29.5.16

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos



«Em 1977 o grupo Banda do Casaco editou um álbum histórico: "Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos". Era quase premonitório do que se iria passar.

Nesse ano passou discretamente por Portugal uma missão do FMI, que voltaria em força anos depois para "salvar" o país dos problemas financeiros e dar o discreto aval ao Governo do Bloco Central que haveria de preparar o terreno para a entrada na CEE. E na camisa-de-forças que, a troco de fundo estruturais sem fim (…), entrámos. E de onde só muito dificilmente sairemos. (…) É certo que há uma elite política que defende que Portugal deve estar subordinada às ideias e aos ditames da Europa, mas é isso que tem levado a esta sangria que nos custou em grande parte o BES, o Banif e o que adiante se verá. O que suceder à CGD demonstrará que autonomia ainda teremos até sermos uma província de Bruxelas.

Tudo isto pode parecer um pensamento radical, mas o certo é que a troco de conquilhas imediatas colocámos nas mãos dos superiores interesses da Alemanha o nosso destino como nação soberana há mais de 900 anos. Não é coisa de somenos. Tal como a destruição de valor acumulado por gerações, como sucedeu no caso extremo da PT (sem consequências legais para ninguém) ou nos milhares de pequenos investidores no BES ou no Banif. A pouca riqueza portuguesa evaporou-se sem consequências. Não admira que, a continuar a pressão europeia, que poderá por em causa a continuidade do Governo de António Costa, Portugal poderá ser apenas um pequeno reduto periférico que pouco valor tem para uma Europa construída à volta da estratégia de Berlim. Onde a periferia deixou de ser relevante. (…)

Não andamos muito longe de nos confrontamos novamente com decisões históricas que muito têm a ver com o esgotamento da nossa presença na União Europeia e na zona euro. A menos que desejemos continuar esta forma de ficção em forma de tutela em troca de algumas conquilhas de duvidosa qualidade que servem apenas para ir aumentando a nossa dívida e hipoteca nacional.»

Fernando Sobral

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