27.9.10

Un problemita, camarada Hugo


Teria sido necessário que o partido de Hugo Chávez conseguisse eleger 110 deputados, ontem, na Venezuela, para controlar dois terços do Parlamento e assim para poder fazer aprovar determinadas leis orgânicas e controlar algumas nomeações, sem ser obrigado a negociar com a oposição que vai agora ocupar 64 dos 165 lugares em jogo (resultados provisórios). Isto apesar de a lei eleitoral ter sido alterada de modo a aumentar o número de deputados das regiões tradicionalmente mais fiéis ao presidente – não foi suficiente...

Em 2005, a oposição não concorreu e a abstenção foi elevadíssima, desta vez foi a menor de sempre.

Lá se foram os cheques em branco, o que acontece aos melhores... Seja qual for o balanço que seja feito da actuação de Chávez, houve ontem uma pequena vitória da democracia e uma derrota do populismo.

(Fonte), entre outras.

P.S. – A discussão deste post no FB vai, neste momento (19h30), com 38 comentários. Endereço para quem tiver acesso.
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4 comments:

LF disse...

Joana: a "derrota" dos 2/3 do PSUV pode ser encarada como uma derrota do populismo, mas dificilmente uma vitória para a democracia. Lembre-se quem estava no poder antes de Chávez e o que fez com ele. E "negociar" é "democrático", mas quando a oposição ambiciona políticas diametralmente opostas ao PSUV poderemos ver um processo com potencial revolucionário a confinar-se, ainda mais, ao parlamentarismo. Quanto mais a leio mais me convenço que não só acredita que a democracia se resume ao parlamento, como se tem de apoiar em negociações com a oposição (como se o PSUV não fosse plural e não reunisse forças para além das chavistas). Creio que o processo na Venezuela terá menos pernas para andar do que teve o projecto de Allende. E sinceramente, que tipo de sociedade gostava de ver a Joana implantada na Venezuela?

Joana Lopes disse...

LF, Populismo, como Chávez o pratica é, para mim, sintoma de falta de respeito pela democracia e não lhe reconheço, não só mas também por isso, «potencial revolucionário».
Pelo que leio, «a oposição conseguiu 52 por cento dos votos populares, que não se traduziram numa maioria parlamentar devido à distribuição dos lugares por Estados». Mais de metade dos eleitores venezuelanos são terríveis reaccionários? Mude-se então o povo…
Que tipo de sociedade gostaria de ver implantada na Venezuela? A minha resposta é simples, imagine…: não sei. Responderia o mesmo quanto a Portugal. Sei que NÃO é a que existe, nem lá nem cá, nem em nenhum país do mundo neste momento. Sei os valores que gostaria de não ver renegados, creio que o puro parlamentarismo é obviamente insuficiente e, porque sou optimista quanto ao progresso na História em geral, acredito que serão encontradas no futuro formas de concretizar organizações mais justas e mais correctas – mas NUNCA totalitárias.

LF disse...

Mas Joana, se o que existe na Venezuela, em Portugal e no mundo em geral é a instituição do parlamento como órgão soberano, demasiadas vezes submetido ao poder económico anónimo e que extravasa as fronteiras de um país, como romper com esse ciclo? É clamando que a vitória de uns lugares por parte de uma oposição, que não quer mais que "business as usual", vai alterar as relações de poder e permitir uma democracia que ultrapasse a simples política e penetre na economia?

Não vejo condições nenhumas para que haja uma verdadeira revolução num só país, quanto mais na na Venezuela, país que tem o crescimento assente nas importações de petróleo, mas vejo no bota-abaixismo de certa esquerda uma intransigência para com a via chavista que me incomoda profundamente. Temos de estar cientes dos perigos do totalitarismo (sobretudo o perigo que correm os sindicalistas independentes, o controlo da imprensa por parte do Estado) mas também temos de ponderar o que significa ver a oposição a ganhar poder. Todas as legalidades, respeito de propriedade privada, etc. já tornam impraticável uma solução socialista radical...

LF disse...

(queria dizer "exportações" em vez de "importações". esse não é um problema desprezável. nesse aspecto, a venezuela com ou sem chavez é a mesma e tem um modelo económico absolutamente insustentável.)