30.4.15

Um futuro opaco?



«Com a sua imensa sabedoria, o Cavaleiro de Oliveira dizia a quem o queria escutar: "Portugal é um relógio sempre em atraso, onde tudo chega quando nos países de origem já não tem uso".

Terminado o período de romantismo do 25 de Abril e a euforia consumista que nos hipnotizou a seguir à entrada na então Comunidade Económica Europeia e a adesão ao euro, Portugal teve de se confrontar com a dura realidade: é um país pobre que, quase sempre, esteve refém de uma elite que pilhou os seus parcos recursos em proveito próprio. (...)

Neste período pré-eleitoral assiste-se à cristalização de ideias. O que é catastrófico para um país que precisava de novos desafios para o futuro, para tornar a missão impossível em que se transformou o futuro de Portugal durante a troika numa missão possível. (...) Olhando para os primeiros sinais dos partidos do arco do poder parece evidente que os políticos colocaram o pensamento nas mãos de técnicos e sábios económicos. Como se tudo hoje tivesse como base a economia. Isto está a transformá-los em gestores sem pensamento próprio. A substituição da política pela ideologia da administração das coisas públicas tornou-se o novo paradigma. Por isso, as alternativas afunilaram-se à volta de seguidores mais ou menos ortodoxos do Tratado Orçamental da UE e onde as variantes são a aposta numa economia exportadora ou no aumento do consumo interno. (...)

Se juntarmos a tudo isso uma desertificação das ideias a nível político, onde o pensamento foi substituído pelas políticas de comunicação, com mensagens e promessas destinadas a não serem cumpridas, e o ideal eterno que o futuro do país continuará a ser forjado por uma elite que vive no reino das maravilhas da cumplicidade e da corrupção de interesses pessoais, torna-se o futuro nacional muito opaco.»  

Fernando Sobral
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