Parece que quem escreve artigos de opinião tem direito a defender tudo o que lhe passa pela cabeça, mesmo em órgãos de comunicação social que são, ou já foram, considerados de referência. Admitamos que sim, como hipótese de trabalho, e continuemos pois a ler César das Neves, no DN, todas as segundas feiras – a vida é também feita de rituais.
Sexo é tema que lhe é especialmente caro e propõe-se hoje defendê-lo, já que «os ministros, que fizeram explodir o défice, subsidiam abortos e querem distribuir preservativos gratuitos nas escolas». Importa proteger os nossos ingénuos adolescentes que estão a ser vítimas de ensinamentos radicais e inaceitáveis em matéria de «deseducação sexual», apenas comparáveis à hipótese de ser incluída, no currículo escolar, a defesa da «ditadura do proletariado e da revolução permanente». Trata-se de combater «a intensa campanha para coagir a sociedade a seguir alguns princípios, autodenominados de progressistas, justos e livres», que «até há pouco chamava "porcalhões"», já que «os esquerdistas andam agora paradoxalmente aliados a marialvas e proxenetas».
Bons tempos, para o dr. César das Neves, eram aqueles em que os rapazes da província, com 13 ou 14 anos, eram levados à capital do distrito pelos irmãos mais velhos e a pedido dos pais, para tremerem como varas verdes quando uma D. Balbina os desflorava sob o olhar cúmplice de um cão enroscado em cima dos cobertores. Ou quando os jovens universitários de Lisboa, mesmo os radicais de 62, frequentavam andares esconsos da Rua do Mundo porque as namoradas casavam virgens e nem sequer podiam sair à noite. Mesmo sabendo, uns e outros, que muitas das suas mães tinham casado «à pressa», já grávidas, para evitar vergonhas familiares.
Isso, sim, era o saudoso e admirável mundo para todos os César das Neves deste país. Devem ser bem infelizes, não?
10 comments:
esse homem, mais todos os que se escandalizam com a distribuição de preservativos a adolescentes, deviam ser teleportados para idade média
Balhamedeus mailo Jota Cê das Ene.
Joana, não sei se deva ver, num artigo do “i”, de Rosa Ramos/Lusa, com o sugestivo nome “Até que ponto conhece as suas vizinhas?”, uma reconstituição desse “saudoso e admirável mundo” que referes.
Não encontro nenhum link que permita a leitura completa do artigo e isso obriga-me a um, para mim , muito difícil resumo. Faço-o por tópicos:
- os moradores dum prédio em condomínio descobrem a existência de duas prostitutas entre si
- um GNR era um desses moradores e não podia fazer nada “sem provas”
- um morador faz-se passar por um eventual cliente, e houve a certeza de que eram mesmo prostitutas, todos os inquilinos foram informados, organizaram turnos, bloquearam a fechadura de entrada, tiraram fotografias aos homens que apanhavam nas escadas, anotaram as matrículas dos carros parados à porta e articularam as fotografias com as matrículas dos carros
- depois interpelavam os homens que apareciam e diziam-lhes que, se voltassem, mandavam as fotografias para casa em nome das mulheres
- aparece, além da GNR, um agente reformado da PJ que também residia no prédio e, sob as suas instruções, combinaram um estratagema
- apanharam um cliente, saíram-lhe ao caminho, começaram a discutir, uma vizinha meteu-se em frente, o tal cliente afasta-a com a mão e então todo o pessoal sai a acusá-lo de agressão
- andaram naquilo um ano
- realizada a agressão, fizeram queixa na GNR, foram envolvidos os nomes de diversos “senhores casados” e não chegou tudo ao tribunal porque acabaram por fazer um acordo
- as prostitutas saíram do prédio, mas acabaram por não ir “para longe”
Sem comentários.
Vou deixar de comprar o “i” e voltar à minha antiga imprensa. No Sábado tem um editorial que, irresponsavelmente, sugere a possibilidade dum eugenismo. Hoje, apresenta uma reacção corporativa a Marinho Pinto, em que até põe o director da PJ a apreciar o outro.
Enfim, é demais, vou ler para outro lado.
Um abraço
Por acaso acho uma certa piada a quem ainda não percebeu que grande parte da libertinagem sexual a que se assiste representa um machismo ultra-extremado. Acenando com a "cenourinha" da liberdade sexual, muito macho português conseguiu a proeza de já não precisar de ir a qualquer D. Balbina. Tem as amigas da escola, que fazem as vezes de D Balbina e ainda pensam que são muito livres.
Acho que esta sociedade desprotege as raparigas, pensando que lhes está a dar liberdade.
Cumprimentos
Luís
Ui, Caro Luís, já não pensava ler algo deste tipo quanto a «desprotecção» actual das raparigas! Se for preciso elas até aprendem Karate, mas dispensam a protecção que as Donas Balbinas constitutiam...
Joana:
Não acha muito cómodo aos rapazaes de hoje, terem à disposição meninas diferentes da D Balbina? De graça...
A D Balbina não protege ninguém.
E se eu lhe responder que as raparigas de hoje têm a sorte de ter rapazes «de graça»? Dantes, nem de graça, nem a pagar...
a mim ninguém me protegeu das raparigas, essas assanhadas que quiseram desvirtuar-me.
eheh mas o q interessa é q te mantiveste firme, drmaybe
é verdade, apesar de algumas investidas melhor sucedidas (e a carne é fraca), mantive-me firme e firme manter-me-ei, ajude-me o nosso senhor do comprimido azul.
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