente, tudo semelhante: seres humanos que se sentem com direito de retirar a vida a outros seres humanos.

EUA e Irão – uma mesma derrota, uma enorme vergonha. Não há justificações, não há desculpa. Barbárie.

«Quiero anunciar que todos los comunicados de la República Islámica [sobre el caso de Sakineh], incluido el [de la oficina de] derechos humanos, son falsos y mentira, y que mi madre aún está sentenciada a morir lapidada.»
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Pela Blogosfera


O veteraníssimo jpt anunciou aos amigos que se afastou do ma-shamba, «por tempo indeterminado», e se encontra agora por aqui, naquilo a que chama «crónica de uma derrota anunciada»…
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As Cidades e as Praças (3)



Plaza de Mayo, Buenos Aires (2003)


Mercedes Sosa, Chacarera del olvidao (Plaza de Mayo 25-05-2007)
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23.9.10

Quando Maomé não vai à montanha…


Algures na Toscana, há séculos que Prato é célebre pelos seus têxteis de grande qualidade, fazendo jus à fama mundial do chiquérrimo «Made in Italy».

Eis senão quando, há pouco mais de duas décadas, viu chegar os primeiros chineses que, muito rapidamente, cresceram e se multiplicaram, trouxeram primos e primas e têm hoje 3.200 empresas que fabricam roupas, sapatos e acessórios, muitas vezes com materiais importados da China, para os venderem depois localmente ou os exportarem para o mundo inteiro.

Problemas à parte, que não são poucos, alguém poderá contestar a legitimidade das etiquetas que usam nos seus produtos? «Made in Italy», sem qualquer espécie de dúvida…

(Fonte)
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Associações imediatas do primeiro grau


O barbeiro da aldeia deve barbear todos os homens que não se barbeiam a si próprios e só estes. Se não se barbeia a si próprio, a regra não é cumprida. Se se barbeia, também não.

Útil, em muitas situações, este paradoxo da teoria dos conjuntos, atribuído a Sir Bertrand Russell.

Volta hoje pela leitura deste título.
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Uma voz de um outro mundo


Se eu nunca tivesse estado no Butão, teria lido o título e passado à frente: «Bring happiness on board», disse há três dias na ONU o primeiro-ministro daquele país, propondo que a «Felicidade» seja o 9º Objectivo de Desenvolvimento do Milénio - «a goal that stands as a separate value while representing as well the sum total outcome of the other eight».

«Through the pursuit of such a goal, we’ll find the reason and genius to moderate and harmonize our otherwise, largely material wants with the other equally important human needs and nature’s limitations», «It’s what will make life on earth sustainable. And the way in which a nation pursues this goal will be a measure of its devotion to the promotion of its people’s true well being».

Retomo o que aqui escrevi há alguns meses:

«Saio amanhã do Butão (…) com uma enorme simpatia por este povo de uma delicadeza que roça a candura. E com uma grande curiosidade quanto à evolução política e social de tudo isto: para os nossos cérebros ocidentais, é difícil levar a sério o tal conceito de «Gross National Happiness» e confesso que ouvir dizer, sem pestanejar, que se mede o desenvolvimento e o progresso de um país pelo grau de sorriso das pessoas ultrapassa todas as utopias com que alguma vez sonhei…»

Passado algum tempo, lendo tudo o que me aparece sobre a atenção que a experiência daquele minúsculo país, aparentemente perdido nos imensos Himalaias, vai merecendo nas mais racionais arenas, já começo a pensar que…sei lá…, talvez…, porque não?... Pelo menos «era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto»...

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Outono

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22.9.10

Partir


«Le désir d’ailleurs a toujours sollicité vivement les âmes à peine trempées, blessées ou douloureuses. Le voyage est pourvoyeur d’horizons qu’on imagine neufs, lorsqu’en partance pour le bout du monde, on oublie qu’on est toujours dédespérément et irrémédiablement seul, condamné à sa proper compagnie. D’aucuns voient dans cette sapience élémentaire un argument pour ne jamais quitter leur chambre, voyager en elle et demander à leur seule âme les images et les idées qu’um dépaysement pretend assurer. Qui écrira un jour, pourtant, ce que doivent les oeuvres esthétiques, donc les idées, aux voyages, exils, déracinements, et autres départs pour de nouvelles illuminations?
Lorsque ce ne sont pas seulement les individus qui aspirant à l’ailleurs, ce sont aussi parfois des civilisations, voire des époques, sinon des corporations ou des cristallisations grégaires qui en font la promotion et l’usage.»

Michel Onfray, Métaphysique des ruines
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Somos todos mais ou menos suecos?


Os resultados eleitorais de há poucos dias são muito difíceis de digerir, não só na Suécia que se manifesta na rua contra o que provocou nas urnas, mas para toda a Europa. Já muito foi escrito sobre o tema, mas um artigo de Jorge Almeida Fernandes, no Público de hoje, vai ao cerne da questão «da estranha morte da social-democracia sueca».

Nem é propriamente de «crise» que se trata, num país em que «o PIB deverá crescer 4,5 por cento este ano e o desemprego, na casa dos oito por cento, começa a diminuir», mas sim de um caso em que «o factor imigração parece jogar em estado puro. Os estrangeiros representam hoje 14 por cento da população total, número-recorde na Europa».

Situação limite, portanto, do «drama» deste envelhecido continente:

«A imigração toca o modelo de civilização e a segurança interna da Europa. O continente terá cada vez mais imigrantes e mais muçulmanos. Para manter o ratio activos/inactivos, a UE deverá acolher nas próximas duas décadas mais de cem milhões de imigrantes. O simples envelhecimento da população torna a imigração um imperativo de sobrevivência. É esta a dimensão do problema.
Os populismos xenófobos, ao contrário dos fascismos, não se apresentam como antidemocráticos. Cultivam certamente a "antipolítica", apelam ao "verdadeiro povo" contra as elites, procuram bodes expiatórios, mas jogam dentro das instituições. Serão antes "uma degenerescência da democracia representativa" (Yves Mény).»
(O realce é meu,)

A questão que envolve Sarkozy e os ciganos é certamente gravíssima em si mesma, mas é também, e talvez principalmente, a ponta de um iceberg cujas dimensões nem conseguimos ainda vislumbrar. Uma Europa que saiba acolher 100 milhões de imigrantes ou...?
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Depois, queixemo-nos


Não há estado social que aguente isto.
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Semelhanças


A TSF noticiou que «um vigarista que foi identificado como tendo uma cara muito parecida com a de Durão Barroso», «aproximou-se de um transeunte numa cidade a 70 quilómetros a nordeste de Helsínquia e convenceu um finlandês a comprar fatos e outra roupa de luxo que tinham sobrado de uma passagem de moda ali perto».

E Manuel António Pina recorda o facto de «alguém com uma cara igualmente muito parecida com a do actual presidente da Comissão Europeia ter enganado milhares de pessoas numa cidade a 1600 quilómetros de Lisboa. Estava acompanhado de três indivíduos com caras muito parecidas com as de George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar». «Ninguém anda atrás dos quatro da Base das Lajes. Nem a sua consciência.»

Nem a deles, nem a nossa consciência: na guerra do Iraque, «cerca de 1 milhão de mortos, 4,5 milhões de deslocados, entre 1 e 2 milhões de viúvas, 5 milhões de órfãos» (dados de Março de 2009).
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As Cidades e as Praças (2)



Plaza de Armas, Cusco (2004)


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21.9.10

Por outras, mas também por estas


Parte de uma entrevista a Manuel Alegre (1969), divulgada pelo ina.fr.



Já agora:
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Mister Geppetto, I presume


«Francisco Assis, líder da bancada do PS, decidiu escrever a Ana Gomes. Na missiva, a que o DN teve acesso, afirma que "não é verdade que os deputados do PS tenham votado de acordo com orientações vindas de cima".»
DN

P.S. – Ana Gomes colocou entretanto online:
* Carta do Deputado Francisco Assis
* Resposta ao Deputado Francisco Assis
«Pode o Francisco garantir-me que não recebeu, antes de tomar a decisão de instruir a bancada como instruiu, nenhuma orientação de "instâncias governamentais" a recomendar-lhe que determinasse aquele mesmo sentido de voto?»
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Memória de uma guerra

Este filme foi realizado na Guiné, em 1969, e é um importante documento. Termina com declarações de Spínola (num curioso francês técnico…).

Cheguei lá via Paulo Pedroso, no Facebook, e transcrevo os seus comentários:
«Não abundam testemunhos das acções militares da guerra colonial. Diz-me, aliás, uma testemunha que este é o único filme feito na Guiné que apanhou uma sequência real de guerra. Diz ele que os jornalistas franceses que seguiam nesta patrulha, mandada executar para que eles tomassem conhecimento com o dia a dia das tropas estacionadas em BULA, um pouco a Norte do Rio Mansoa, apanharam um susto, mas registaram algo que mais nenhum registou. A emboscada não estava "no programa", mas isto era o que podia acontecer sempre que se saía para o mato. Neste caso terá sido para os lados do CHOQUEMONE, uma das zonas quentes onde o PAIGC tinha "acampamento(s)", na área entre BULA-BISSORÃ-S. VICENTE (já no Rio Cacheu). Spínola, com a seu ajudante de campo (era ainda Almeida Bruno) e o Cmdt do Batalhão de BULA foram lá, mal tiveram conhecimento do que tinha acontecido.»



No mesmo site, do INA, há muitos documentos importantes, nomeadamente este, bem conhecido, com uma longa declaração de Amílcar Cabral.
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As Cidades e as Praças (1)



Place des Vosges, Paris(..., 1971,...)
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20.9.10

Europeus a menos?




E daí?
O mundo está cheio de gente.
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Assim, vamos onde?


Dificilmente resisto a dar uma vista de olhos a enunciados de exames de Matemática. Foi o que hoje aconteceu quando recebi o link para a Prova 23 do Exame Nacional do Ensino Básico deste ano (vulgo 9º ano).

Primeira perplexidade: grande parte do conteúdo do «Formulário» incluído, ou seja o que não é exigido que os alunos saibam de cor para resolverem os problemas. Alguns exemplos? O valor do famoso π, 2πr para calcular o perímetro de um círculo, uma série de fórmulas para determinar áreas elementares, como a do dito círculo, a de um paralelogramo, etc., etc., etc. De volumes nem falo para não me irritar, porque isto do de um cilindro ser igual à área da base vezes altura deve já soar a mandarim.

Seguem-se catorze problemas, concedo que alguns sejam de complexidade mediana, mas outros são de tal modo elementares que me fazem corar de vergonha.

Ousa-se (no 9º ano!...) testar assim o conhecimento da existência do teorema de Pitágoras: 
«Os comprimentos de um lado de um triângulo podem ser 10 cm, 12 cm e 23 cm?» 
(Uma aposta que houve quem fosse fazer as contas?)

E há problemas como este:
«Num arraial, a Beatriz comprou um saco com mais de 60 rebuçados.
Quando os contou dois a dois, não sobrou nenhum. O mesmo aconteceu quando os contou cinco a cinco, mas, quando os contou três a três, sobraram dois.
Qual é o menor número de rebuçados que o saco pode ter?
Mostra como chegaste à tua resposta.»

Espero não ter escrito um post muito complicado!...

P.S. – Se alguém tiver acesso a provas de nível equivalente ao 9º ano, noutros países, em língua acessível, gostava muito que me enviasse uma ou duas.
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Socialismo, mas pouco...


Ana Gomes:

«No dia 9 de Setembro, no Parlamento Europeu, todos os deputados socialistas portugueses votaram sem hesitações a favor de uma resolução que "expressava profunda preocupação pelas medidas tomadas pelas autoridades francesas e de outros Estados Membros tendo por alvo os ciganos", instando tais autoridades a imediatamente suspender as expulsões e apelando à Comissão, Conselho e a outros Estados Membros que interviessem nesse sentido.

Tratou-se de uma resolução activamente promovida pelo Grupo dos Socialistas e Democratas, em que se integram os socialistas portugueses. Com linguagem moderada, em resultado de intensas negociações entre todos os grupos políticos. Nos debates com Durão Barroso e Viviane Reding, na manhã e na tarde do dia 7, todos os intervenientes socialistas, encabeçados pelo líder Martin Shultz, não pouparam na invectivação das expulsões colectivas estigmatizantes de Sarkozy e de outros governos europeus e na condenação da inacção da Comissão Europeia diante de tão acintosas violações do Tratado de Lisboa e dos direitos humanos fundamentais.

Incredulidade e apreensão - foram as minhas primeiras reacções às notícias de que o Grupo Parlamentar do PS, na 6a.feira passada, se dividira no voto de um texto proposto pelo BE, que visava associar a AR ao voto do PE. Por não ser o PS a tomar a iniciativa e por revelar descoordenação entre o que o PS faz na AR e no PE, ainda por cima num assunto de excepcional sensibilidade política (ao ponto de, finalmente, levar Durão Barroso a engrossar a voz face ao seu correlegionário de direita Sarkozy no último Conselho Europeu).

Vergonha e amargura - é o que expresso agora, depois de ter falado com deputados socialistas na AR para apurar o que se passou: "ordens de cima!" E só um socialista - Sérgio Sousa Pinto, a quem presto homenagem - teve a coragem de votar de acordo com a sua consciência, além de mais 14 que encontraram formas menos afirmativas de se dissociar de tão indecorosas instruções.

Ordens que terão sido inspiradas por instâncias governamentais. Instâncias tacanhas no entendimento do que é a política externa, pois ainda que se justificasse uma demonstração de "real politik" (e não se justificava, estando em causa a lei europeia e direitos humanos fundamentais), tal exercício não caberia a parlamentos, mas sim a governos.

Ordens insuportáveis, por serem politicamente indefensáveis ("o Sarko é amigo"...); por contradizerem o património histórico e político do PS, quer quanto ao respeito pelos direitos humanos em geral, quer quanto ao empenhamento dos seus governos - incluindo este - na inclusão da comunidade cigana em Portugal; e, finalmente, por serem ofensivas do que deve corresponder à consciência política de um/uma socialista.

Para registo: diante de tais ordens, eu desobedeço.»
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19.9.10

Milagre chinês?


… é o título de um artigo de opinião muito interessante, de João Caraça, no Público de hoje (na íntegra, no fim deste post).

Integrado numa missão do Instituto Europeu de Inovação, J. Caraça regressou recentemente da China, impressionado com o nível das universidades que visitou e a qualidade dos cientistas que conheceu.

Bem longe da imagem ainda tão generalizada da grande fábrica de produtos baratos de baixa qualidade, sem inovação tecnológica, pura reprodução em cópia das criações dos avançados ocidentais, a China espera «conseguir dominar a evolução do seu crescimento económico e ultrapassar por meio de uma competição feroz os países do Ocidente», «com o beneplácito da alta finança (...) que não mostra especial afecto pela democracia». E sabe que «quem for capaz de propor ao mundo a próxima infra-estrutura física e comunicacional (…) ganhará a corrida».

Em que modelo político-ideológico? Para J. Caraça, a China continua a não querer «caminhar para uma economia de mercado capitalista como a dos EUA» - e dai o interesse em seguir de perto este caso, na fase de transição em que se encontra o mundo -, os chineses «estão apostados numa via mista, de um capitalismo de Estado transformado, em que sectores estratégicos permanecem firmemente sob o controlo do poder central, podendo nos outros sectores da economia funcionar os mecanismos de mercado, sujeitos naturalmente ao condicionamento tutelar do Governo». Numa situação que «não é estável, sendo mesmo passível de gerar enormes conflitos internos».

Uma novela com muitos capítulos por escrever e de desfecho totalmente imprevisível.

P.S. (20/9) - Em contraponto, longos excertos de uma entrevista recente a Noam Chomsky, na China:

«China has become a factory in the Northeast Asian production system. If you look at the whole region, you will find it very dynamic. China’s export volume is enormous. But there is something we have overlooked. China’s export relies heavily on the exports of Japan, Korea and the US. These countries provide China with high-tech components and technologies. China is just doing the assembly, and labelling the final products as ‘Made in China.’ (…)

Do you think the rise of China will change the world order? Will China play the role that the US is playing now?
Chomsky: I don’t think so; neither do I hope so. Do you really hope to see a China with 800 overseas military bases, invading and overthrowing other governments, or committing terrorist acts? This is what the America is doing now. I think this will not, and cannot, happen on China. I do not wish it to happen neither. China is already changing the world. China and India together account for almost half of the world’s population. They are growing and developing. But relatively speaking, their wealth is only a small part of the world. Both countries still have long ways to go and face very serious domestic problems, which I hope will gradually be solved. It is meaningless to compare their global influences with those of rich countries. My hope is that they will exert some positive influences to the world, but this has to be watched carefully.

China should ask itself what role it wishes to take in the world. Fortunately, China is not assuming the role of an aggressor with a large military budget, etc. But China does have a role to play.(…)

Let’s make a historical comparison. Was the rise of the United States a threat to democratic Britain?


Cuba, agora em vozes do PCP


Na passada 6ª feira o Gabinete de Imprensa do PCP emitiu um Comunicado «em resposta a vários pedidos de diferentes órgãos de Comunicação Social», hoje o DN publica uma entrevista ao candidato presidencial Francisco Lopes.

Sobre a decisão do governo cubano transferir, repentinamente, centenas de milhares de trabalhadores do sector público para o privado, dizem o que é de tal modo expectável que nem me detenho a comentar: o dito governo «enfrentará com êxito novos problemas surgidos no seu desenvolvimento e as exigências de afirmação do seu projecto de construção do socialismo», «perspectivando uma experiência que é de grande utilidade, não apenas para aquele povo mas para o mundo». Sem dúvidas nem pestanejos. Cá estaremos para ver.

Em geral, nada de inesperado ou de surpreendente, talvez apenas um Francisco Lopes um pouco mais papista do que o papa ou menos cauteloso do que a direcção do seu partido: enquanto esta afirma que «é ao povo cubano que compete, soberanamente, tomar as decisões que considere mais adequadas para prosseguir a construção do socialismo (…)», FL diz que «os dirigentes cubanos têm todo o direito de pensar em cada momento quais são as formas de organização do seu Estado e dar resposta aos interesses do povo».

Totalmente de acordo com a primeira afirmação, excepto que não é honesta: o povo cubano não tem liberdade para «tomar as decisões que considere mais adequadas» e construir o que quer que seja para o futuro do país e a direcção do PCP sabe-o muito bem. Será necessário recordar as constantes condenações por restrições à liberdade de expressão, para já não falar da existência de presos de consciência, por demais referida nos últimos meses? Há eleições em Cuba? Sim, tanto para as Assembleias Municipais como para as Provinciais e Nacionais. Mas, durante as respectivas campanhas eleitorais, estão proibidas quaisquer candidaturas ou actividades partidárias. Assim sendo…

Francisco Lopes é mais certeiro: atribui «aos dirigentes cubanos» todo o direito de se substituírem ao povo na defesa dos seus interesses. Bingo! É o que estão a fazer.
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Da esperança ou da falta dela


Cohn-Bendit, em entrevista a propósito da «berlusconização» de Sarlozy e das reacções à expulsão e dos ciganos:

«Cela peut-il dégénérer en crise grave comme en mai 68?
En 68, au bout de la révolte, il y avait de l’espoir. L’horizon était dégagé. Aujourd’hui, il y a un sentiment de ras-le-bol, mais aussi beaucoup de désespoir. Ce cocktail peut durcir les mouvements. Mais peut-il mener à une grève générale d’où émergerait l’envie d’une autre société? Je ne dis ni oui ni non. Mais cela paraît plus difficile…»

Muito, muito mais difícil…
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