«No improvável confronto entre Super-homem e Batman, uma daquelas sagas que só surgem quando Hollywood tem problemas de imaginação, os heróis lutam pelo poder em Gotham City. E Batman quer que Super-homem recorde a sua mão, a do único homem que o venceu.
O confronto é político entre quem é mortal e quem se julga imortal. Num ciclo político em que poder é mais político e menos devedor do discurso económico, Marcelo e António Costa estão obrigados a conviver. Nem Marcelo é Super-homem nem António Costa é Batman. Nem o OE é Metrópolis ou Portugal é Gotham. Marcelo não deu a bênção total ao OE de Costa, fruto, como lembrou, de vontades diferentes. Mas confortou o primeiro-ministro porque este OE não é um campo armadilhado de trapalhadas anticonstitucionais (como foram os de Passos Coelho) e porque ele tem "preocupações sociais" (tema que o discurso financeiro puro do anterior Governo e do actual PSD desconhece).
Marcelo dá oxigénio ao Governo para este definir e concretizar uma estratégia que passa por este OE, pelo Plano Nacional de Reformas e pelo Programa de Estabilidade e Crescimento. Mas, sobretudo, reconhece que é preciso olhar mais para as pessoas e menos para os números. Mesmo que estes sejam determinantes, não podem ser hegemónicos. No futuro, as órbitas políticas de Marcelo e Costa poderão chocar, porque a política faz-se disso (e eles são dois dos mais fortes expoentes políticos do país), mas para já é um outro desafio que os junta. Ambos são mestres da táctica. E por isso sabem que o futuro está cheio de incógnitas económicas e políticas. A Europa é uma caixinha de surpresas e nunca se sabe se Bruxelas, Frankfurt ou Berlim não fazem um qualquer mortal encarpado um dia destes. Na frente nacional há alguns Jokers para todos os gostos, dos mais previsíveis (Passos Coelho) aos menos (a banca). É por isso que Marcelo e Costa sabem que este não é o tempo de uma luta de titãs políticos. É de saber dar tempo ao tempo.»
Fernando Sobral
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