Passei uma parte da tarde de hoje a tentar compreender o alcance dos recentes acontecimentos na Tunísia. Li dezenas de textos e deixo aqui, de um modo mais ou menos descosido (e multilingue…), o principal do que retive.
Os factos são conhecidos, o que está para vir ainda é naturalmente problemático, mas sublinho o que escreveu ontem Laurent Joffrin, director do Libération:
«Avant les prudences d’usage - va-t-on vers la démocratie, l’anarchie ou bien une autre dictature ? -, il est permis, ne serait-ce qu’une heure, de laisser éclater sa joie. Privé de ses sicaires, le tyran s’est dissous comme une statue de sable. Ce régime était en toc, et tous ceux qui l’ont tenu à bout de bras au nom d’une realpolitik des imbéciles doivent maintenant expliquer pourquoi celui qu’ils tenaient pour un rempart solide contre les islamistes est tombé comme un château de cartes.»
E entre esses que respaldaram Bem Ali até ao fim esteve o antigo colono, a diplomacia francesa ultrapassada pelos acontecimentos sem mostrar o menor sinal de apoio às reivindicações de democratização, que as manifestações iam demonstrando desde há semanas.
Mas o mais importante é provavelmente não esquecer que a sociedade tunisina tinha condições específicas propícias para o que agora aconteceu, bem diferentes das existentes nos seus vizinhos árabes, como João Tunes já sublinhou. Nunca estive na Tunísia mas, do que sei sobre este país e do mês (muito pouco turista…) que passei em Argel, ficou-me a certeza de estarmos em presença de realidades profundamente diferentes. Como o texto de El País, que João Tunes transcreve, resume muito bem:
«No se puede pedir lo que se ignora. La democracia exige un conocimiento previo de los valores laicos que la alimentan. Y dicho conocimiento no existe en ningún país árabe con la profundidad y arraigo que tienen en Túnez. El Gobierno de Burguiba desde la independencia hasta los años ochenta sentó las bases de un Estado laico y democrático. Un sistema educativo abierto a los principios y valores del mundo moderno, el estatus de la mujer incomparablemente superior al de los países vecinos y un nivel de vida aceptable en comparación con estos, pese a la carencia del maná del petróleo, formaron una ciudadanía consciente de sus derechos. En ello estriba la diferencia existente entre Túnez y los demás Estados árabes de la orilla sur del Mediterráneo.»
Finalmente, se tudo é ainda incerto, ninguém apagará este desabafo comovido de Jean Daniel, um dos fundadores do Nouvel Observateur, a poucos meses de chegar aos 90:
«Je suis un homme âgé. Mais il y a deux choses qui me rajeunissent et dont je suis reconnaissant au sort qui m'a permis de les vivre : la première a été, avec Obama, l'arrivée d'un noir à la Maison Blanche, la seconde de voir mes amis fraternels inaugurer la première révolution du monde arabe.»
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Um filme de animação de Fahem Med Ali: uma homenagem «aos mártires mortos pela liberdade»:
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1 comments:
Ontem li uma interpretação que me pareceu muito pertinente, do editor do semanário die Zeit: Quanto melhor for a situação económica, maior é a pressão para o povo aceder à riqueza. A Tunísia tem um rendimento per capita superior ao dos países da região - o dobro do Egipto ou da Síria, por exemplo. Também tem melhores quotas de exportação, e uma – comparativamente - grande parte da população com acesso à Educação. Em suma: quanto mais desenvolvido for um povo, menos predisposto está a ser humilhado. A China ainda vai aprender isso: o seu rendimento per capita corresponde a 1/3 do tunisino.
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