5.10.07

Carlos Saura e os «Fados»


Vi e não gostei. Há fados, muitos fados, muitos fadistas, há belas imagens, mas o resultado é desconjuntado.

Parece uma sopa de pedra, tantos foram os ingredientes postos no caldo – nem sempre bem escolhidos ou bem combinados, na minha opinião. É o caso de muitos bailados estilizados com má relação com que é ouvido (especialmente gritante quando canta Marceneiro). Até a longa exibição de imagens do 25 de Abril enquanto Chico Buarque interpreta o seu belíssimo «Fado Tropical» me pareceu metida a martelo – foi a primeira vez que não gostei de as rever.

Há ausências estranhas. A mais gritante: a do fado de Coimbra (quando há um fado do Porto).

O filme está cheio de interpretações africanas e latino-americanas para mostrar (a quem sabe) as possíveis raízes do fado. Tanta é a mestiçagem exibida que mais parece um filme propagandístico encomendado pela CPLP. Nesse contexto, é capaz de resultar.

Diz-se que já foi vendido a mais de vinte países. Saí com a sensação de que os chineses vão gostar – com a mesma estranheza que nos faz admirar alguns dos seus espectáculos com sonoridades exóticas.

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P.S. (1) - É bem verdade que gostos já não se discutem. Já tinha escrito ontem este post e só não o publiquei por anomalias da Netcabo. Entretanto li agora o texto do Fernando Redondo. Bem diferente...

P.S. (2) - Lida depois de publicação: a opinião de Lauro António. Sinto-me mais acompanhada...


4 comments:

samuel disse...

Há tempos ouvi uma pessoa ligada às letras, afirmar numa entrevista que detestava a Agustina Bessa-Luís e não tinha lido nenhum livro dela...
-Mas porque é que não leu?
-Porque tenho medo de gostar de algum!

Este objecto dos fados tem todos os ingredientes para me enervar... mas não vou ser tão radical como aquela amiga e qualquer dia vejo, mesmo correndo o risco de vir a gostar de algumas partes. Digos algumas, pois outras que ao que sei, fazem parte do filme "é que ni hablar!..."
Acho que está para nascer o coreógrafo que me faça gostar de ver um grupo de bailarinas a saltitar enquanto se canta uma canção! (por exemplo)
A crítica do Lauro António apenas agravou os meus receios.

F. Penim Redondo disse...

Acho que não temos opiniões muito diferentes o que, se fossem, até tinha a sua graça.

Eu até concordo com quase tudo o que dizes com excepção das imagens do 25A que me comoveram naquele preciso contexto (eu sempre adorei aquela canção). Como viste eu próprio faço um grande número de críticas.

A diferença entre nós é mais do tipo copo meio-cheio ou meio-vazio.

Eu, como sou um chato, dá-me gozo ter sido um espanhol a fazer e, apesar das deficiências, acho que é melhor o filme ter sido feito do que continuarmos todos à espera do tal subsídio para fazer a tal obra prima definitiva.

Joana Lopes disse...

Quanto às imagens do 25 de Abril, o que achei foi que estavam (mal) «ensaduichadas» - e, como tal, prejudicadas - entre bailaricos.

Quanto a subsídios, o Saura teve-os e não foram poucos, ao que parece.

Mas enfim: é só um filme...

Anónimo disse...

Vou ver porque é a Espanha que nos promove e quero ajudar a causa !
Quanto pior pior!
ainda bem que não está lá a Estrela Morente!
mas, vou ver com entusiasmo!