25.10.19

Pântano ou oásis?



«A estabilidade, segundo António Costa. "Este Governo é para quatro anos, comigo não há pântanos", assegura numa reunião do Grupo Parlamentar do PS.

Liberto dos compromissos à Esquerda que cimentaram toda uma legislatura, a rejeição da "teoria do pântano" do 2.º Governo de António Guterres (demissionário após os maus resultados nas autárquicas de 2001 e de pouco mais de dois anos de poder em agonia) é usada por Costa para uma revisitação da "teoria do oásis" de Braga de Macedo, corriam os tempos idos de Cavaco Silva. Até que que haja obstáculos intransponíveis que permitam vitimização, gere-se a maioria relativa, navegando à vista, até ao limiar da maioria absoluta assim haja perspectiva. António Costa pode estar mesmo convicto de que os eleitores esquecerão facilmente as virtudes dos acordos à Esquerda dos últimos anos. Uma questão de fé na táctica.

A "geringonça" - que muitos apelidavam de experimentalismo táctico condenado ao insucesso - foi um teste de referência de quatro anos e acrescentou dimensão democrática à leitura política do país. Inspirou pluralismo, diversidade e a ideia de que é possível fazer mais com outros protagonistas. Apesar do lamentável fim da imunidade portuguesa à presença da extrema-direita no Parlamento, também assim se compreende a vontade popular em abrir o hemiciclo a novas forças partidárias. E assim vamos. A estabilidade para Costa é agora um movimento transitório. Está tudo bem até que fique mal. Receita para quatro anos de instabilidade em oásis.

Se Guterres era o primeiro-ministro do diálogo e caiu num pântano, Costa aborda um oásis a falar só para os seus. A quantidade não conduz forçosamente a qualidade mas 50 secretários de Estado é número redondo, "trade mark" para o XXII Governo Constitucional. Somando estes números a ministros, serão 70. A ideia de que todos-não-somos-de-mais viaja desde tempos imemoriais. Compete às elites compreender o esforço colectivo dos homens. Durão Barroso, precisamente aquele que em 2002 sucede ao pântano de Guterres, assegura que "as elites portuguesas não têm estado à altura da capacidade notável de resiliência que o povo português tem demonstrado". Se "a nossa fronteira não é em Vilar Formoso", como assegura, também a sua não será a da vergonha. Durão Barroso transporta o manual das portas giratórias e do esforço individual para as olear. É também, sabemos agora, possuidor de admiráveis qualidades para se ler ao espelho. O pântano é mesmo aqui.»

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