«A unanimidade vai ser quase total. Pedro Passos Coelho vencerá nas palmas, nas manifestações de afecto e nos votos. Não será um congresso de discussão.
Será, a menos que alguém corajoso venha colocar dedos nas feridas, um monólogo à volta de um pastor. Será um congresso crispado perante tudo o que o cerca. De resistentes, numa aldeia de Astérix onde Passos Coelho é o bardo Assurancetourix. Quando canta não só aflige os tímpanos dos romanos dos fortes vizinhos, mas também os dos seus companheiros. Não se importa. Julga que o seu talento é intocável.
Julga-se que Passos Coelho já não acredita que é primeiro-ministro. Mas continua a achar que voltará a sê-lo rapidamente. Porque a coligação que apoia António Costa se romperá. Porque a UE e a Fitch tornarão a vida negra a Costa. Porque as contas financeiras de 2016 serão desastrosas. Porque Marcelo se cansará de Costa. Porque o Sol gira à volta de Passos e não de Costa.
Passos Coelho acredita que voltará a S. Bento e que os portugueses o aclamarão como o salvador que os vem reconduzir ao caminho religioso para a pobreza total. (…)
O discurso político bateu por KO o financeiro e miserabilista. E Passos é o representante desse monólogo sofredor, pobre e esfarrapado que se aguente algum tempo, mas não todo o tempo. O PSD, a curto prazo, depois de entronizar Passos, vai perceber isso. No fundo, todos sentem que Passos está sitiado numa fortaleza ideológica indefensável que já não cativa os portugueses. Vai vencer, mas não convencer. Os que o vão aplaudir serão os primeiros a gritar "viva o líder" quando ele cair da cadeira. Por cansaço extremo.»
Fernando Sobral
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