«As duas coisas que mais me ocorrem, esteja eu a fazer o que estiver, são irritantemente as mesmas coisas que o meu pai estava sempre a dizer-me:
“Pensa!”
e
“Olha para o que estás a fazer!”
Mas, claro está, quando eu pensava, ou olhava para o que estava a fazer, os conselhos mudavam:
“Despacha-te!”
e
“A pensar morreu um burro!”
Em adulto, diverti-me muito com o meu pai ao longo dos anos, falando sobre este problema.
Infelizmente, agora há a moda de denunciar o chamado overthinking (perder tempo e capacidade de decisão a pensar excessivamente). Claro que aquilo que se pretende atacar é o pensamento, o thinking, em si.
As pessoas inteligentes que se obrigam a usar a inteligência que têm (em vez de despachar-se) hesitam muito.
A hesitação é sinal de pensamento: identifica um problema de escolha. A dificuldade é o resultado correcto: saber o que se perde quando se escolhe outra coisa, incluindo a escolha que talvez seja a mais inteligente.
O burro que morreu a pensar, por exemplo, tem muito que se lhe diga. Buridan disse que é impossível escolher entre dois bens muito semelhantes, porque não há razão inteligente para escolher um e rejeitar o outro.
Não é preciso ir para a simplificação do burro que morre porque, estando cheio de sede e de fome, é incapaz de escolher entre o balde com água e o balde com aveia que estão à frente dele.
Quando ambas as coisas desejáveis são boas, é uma reacção frequente não escolher nenhuma, só para fugir à angústia da escolha e, uma vez feita, fugir à angústia de desconfiar que se fez a escolha errada.
Mas é o exercício de escolher que faz bem. Exercita o cérebro. Obriga-o a fazer o trabalho para o qual foi concebido.
É pensar que faz bem. O tempo que leva e as decisões que se tomam por força de muito pensar são questões secundárias.
As boas e más decisões também se podem tomar sem pensar, rapidamente, atirando uma moeda ao ar.
Pensar é que é importante.
E quem sabe se um dia pode vir a ser útil?»
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