A onda de indignação que se ergueu quando se soube que a sociedade Francisco Manuel dos Santos tinha transferido o seu capital para a Holanda, para fugir ao peso dos impostos em Portugal, é mais do que justa, sobretudo se nos recordarmos dos discursos éticos e patrióticos do seu «dono». Os comentadores comentaram, as redes sociais socializaram, pede-se boicotes e reclama-se salários iguais aos dos holandeses para os empregados do Pingo Doce. Tudo bem e assim pode e deve ser.
Mas ainda não percebi por que razão não se assistiu à mesma vaga de fundo, em termos de protesto, quando foi anunciado que, também nos últimos dias de 2011, a Caixa Geral de Depósitos mudou aplicações financeiras para as Ilhas Caimão por ter terminado, na Madeira, a isenção de IRC e uma tributação favorável dos juros para depósitos de cidadãos não residentes. Não me lembro de ninguém ter pedido fecho de contas no banco em questão, nem incitado a uma corrida sistemática a levantamento de depósitos.
E, no entanto, se, no primeiro caso, estamos em presença de um cidadão pouco exemplar na sua conduta, no segundo, tratou-se de um exercício fiscal autofágico do Estado português. (E a Holanda sempre é mais «respeitável» que as Ilhas Caimão, onde as regras de controlo, por exemplo para detecção de lavagem de dinheiro, deixam muito a desejar. Há menos de um ano, ainda figuravam, em Portugal, na lista negra de zonas fiscais.) Menos grave? Porquê, exactamente? Algo deve estar a escapar-me.
P.S. – Nem de propósito: CGD chamada ao Parlamento para explicar operações financeiras em offshores.
.
4 comments:
Deixamos-lhe aqui o que postámos sobre este assunto.
Muito bem, Joana.
Abraço
miguel(sp)
Bom, Joana, a única coisa que posso responder, uma vez que tenho partilhado todas essas iniciativas de indignação, é que essa info nem sequer passou por mim. Estive fora, um bocado alheada de algumas notícias, é verdade, mas esta é a primeira vez que leio tal coisa. Quem deu por isso deveria ter feito um trombone ainda maior do que se fez com o Soares dos Santos.
Ainda vamos a tempo. Menos mau, se a AR está em cima da questão. Mas sabemos bem que não basta, infelizmente.
A razão porque a CGD passou ao lado, é porque foi completamente abafada pela imprensa. Apareceu nas notícias no dia, mas no dia seguinte nem pio. A questão da Jerónimo Martins tem sido explorada ao máximo. Começo a achar que existem razões políticas por trás disto.
Enviar um comentário