«O primeiro-ministro, Luís Montenegro, prepara-se para ver o seu Governo cair, no Parlamento, na terça-feira, dia em que será votada a moção de confiança que decidiu apresentar e cujo chumbo já foi anunciado pelo PS e pelo Chega. Mas Luís Montenegro já afirmou que continuará a liderar o PSD nas eleições legislativas antecipadas, que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já anunciou que convocará para 11 ou 18 e Maio.
Esta decisão foi assumida, logo na terça-feira, pelo secretário-geral e líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, em entrevista à SIC Notícias, e secundada, na quarta-feira, por um comunicado conjunto de apoio a Luís Montenegro assinado pelas estruturas regionais e distritais do PSD. E o próprio primeiro-ministro considerou que “a situação política é conhecida, a situação do PSD é conhecida e não sofreu alterações”, em declarações feitas em Bruxelas, onde participou no Conselho Europeu.
Percebe-se que Luís Montenegro queira manter-se à frente do PSD, disputar novas legislativas, liderando a Aliança Democrática. Percebe-se até a narrativa que a direcção do partido, vários membros do Governo e o próprio primeiro-ministro têm construído. Sente-se perseguido, vitimiza-se, considera que há irresponsabilidade dos partidos da oposição. Mas, de facto, não mostra ter percebido ou, se calhar, não percebeu mesmo, em que é que errou, em todo este processo. Está politicamente ferido, mas agarra-se ao lugar de líder partidário, numa tentativa de desforra política eleitoral, em que poderá até crescer. Saliente-se até que o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou, quinta-feira, em entrevista ao Observador, o desejo de uma maioria absoluta: “Claro que gostávamos de ter maioria absoluta, e acho que a merecemos.”
O Governo vai cair, na terça-feira, depois de uma desgastante polémica que estava a paralisar a governação, num curto processo final de estertor. Mas em que todos cumpriram bem o seu papel, o PCP, ao apresentar a moção de censura de terça-feira, precipitou o processo de apresentação da moção de confiança pelo Governo, sobretudo depois de o PS ter anunciado que ia pedir a criação potestativa de uma comissão parlamentar de inquérito, para averiguar se o primeiro-ministro não cumpriu o dever de exclusividade do cargo e se entrou em conflito de interesses.
E até Luís Montenegro esteve bem, finalmente, ao dar o passo em frente e apresentar a moção de confiança, depois de ter andado mais de duas semanas a enrolar-se numa teia de suspeições, ao não divulgar as empresas a que a sua empresa familiar prestava serviços de consultadoria em protecção de dados – até agora, só foram divulgados os contratos permanentes –, quais os serviços prestados e por que valor.
Por mais que Luís Montenegro se diga injustiçado, a verdade é que a responsabilidade pela crise política instalada é dele próprio. É sobre ele que caem as suspeitas de conflito de interesses por ter recebido, no seu património, avenças mensais de empresas, entre as quais a Solverde, que tem a concessão de jogo, enquanto exercia a função de primeiro-ministro, que obriga a exclusividade.
Não colhe Luís Montenegro argumentar que não recebeu nada. Isto porque o problema não é esse, a questão de fundo é que é casado em comunhão de bens adquiridos, logo, é co-responsável pelo património da mulher, quer sejam lucros, quer sejam dívidas. Aliás, na comunicação ao país que fez no sábado, o próprio Luís Montenegro reconheceu isso, ainda que sem o verbalizar explicitamente, ao anunciar que ia passar a quota da mulher na empresa familiar para os filhos, que passariam a ser os únicos sócios, o que foi formalizado na quarta-feira.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou eleições em 11 ou 18 de Maio. É um calendário apertado, de cerca de dois meses, mas é tempo suficiente para o PSD eleger um novo líder. Lembremos que António Costa demitiu-se de primeiro-ministro a 7 de Novembro de 2023 e que Pedro Nuno Santos foi eleito secretário-geral a 16 de Dezembro.
Nada impede que o PSD mude de presidente para partir para a campanha eleitoral de cara lavada e sem pedras no sapato. Ou seja, sem estar sujeito a uma campanha eleitoral em que o caso pessoal de Luís Montenegro vai ser usado pelos partidos na oposição para o combate político.
Por agora, multiplicam-se com veemência os apoios a Luís Montenegro, e há mesmo assumidas profissões de fé na sua liderança. Resta saber o que dirão agora sobre Luís Montenegro personalidades como Aníbal Cavaco Silva, que tanto o apoiou no passado. Admito que o PSD ainda esteja em estado de choque com o que aconteceu nestas três semanas, mas será que ninguém se vai posicionar para a liderança? Será normal o PSD manter Luís Montenegro como líder? O PSD ainda é o PSD?»
1 comments:
"O PSD ainda é o PSD?"
Pois, não sei bem o que dizer! Talvez, ainda tenha que haver mais purgas para a extrema direita...
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