2.4.16

194 anos de Constituições



A não perder: Fernando Rosas explica (som e texto).

O que mudou em 194 anos de Constituições.
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02.04.1976 - 40 anos e uma Constituição



Em 2 de Abril de 1976, os deputados da Assembleia Constituinte, eleitos em 25 de Abril de 1975, deram por concluída a elaboração da actual Constituição que entrou em vigor um ano depois.

Rever imagens:



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Dica (260)




«If you do not understand what is happening to the eurozone economy, you are not alone. One day we are told that growth is definitely passé; the next that recovery is on track; and the third that the European Central Bank is considering sending checks to all citizens to boost output and revive inflation. Rarely has the economic picture been so confusing.» 
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Mais uma vez a nossa doença angolana


(Alex Gozblau)

Excertos do texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«O que é que faz PCP, PSD e CDS juntarem-se num voto comum com denso significado político? Angola. O que faz juntar Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Passos Coelho, Assunção Cristas num silêncio mais ou menos incomodado sobre claras e grosseiras violações dos direitos humanos e da democracia? Angola. (…)

Aqueles a que se solta a boca com o que se passa na Venezuela, aqueles que espumam com a viagem de Obama a Cuba, aqueles que correm para escrever artigos indignados com a duplicidade da esquerda face a regimes como o norte-coreano, o cubano, ou o venezuelano, agora explicam-nos que o regime angolano nada tem que ver com o comunismo. É um regime “pragmático”. Lá isso é, mesmo muito pragmático.

O mais espantoso argumento é o que acha que nada se pode dizer sobre o que se está a passar, visto que o que está em causa é o sistema judicial, os tribunais, o “Estado de direito” angolano e isso é tão inquestionável como os tribunais ingleses de juízes e advogados de cabeleira e velhos direitos do júri, onde há habeas corpus e... o primado da lei. Dizer, aliás, o “Estado de direito” angolano devia provocar uma sonora gargalhada, se o assunto não fosse demasiado sério. (…)

Mas há ditaduras e ditaduras. E a questão já não é só ideológica, bem longe disso. Isso era antes e só funcionava para o PCP. Para o PSD, o CDS e parte do PS, é o “pragmatismo” que conta, ou seja, as que estão próximas de nós pelo dinheiro, com essas é que é preciso muita prudência. Na verdade, se investem em Portugal, pagam pelo menos o direito de não serem tratadas como ditaduras, apenas “Estados africanos em construção”, importantes motores de negócios, países mais ou menos exemplares. (…)

O argumento que pensam ser definitivo e arrasador é da “irresponsabilidade” que seria criticar Angola ou estas pessoas poderosas, porque quem iria pagar o preço seriam os portugueses que lá vivem e trabalham. Não é preciso ir mais longe para perceber que, com este argumento, estão a dizer tudo sobre a natureza do regime angolano e sobre a sua “democracia”. Daí vem a tese de que, “para proteger os portugueses”, têm de dançar com os demónios todos. Claro que não lucram nada com isso. (…)

Mas há infelizmente muitos outros, os que de facto não têm defesa. Os portugueses em Angola, os que precisaram mesmo de ir para Angola trabalhar ao apelo de Passos Coelho para “saírem da sua zona de conforto” e para fugir ao desemprego por cá, esses servem para o argumento do silêncio. Na verdade, nada os protege, muito menos o silêncio, porque é o silêncio da fraqueza e os fracos nada podem quando as coisas endurecerem. Enquanto o regime angolano for o que é, nada os protege. Serão sempre as vítimas de um regime que não hesita em retaliar sobre os mais fracos para proteger os mais fortes.

Mas as coisas vão endurecer mesmo. A crise do preço do petróleo faz escassear os bens que os predadores estavam habituados a ir buscar à cornucópia da abundância. Eles se encarregarão de se guerrear entre si pela pouca água que jorra da fonte outrora abundante. E serão os próprios angolanos, aqueles que hoje vão para a cadeia, que acabarão por falar mais alto. Porque têm razão e são corajosos. É com eles que os portugueses deveriam estar.» 
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02.04.1975 – Início da primeira campanha eleitoral em democracia



0:00 horas do dia 2 de Abril de 1975 marca o início da primeira campanha eleitoral da democracia portuguesa – a que se destinou a eleger deputados com a missão de escrever uma Constituição que viria a ficar concluída um ano mais tarde.

Concorreram doze partidos: CDS, FEC (M-L), FSP, LCI, MDP/CDE, MES, PCP, PPD, PPM, PS, PUP, UDP e uma Associação ADIM (Associação para a Defesa dos Interesses de Macau).

O PPD foi o primeiro a arrancar com a colagem de cartazes, simbolicamente iniciada por três dos seus principais dirigentes – Francisco Balsemão, Magalhães Mota e Sá Borges –, foi o PS que fez o primeiro comício, com início dado por Mário Soares, em Faro, no primeiro minuto da campanha.

O processo de recenseamento foi um trabalho homérico e saldou-se pelo sucesso de uma participação
de 91% dos eleitores. De um dia especialmente festivo, ficou a memória de filas intermináveis, onde muitos votavam pela primeira vez na vida.

Os resultados da votação foram os seguintes, em percentagens e número de deputados eleitos: PS 37,87% (116) / PPD 26,39% (81) / PCP 12,46% (30) / CDS 7,61% (16) / MDP 4,14% (5) / UDP 0,79% (1) / ADIM 0,03% (1). 
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1.4.16

Ou um PC...


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Com vénia para o congresso do PSD



«Essa coisa da social-democracia é uma fábula, a que sobra pose mas falta conteúdo. Ninguém leva a sério tal artefacto, que é nada social e escassamente democrático, que tem objectivos turvos se é que alguns e que se manifesta inopinadamente a propósito de tudo sem ser nada. A social-democracia simplesmente morreu e suponho que até se deu conta do seu infeliz passamento. (…)

Respeito portanto Passos Coelho, porque se quer reinventar com uma trabalheira que não leva a nada nem quer dizer coisa alguma: “social democracia sempre” (ou será ”social democracia, sempre”, a pequena diferença tem uma hermenêutica pesada?), o mote do seu congresso que hoje começa, é o retrato do vazio. Querer fazer tudo com o vazio é um acto de coragem que só posso saudar.»
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Mário Viegas morreu (já) há 20 anos



Mário Viegas nasceu em 1948 e morreu, muito novo, em 1 de Abril de 1996.

Fundou companhias de teatro, actuou em vários países, participou em mais de quinze filmes e em duas séries televisivas inesquecíveis: «Palavras Ditas» (1984) e «Palavras Vivas» (1991).

Impossível não recordar a sua leitura do Manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros:



Ainda actual o Manifesto Anti-Cavaco, lançado por Mário Viegas durante a campanha eleitoral para as legislativas de 1995, em que foi candidato independente na lista da UDP. (Candidatou-se também à Presidência da República.)



E... a nêspera, claro.



[Republicação]
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Dica (259)



Da amizade à ditadura. (Fernanda Câncio) 

«Muitos países no mundo ainda têm a apostasia no Código Penal; em vários é punida com a morte. Nesses países, a religião é o regime político. São Estados de direito? Eis algo que devíamos perguntar ao PSD, ao CDS e ao PCP.» 
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A cadeira do professor Marcelo



«Na hora dos scones (só para variar da "hora do chá", usada por quase todos os comentadores), o novo Presidente, ainda a cheirar a couro, apareceu para explicar, sentado numa cadeira, porque promulgou o OE de 2016.

Confesso que fui surpreendido pelo estilo, porque nunca fui aluno do Professor Marcelo. Foi um regresso à telescola. Dei por mim a dizer: "Qual era o ponto 3, sotôr? Estava distraído, desculpe. Espere. 3 razões. Abre chaveta...". Foi complicado, já não estava habituado, e o ritmo do professor Marcelo é só para marrões. Mas, claramente, prefiro este professor ao anterior. Ao menos, este nem TPC mandou, ao contrário do outro, que era só desgraças e recados para os pais.

O principal problema que a maioria dos portugueses enfrenta, quando ouve as declarações do novo Presidente da República, é saber que não vai haver Professor Marcelo Rebelo de Sousa para comentar as declarações do PR. Ficam os portugueses sem saber o que pensar. Faz muita falta Marcelo comentador para dizer ao povo o que quis dizer Marcelo PR. (…)

Os partidos do actual arco da governação gostaram das declarações do PR. Já nos partidos da oposição, a situação foi diferente. O CDS diz que o "capítulo do Orçamento já está fechado", por isso não tem nada a dizer (…) e o PSD insiste que a estratégia do Governo "é errada e imprudente"... e constitucional!!!

Na verdade, por esta altura, no meio de sorrisos, diálogo e simpatia, Marcelo e Costa entendem-se às mil maravilhas, tal como Aníbal Cavaco Silva e Passos Coelho entendiam-se aos mil horrores.»

João Quadros

31.3.16

Angola: Som do dia




…depois das vergonhosas votações de hoje, na Assembleia da República, de PSD, CDS e PCP. E também do PS que se limitou a aprovar um texto seu em que «lamenta» os acontecimentos e se absteve no do BE, que os «condena».

Respect para BE, PEV, PAN e 17 deputados do PS. 
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Assim se vê… o PCP, o PCP…



«Não esquecendo a longa guerra de subversão e agressão externa que foi imposta ao povo angolano e que tantos sofrimentos e destruição causou, o PCP tem sublinhado que não acompanha campanhas que, procurando envolver cidadãos angolanos em nome de uma legítima intervenção cívica e política, visam efectivamente pôr em causa o normal funcionamento das instituições angolanas e desestabilizar de novo a República de Angola, com a invocação de argumentos e pretextos já utilizados para justificar a ingerência externa exercida sobre outros países, nomeadamente no continente africano.»

Do Avante!
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Análise e interpretação de uma arma



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Na sequência de uma excelente iniciativa levada a cabo por uma cadeira em 1968, um grupo de militares derrubou finalmente o Estado Novo a 25 de Abril de 1974. Usaram espingardas, chaimites e fragatas. Esta semana, um tribunal angolano condenou 17 jovens por planearem derrubar o governo. Quando foram capturados, os revoltosos estavam na pose do seguinte armamento de guerra: um livro.» 

Na íntegra AQUI.
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31.03.1974. As últimas palmas para Marcelo Caetano



Quinze dias antes tinha falhado o golpe das Caldas, três semanas mais tarde terminaria a ditadura. No dia 31 de Março de 1974, teve lugar um Sporting – Benfica que viria a ficar célebre e não só porque os visitantes venceram por 3-5.

Num texto publicado em 1978, MC comenta: «Quando o alto-falante anunciou que eu me achava no camarote principal, a assistência calculada em 80.000 espectadores como que movida por uma mola oculta, levantou-se a tributar-me quente e demorada ovação que a TV transmitiu a todo o Pais. Isso foi interpretado como repúdio por aventuras militares.»

E é verdade – confirmo eu que lá estava. Terá havido vaias mas não foram significativas quando comparadas com a ovação. À minha volta, só o grupo de amigos em que eu me integrava e, umas filas mais abaixo, Vasco Pulido Valente e Filomena Mónica, assistíamos, perplexos, ao entusiasmo generalizado.

Guardo a memória fotográfica desse momento e tive-o bem presente, no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril. Estou certa de que muitos daqueles que então me rodeavam também tinham estado no estádio de Alvalade. E que tinham aplaudido Caetano. As multidões gostam de vencedores, não de vencidos.


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Dica (258)



Para acabar com a liberdade... (Pedro Bacelar de Vasconcelos) 

«Reclama-se a pretexto do horror, a drástica restrição das liberdades de todos, para facilitar as ações das polícias, o prolongamento indeterminado dos "estados de exceção", a resignação às violações da privacidade, a alteração radical de velhos hábitos e profundas mudanças nos nossos modos de vida. Identificam-se os imigrantes e refugiados com os terroristas. Alimenta-se a perceção sinistra de que a ameaça vem do exterior, fecham-se fronteiras e constroem-se muros como se fosse possível transformar um continente numa fortaleza inexpugnável.
E assim se evita, no plano interno, a ponderação dolorosa das consequências sociais das políticas de austeridade friamente concebidas ao gosto dos mercados financeiros.» 
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Passos e o seu congresso



«A unanimidade vai ser quase total. Pedro Passos Coelho vencerá nas palmas, nas manifestações de afecto e nos votos. Não será um congresso de discussão.

Será, a menos que alguém corajoso venha colocar dedos nas feridas, um monólogo à volta de um pastor. Será um congresso crispado perante tudo o que o cerca. De resistentes, numa aldeia de Astérix onde Passos Coelho é o bardo Assurancetourix. Quando canta não só aflige os tímpanos dos romanos dos fortes vizinhos, mas também os dos seus companheiros. Não se importa. Julga que o seu talento é intocável.

Julga-se que Passos Coelho já não acredita que é primeiro-ministro. Mas continua a achar que voltará a sê-lo rapidamente. Porque a coligação que apoia António Costa se romperá. Porque a UE e a Fitch tornarão a vida negra a Costa. Porque as contas financeiras de 2016 serão desastrosas. Porque Marcelo se cansará de Costa. Porque o Sol gira à volta de Passos e não de Costa.

Passos Coelho acredita que voltará a S. Bento e que os portugueses o aclamarão como o salvador que os vem reconduzir ao caminho religioso para a pobreza total. (…)

O discurso político bateu por KO o financeiro e miserabilista. E Passos é o representante desse monólogo sofredor, pobre e esfarrapado que se aguente algum tempo, mas não todo o tempo. O PSD, a curto prazo, depois de entronizar Passos, vai perceber isso. No fundo, todos sentem que Passos está sitiado numa fortaleza ideológica indefensável que já não cativa os portugueses. Vai vencer, mas não convencer. Os que o vão aplaudir serão os primeiros a gritar "viva o líder" quando ele cair da cadeira. Por cansaço extremo.»

Fernando Sobral

30.3.16

Dica (257)




«O país dos 17 ativistas condenados é outro. É a Angola real, que tem a maior taxa de mortalidade infantil do Mundo e onde uma parte significativa da população vive com menos de um dólar por dia. Ao contrário do que o poder insiste em repetir, o que estes ativistas fizeram não é um atentado contra o Estado angolano; é uma homenagem à sua persistente história de luta.» 
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30.03.1922 – Quando um tio-avô de Portas voou para o Brasil



Gago Coutinho e Sacadura Cabral iniciaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 30 de Março de 1922. Para além deste feito, o segundo deixou-nos em herança um sobrinho neto, também fadado para grandes voos, embora mais virado para submarinos do que para aviões.

Chegaram a Fernando Noronha, depois de várias etapas e muitas aventuras. No dia 11 de Maio, data deste exemplar de O Século, descolaram daquela ilha – e muitas outras peripécias se seguiram. O Editorial do jornal e uma série de textos que preenchem a primeira página são absolutamente extraordinários, tanto quanto a forma como quanto a conteúdo:

«Estua mais forte o sangue nos corações lusíadas. Uma aura emocional desprende-se das almas e flutua e adeja e liberta-se para o Alto, em ânsia e em êxtase.
Hora santificada esta. Hora terníssima e religiosa, em que o espírito da Raça ampara e impele as suas polarizações mais belas para um infinito de glória. (…)
De novo a mais bela aventura da nossa Raça, para uma das maiores de todas as idades, a águia lusitana se libra, fitando o Sol, desafiando os elementos, orgulhosamente, dominadoramente. (…)
E uma saudade há-de cair dolente sobre a pedra tumular dessa “Lusitânia” de Sonho. Rico sarcófago para uma ânsia de infinito – o Oceano! Digna lágea sepulcral essa dos Rochedos – que desafiam os séculos – para um Sonho grande – que assombrou o mundo!»

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Mas mais estranho é que eu tenha em casa um exemplar do jornal. Era Primavera em Lisboa e O Século publicou, nesse dia, esta fotografia com a seguinte legenda: 
«Gentis passeantes, que o Sol de ontem atraiu a passeio, recolhendo apressadas, por se aproximar a noite». 
A gentil passeante do meio era a minha mãe.
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Morte Assistida: esclarecer é preciso


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Angola: o governo e o seu «nim»


Augusto Santos Silva confia na legislação angolana.

Claro que o ministro dos Negócios Estrangeiros podia dizer mais, até porque um dos seus embaixadores subscreveu isto. Ou talvez fosse melhor ficar calado.

Esperemos para ver como se comporta o PS, amanhã, quando tomar posição sobre o voto que o Bloco de Esquerda já entregou na AR. 
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Entre Batman e Super-homem



«No improvável confronto entre Super-homem e Batman, uma daquelas sagas que só surgem quando Hollywood tem problemas de imaginação, os heróis lutam pelo poder em Gotham City. E Batman quer que Super-homem recorde a sua mão, a do único homem que o venceu.

O confronto é político entre quem é mortal e quem se julga imortal. Num ciclo político em que poder é mais político e menos devedor do discurso económico, Marcelo e António Costa estão obrigados a conviver. Nem Marcelo é Super-homem nem António Costa é Batman. Nem o OE é Metrópolis ou Portugal é Gotham. Marcelo não deu a bênção total ao OE de Costa, fruto, como lembrou, de vontades diferentes. Mas confortou o primeiro-ministro porque este OE não é um campo armadilhado de trapalhadas anticonstitucionais (como foram os de Passos Coelho) e porque ele tem "preocupações sociais" (tema que o discurso financeiro puro do anterior Governo e do actual PSD desconhece).

Marcelo dá oxigénio ao Governo para este definir e concretizar uma estratégia que passa por este OE, pelo Plano Nacional de Reformas e pelo Programa de Estabilidade e Crescimento. Mas, sobretudo, reconhece que é preciso olhar mais para as pessoas e menos para os números. Mesmo que estes sejam determinantes, não podem ser hegemónicos. No futuro, as órbitas políticas de Marcelo e Costa poderão chocar, porque a política faz-se disso (e eles são dois dos mais fortes expoentes políticos do país), mas para já é um outro desafio que os junta. Ambos são mestres da táctica. E por isso sabem que o futuro está cheio de incógnitas económicas e políticas. A Europa é uma caixinha de surpresas e nunca se sabe se Bruxelas, Frankfurt ou Berlim não fazem um qualquer mortal encarpado um dia destes. Na frente nacional há alguns Jokers para todos os gostos, dos mais previsíveis (Passos Coelho) aos menos (a banca). É por isso que Marcelo e Costa sabem que este não é o tempo de uma luta de titãs políticos. É de saber dar tempo ao tempo.»

Fernando Sobral

29.3.16

Síndrome de Estocolmo 2.0



Um dos sequestrados do voo de hoje tira uma selfie com o sequestrador.

(Ler aqui.)
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O milagre de Carlos Costa



«Apolo, o deus grego, depois de matar a serpente que vivia na cidade de Delfos, apoderou-se da sua sabedoria. Desde então reis e simples mortais rumavam a Delfos para que Apolo lhes dissesse qual iria ser o seu futuro.

A Europa de hoje assemelha-se a esse mundo de profecias. Mario Draghi é o Apolo dos tempos modernos e o BCE, o Delfos que todos veneram. Não será por acaso que virá a uma reunião do Conselho de Estado. Embora se possa esperar que oiça em vez de apenas dizer. Carlos Costa, mais recatado, é o Apolo que nos calhou. Mas as suas palavras são mais débeis do que as de Draghi. E as suas mãos não têm os poderes mágicos de Midas. Pelo contrário, especializou-se em transformar em chumbo o que tem tocado, seja o BES ou o Banif. É certo que aprendeu com Apolo e com as pitonisas: as suas palavras são sempre ambíguas e admitem todo o tipo de interpretações. (…)

O que espanta é a sua capacidade para se manter à tona de água, quando, a acreditar nas cartas de sucessivos ministros das Finanças, conseguiu "surpreender" todos com as suas decisões. Talvez Carlos Costa se julgue um sucessor de Apolo. E, sabe-se, os deuses nunca se enganam. O que acontece é que os comuns mortais, simples deputados ou efémeros ministros, não sabem interpretar a sua vontade. Cada homem é o seu estilo. E o de Carlos Costa é elíptico. Os seus silêncios são mais importantes do que as suas palavras. O problema é que, olhando para o sector financeiro português, e para os destroços criados nos últimos anos, os silêncios de Carlos Costa tiveram consequências. Na confiança dos cidadãos. Na economia. Nos défices. Há explicações que convencem todos. Ou ninguém. Vamos escutar agora, pela última vez, a explicação dos milagres de Carlos Costa.»

Fernando Sobral

O DN a gozar Marcelo?



Só pode ser e com toda a razão. A descrição desta visita a um hospital é de um ridículo a toda a prova.

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Dica (256)




«A história económica tem demonstrado, uma e outra vez, que os esforços para gerir desta forma as crises financeiras nunca resultaram - basta pensar na Grande Depressão ou nas décadas perdidas do Japão. Para a UE foi um erro político catastrófico. Não só nos deixou numa depressão económica, da qual muitos países ainda não recuperaram, como também destruiu a confiança do público na UE e na própria ideia da integração europeia.» 
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A essência de Portugal



«A essência de Portugal é não ter essência alguma. Como formação social, o nosso país, como qualquer outro, vive de processos e dinâmicas sociais, uns mais sujeitos a inércia, outros propensos a mudanças, aqueles instaurando-se na longa duração, estes cavalgando nos eventos e criando uma contemporaneidade que é sempre provisória e ultrapassada. (…)

O que define preferencialmente Portugal, a crença messiânica no Quinto Império ou o ceticismo dos "Vencidos da Vida"? A narrativa dos brandos costumes ou a matança dos judeus de 1506? A "generosidade humanista" ou os massacres coloniais, como o de Wiriamu, ainda na década de 70? A Nação de "poetas" ou o país de "soldados"? A religiosidade popular que o Estado Novo comandou a partir dos “milagres” (Ourique, Fátima) ou o país que legislou sobre o casamento homossexual e a adoção sem restrição? A opção por qualquer um dos termos será sempre insuficiente e mesquinha. Quando o presidente diz "Aqui se criaram e sempre viverão comigo aqueles sentimentos que não sabemos definir, mas que nos ligam a todos os Portugueses. Amor à terra, saudade, doçura no falar, comunhão no vibrar, generosidade na inclusão, crença em milagres de Ourique, heroísmo nos instantes decisivos", o que quer dizer o Presidente? Respondo: quer participar, a partir de um ligar de autoridade, isto é, de força e legitimidade, na definição conveniente do que é essa inexistência chamada “espírito” da Nação. E fá-lo invocando as suas memórias de infância e adolescência, a sua socialização por um imaginário nacionalista e devedor de uma configuração de “humanismo” personalista, vincadamente católico. É a sua interpretação do país e diz mais dele do que da Nação.

Os mitos são sempre aquém e além do que necessitamos. Explicam-se a si mesmos, devoram-se na tautologia. Eu sei que sou português de hoje e de aqui, nada mais. Mas isso para mim não é um dado, é um problema. Talvez Pedro Mexia possa instigar o Presidente a um debate nacional, certamente estimulante embora provavelmente inglório, sobre esta temática. Mas ajudaria prescindir de tanta identidade e tanta míngua de questões. Relembro Alexandre O’Neill: “Portugal, questão que eu tenho comigo mesmo”. Ajudaria se socializássemos a pergunta: Portugal, questão que faremos uns aos outros.»

João Teixeira Lopes
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28.3.16

El hermano Obama



Texto de Fidel Castro, hoje publicado, a propósito da visita de Obama a Cuba.

«Obama pronunció un discurso en el que utiliza las palabras más almibaradas para expresar: “Es hora ya de olvidarnos del pasado, dejemos el pasado, miremos el futuro, mirémoslo juntos, un futuro de esperanza. Y no va a ser fácil, va a haber retos, y a esos vamos a darle tiempo; pero mi estadía aquí me da más esperanzas de lo que podemos hacer juntos como amigos, como familia, como vecinos, juntos”.

Se supone que cada uno de nosotros corría el riesgo de un infarto al escuchar estas palabras del Presidente de Estados Unidos. Tras un bloqueo despiadado que ha durado ya casi 60 años, ¿y los que han muerto en los ataques mercenarios a barcos y puertos cubanos, un avión de línea repleto de pasajeros hecho estallar en pleno vuelo, invasiones mercenarias, múltiples actos de violencia y de fuerza?»

Aqui, (má) tradução para português. 
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Em 1967, foi polémica a vinda de um papa a Fátima



Era minha intenção ter «desenterrado» este texto quando Marcelo Rebelo de Sousa foi a Roma convidar oficialmente o papa para vir a Fátima em 2017, mas os dias foram passando e só agora lá chego.

Quando já é praticamente certa a vinda do actual papa ao centenário que será celebrado em Fátima, recuo cinquenta anos e recordo factos, provavelmente pouco conhecidos ou entretanto apagados das memórias, relacionados com a primeira visita de um papa a Portugal – Paulo VI, por ocasião do cinquentenário das supostas aparições na Cova da Iria –, nomeadamente o insistente desejo de Salazar para que a mesma não tivesse lugar.

Este texto é retirado do meu livro Entre as brumas da memória – Os católicos portugueses e a ditadura, Âmbar, 2007. Limito-me aos parágrafos que referem os factos, omitindo as reacções dos chamados «católicos progressistas» – que foram muitas e que, em princípio, virei a abordar mais tarde.

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Na segunda metade do ano de 1966, começou a ser ventilada a hipótese de Paulo VI se deslocar a Fátima por ocasião do cinquentenário das aparições, em 13 de Maio de 1967.

Em Novembro de 1966, a Conferência Episcopal dirigiu- lhe um convite formal nesse sentido, mas só em 1 de Maio de 1967 é que foi oficiosamente comunicada a decisão definitiva à embaixada de Portugal no Vaticano. Viria a ser oficialmente confirmada pelo próprio Papa, dois dias depois, na Basílica de S. Pedro.

De Novembro a Maio, subsistiu a dúvida e a posição de Salazar foi clara: «Não devemos dar um único passo ou ter um gesto que o Papa possa interpretar como significando interesse da nossa parte em que venha a Fátima.» (1) O ressentimento [devido à ida do Papa a Bombaim, em 1964, considerada como uma afronta depois da anexação de Goa pela União Indiana] não tinha passado. Mas quando a decisão foi conhecida, o governo afirmou que, «seguro de interpretar os sentimentos profundos de todos os portugueses, quer nesta ocasião expressar a honra e o júbilo da Nação Fidelíssima perante este acontecimento da maior relevância histórica» (2). (…)

Aproximava-se o dia 13 de Maio. Soube-se que o Vaticano tinha «despolitizado» a viagem: o Papa não viria a Lisboa (o avião papal aterraria em Monte Real), não condecoraria ninguém (em Bombaim, o presidente da União Indiana tinha recebido a mais alta condecoração concedida pelo Vaticano a não cristãos), não seria hóspede do governo mas sim do bispo de Leiria.

Sabe-se agora que, cerca de uma semana antes da viagem, o governo recebeu uma informação da Embaixada de Portugal em Madrid, segundo a qual se preparavam atentados contra personalidades portuguesas de vulto e contra o próprio Papa. De Nova York, terá vindo uma outra notícia dizendo que um grupo de oficiais estava a organizar um golpe de estado contra Salazar. Estes boatos obrigaram a um reforço das medidas de segurança em Fátima, impedindo, por exemplo, que Paulo VI fizesse alguns percursos a pé, como inicialmente previsto. (…)

Nos bastidores do poder, passaram-se episódios que só muito mais tarde viemos a conhecer. Com a aversão que tinha a Paulo VI e com a sua proverbial misantropia, Salazar ficou furioso quando soube, na véspera das comemorações e já em Monte Real, que o Papa queria que a irmã Lúcia estivesse presente, porque considerou tratar-se de um acto puramente demagógico. Ameaçou mesmo regressar imediatamente a Lisboa, mas acabou por ficar – no Hotel de Monte Real, onde a estadia, com meia pensão, custou 220$00…

Para Franco Nogueira, «foi um dia de grande emoção popular, de grande espectáculo, de grande política para a ala conservadora da Igreja.» (3)

Para os que não se incluíam nessa «ala conservadora», as feridas estavam abertas e, para alguns, não se fechariam.

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Lá chegarei um dia destes, até porque estive muito envolvida em todo o processo.

(1) Franco Nogueira, Salazar, Vol. VI – O Último Combate (1964 – 1970), 3ª edição, Civilização, Coimbra, 2000, p. 275.
(2) Idem, ibidem, p. 278.
(3) Franco Nogueira, Um político confessa-se – Diário (1960-1968), Civilização, Porto, 1986, p. 236.
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Tributo aos presos angolanos

PSD: Caldo entornado




Via «Portugal não pode mais» no Facebook.
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Marcelo e Passos



«Portugal, neste momento, parece Mary Poppins: caminha alegremente para os braços de um debate minimalista sobre a soberania do país.

O minimalismo é, como se sabe, o maior amigo do populismo e não tarda que à volta da "exclusividade" na banca se caia no debate do acessório em vez de nos focarmos no essencial. E o essencial é saber quais são as traves-mestras da soberania portuguesa e qual a estratégia para que os sectores fundamentais da nossa economia alinhem por uma lógica coerente de defesa do interesse comum dos portugueses. Já o insinuámos: isso faz-se, na falta de capitais próprios, com a diversificação de alianças. Sobretudo evitando o desejo do BCE que Portugal e Espanha sejam uma Ibéria vista a partir de Madrid. E precavendo a implosão da UE, cada vez mais notória, que nos deixaria amarrados a decisões tomadas aqui ao lado.

Como a História é um bom professor, nada como recordar o que dizia um dos grandes banqueiros do século XIX, Nathan Rothschild: "Não me interessa saber qual é o boneco que está colocado no trono de Inglaterra para governar o Império… o homem que controla o fornecimento do dinheiro à Grã-Bretanha controla o Império Britânico. E eu controlo o fornecimento de dinheiro." Talvez por isso Marcelo estabeleceu uma "parceria estratégica" com António Costa e utilizou um megafone para a afirmar. Por isso defendeu Costa de forma clara por causa da reunião com Isabel dos Santos: "Justifica-se essa intervenção a pensar na estabilidade do sistema financeiro, a pensar na afirmação do interesse público." Com isso tira o tapete a Passos Coelho e aos pajens deste, esmagando os seus argumentos sem contemplações. Por detrás das palavras de Marcelo há uma estratégia que não se esgota na defesa da intervenção do Estado num sector vital. Ele deseja, a prazo, que PS e PSD criem pontes de entendimento e que façam pactos de regime. Mas sabe que isso só será possível quando Passos Coelho deixar a liderança do PSD. Só resta o sonho se tornar realidade.»

Fernando Sobral

A selvajaria humana não é nova, nem está no ADN só de alguns

27.3.16

Antes que o dia acabe


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África, a grande vítima do terrorismo



Desde Janeiro de 2015, houve atentados de grupos terroristas islamistas em mais de 20 países, sendo que foi em África que houve mais ataques e mais vítimas.  

(Daqui)
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Dica (255)




«The violence of Isis and al-Qaida aims to terrorise enemies, mobilise supporters and, perhaps above all, polarise anyone in between. A divided, decadent Europe, riven by racial and religious fear and loathing, would be weak and fertile ground for recruitment.» 
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Se se esqueceram de mudar a hora...



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A Europa pode sobreviver?



«El último acto formal de la desintegración europea fue la reciente negociación entre los 28 líderes europeos y el primer ministro de Turquía, Ahmet Davutoğlu. (…)

Esto es sólo una manera de evitar una posición común sobre los refugiados. De hecho, se trata de mantener a la gente fuera de Europa. Como el presidente de la UE, Donald Tusk, ha advertido explícitamente “manténganse fuera, porque no son bienvenidos”, a lo que se une la absoluta inexistencia de una política europea sobre este tema. Los 28 aprobaban por mayoría un plan de reasentamiento de 60.000 refugiados, una gota en los más de un millón varados en Europa. (…)

La marea de inmigrantes ha puesto en evidencia algo que todo el mundo cómodamente pasó por alto: Europa del Este ingresó en las instituciones europeas para tener beneficios, no obligaciones. Consideran que Europa Occidental les debe dar los medios para eliminar la brecha económica y social, creada por la cortina de hierro, pese a que si el dominio soviético ha desaparecido, se debe a Estados Unidos y no a Europa. ¿Y de repente, la UE les está pidiendo tomar refugiados que escapan de conflictos con los cuales no tienen nada que ver, como Siria y Libia, que son básicamente asuntos de europeos occidentales? (…)

No hay ningún país europeo, con la excepción de Portugal y de España –donde el Partido Popular de Mariano Rajoy logra abarcar todas las posiciones de derecha–, en que la extrema derecha y los partidos xenófobos no haya crecido desde la crisis de 2009 y que a menudo son el punto de inflexión en los parlamentos nacionales. Con elecciones próximas, un cambio de la marea va a pasar por toda Europa. El cedazo será el de la derecha, incluso en países que eran símbolo de tolerancia e inclusión, como los nórdicos y Holanda.

Europa es ahora una simple recopilación de 28 países, cada uno con su propia agenda nacional como prioridad. De forma individual, han recurrido a una serie de medidas ilegales, como la construcción de muros de contención y alambre de púas, sin ningún tipo de coordinación europea. (…)

En 1900, Europa constituía 24% de la población mundial. Al final de este siglo, será de 4%, hecho que por supuesto es acompañado por una disminución de la relevancia europea en el mundo. (…)

La idea de una Europa integrada, con un fuerte componente social, de alguna manera era una idea progresista. Pero el nacionalismo y la xenofobia están regresando, gracias a la visión neoliberal, donde los mercados son los únicos actores de las sociedades, con la imposición de la austeridad y el fin de la solidaridad de los países europeos más ricos.»

Roberto Savio