«No dia em que milhares de turistas britânicos aterravam no aeroporto de Faro, o director da Região de Turismo do Algarve deixava no ar uma constatação que tanto serve de regozijo, como assusta. “Toda a Europa está a falar na vantagem de Portugal”, dizia João Fernandes. Depois de longos meses de isolamento que levaram o sector do turismo ao limite e causaram danos irreparáveis na economia, verificar que a Europa olha para o controlo da pandemia como uma “vantagem” para as suas férias é animador. Depois de nove meses de estados de emergência e de situações de calamidade até que o esforço dos cidadãos foi capaz de vergar o número de infecções para uma dimensão invejável à escala europeia, o assalto de estrangeiros a praias, hotéis ou restaurantes é uma preocupação.
É caso para se recordar que não podemos ter o sol na eira e a chuva no nabal, como é caso para dizer que Portugal está a beneficiar do seu sucesso e pode tornar-se vítima dele. Ser o primeiro país da Europa do Sul com a pandemia controlada torna o país um oásis; estar nessa condição torna-o um refúgio.
Não se trata de ser pessimista ou de recusar a oportunidade de recuperar a um sector crucial da economia. Trata-se apenas de perguntar se o desconfinamento não está a ser rápido de mais. Se o Governo não está a confundir a calmaria, que existe, com o fim da tempestade, que não aconteceu; se depois da desobediência patrocinada pelo laxismo dos poderes públicos na festa do Sporting não haverá uma tendência geral para o facilitismo; se a abertura de portas a turistas da forma descontrolada (deixando de fora na Europa apenas dois países importantes, a Holanda e a Suécia) não será um daqueles casos em que a ânsia se sobrepõe à prudência e a necessidade económica à protecção dos cidadãos.
Ter a situação controlada exigiu um preço elevadíssimo. É esse preço que justifica a discussão sobre se abrir as fronteiras sem outras exigências senão um teste a turistas vindos de países ainda em sobressalto, onde as taxas de vacinação continuam baixas e nos quais a disseminação de variantes como a indiana gera ainda aflição foi ou não uma boa escolha. Estamos, obviamente, a insistir numa discussão especulativa por incapacidade de prever o que vai acontecer. Há bons argumentos para defender a escolha feita. O que não podemos negar na realidade actual é que, com esta abertura escancarada de fronteiras, o nível de risco da pandemia no país aumentou. Oxalá em Julho, no auge da temporada turística, haja razões para dizer que a “vantagem” de hoje foi bem aproveitada.»
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1 comments:
Inteiramente de acordo
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