Gago Coutinho e Sacadura Cabral iniciaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 30 de Março de 1922. Para além deste feito, o segundo deixou-nos em herança um sobrinho neto, também fadado para grandes voos, embora mais virado para submarinos do que para aviões.
Chegaram a Fernando Noronha, depois de várias etapas e muitas aventuras. No dia 11 de Maio, data deste exemplar de O Século, descolaram daquela ilha – e muitas outras peripécias se seguiram. O Editorial do jornal e uma série de textos que preenchem a primeira página são absolutamente extraordinários, tanto quanto a forma como quanto a conteúdo:
«Estua mais forte o sangue nos corações lusíadas. Uma aura emocional desprende-se das almas e flutua e adeja e liberta-se para o Alto, em ânsia e em êxtase.
Hora santificada esta. Hora terníssima e religiosa, em que o espírito da Raça ampara e impele as suas polarizações mais belas para um infinito de glória. (…)
De novo a mais bela aventura da nossa Raça, para uma das maiores de todas as idades, a águia lusitana se libra, fitando o Sol, desafiando os elementos, orgulhosamente, dominadoramente. (…)
E uma saudade há-de cair dolente sobre a pedra tumular dessa “Lusitânia” de Sonho. Rico sarcófago para uma ânsia de infinito – o Oceano! Digna lágea sepulcral essa dos Rochedos – que desafiam os séculos – para um Sonho grande – que assombrou o mundo!»
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Mas mais estranho é que eu tenha em casa um exemplar do jornal. Era Primavera em Lisboa e O Século publicou, nesse dia, esta fotografia com a seguinte legenda:
«Gentis passeantes, que o Sol de ontem atraiu a passeio, recolhendo apressadas, por se aproximar a noite».
A gentil passeante do meio era a minha mãe.
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1 comments:
Já disse isto mais de mil vezes mas não faz mal...
Tive o privilegio de Sacadura Cabral me ter pegado ao colo "n" vezes e de me dar rebuçados, aqueles redondinhos da Heller, com sabor a laranja!
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