«Ontem, pela primeira vez no último ano e meio, provei realmente o sabor do dito regresso à normalidade. Num curto espaço de tempo Portugal passou de pior país na sua relação com a pandemia, para um dos melhores, naquele tipo de avaliações que parecem feitas para agradar a crianças em idade pré-escolar. Na zona onde (ainda) habito grupos de turistas estão de regresso em força, movendo-se em grupo, procurando o entretenimento instantâneo, para compreensível entusiasmo dos espaços preparados para os receber, e para os empregos que do turismo dependem. Mas há uma atmosfera estranha no ar. Não diria que é hostilidade dos restantes habitantes ou transeuntes do bairro, é apenas uma espécie de melancolia, uma resignação por se perceber que o reavaliar do modelo económico, ou como durante anos se chamava, de ‘desenvolvimento’, é apenas uma miragem. A cidade vai fragmentar-se ainda mais entre os que vão sendo expulsos dela, das mais diversas formas, e quem a pode desfrutar. No meio, os que encolhem os ombros, vivendo na ilusão da monocultura do turismo, dependentes das oscilações globais, até à próxima pandemia, ou outro acontecimento qualquer.»
Vitor Belanciano no Facebook
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