«Os últimos dias de António Domingues à frente da CGD parecem um pouco a história do imperador romano Cláudio. Nesse tempo, as consequências foram mais gravosas: Cláudio foi envenenado por Agripina, a sua quarta mulher, e mãe de Nero. (…)
Não sabemos como o ministro das Finanças descobriu António Domingues para ser o maestro da CGD, mas o que começou mal nunca se endireitou. O gestor talvez se tenha equivocado e julgado que era um rei absoluto e que à sua volta existiam apenas subordinados mudos. Talvez alguém lhe tenha dito que assim era. Mas esse foi o maior dos equívocos. A sua presença na CGD foi um tiro no pé de Mário Centeno, que teve uma visão qualquer quando o escolheu. Os dias de António Domingues na CGD foram dignos de um filme sobre zombies e fantasmas.
Julgava-se, erradamente, que António Domingues tinha saído da instituição pública. Afinal ele continua por aí, no meio de uma bola de neve crescente que vai ameaçando o futuro da CGD. A sua presença no Parlamento dá-lhe mais uma vez um palco dispensável. Quando diz, para se defender, que "os gestores não querem ver património pessoal publicado em tablóides", levanta uma questão impertinente: os gestores de que fala já admitiriam ver publicado esse património se fosse em jornais de "referência"? Ninguém gosta de ver o seu património nos jornais, mas Domingues tem de admitir que, ao ir para um cargo cimeiro de uma entidade pública, esse escrutínio é necessário e democrático. Com argumentos assim, António Domingues não se defende: esconde-se atrás das cortinas. O problema é que elas são transparentes. Começa a ser tempo de falar de futuro. E não deste desastrado passado.»
Fernando Sobral
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