«Portugal, neste momento, parece Mary Poppins: caminha alegremente para os braços de um debate minimalista sobre a soberania do país.
O minimalismo é, como se sabe, o maior amigo do populismo e não tarda que à volta da "exclusividade" na banca se caia no debate do acessório em vez de nos focarmos no essencial. E o essencial é saber quais são as traves-mestras da soberania portuguesa e qual a estratégia para que os sectores fundamentais da nossa economia alinhem por uma lógica coerente de defesa do interesse comum dos portugueses. Já o insinuámos: isso faz-se, na falta de capitais próprios, com a diversificação de alianças. Sobretudo evitando o desejo do BCE que Portugal e Espanha sejam uma Ibéria vista a partir de Madrid. E precavendo a implosão da UE, cada vez mais notória, que nos deixaria amarrados a decisões tomadas aqui ao lado.
Como a História é um bom professor, nada como recordar o que dizia um dos grandes banqueiros do século XIX, Nathan Rothschild: "Não me interessa saber qual é o boneco que está colocado no trono de Inglaterra para governar o Império… o homem que controla o fornecimento do dinheiro à Grã-Bretanha controla o Império Britânico. E eu controlo o fornecimento de dinheiro." Talvez por isso Marcelo estabeleceu uma "parceria estratégica" com António Costa e utilizou um megafone para a afirmar. Por isso defendeu Costa de forma clara por causa da reunião com Isabel dos Santos: "Justifica-se essa intervenção a pensar na estabilidade do sistema financeiro, a pensar na afirmação do interesse público." Com isso tira o tapete a Passos Coelho e aos pajens deste, esmagando os seus argumentos sem contemplações. Por detrás das palavras de Marcelo há uma estratégia que não se esgota na defesa da intervenção do Estado num sector vital. Ele deseja, a prazo, que PS e PSD criem pontes de entendimento e que façam pactos de regime. Mas sabe que isso só será possível quando Passos Coelho deixar a liderança do PSD. Só resta o sonho se tornar realidade.»
Fernando Sobral
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