ACTUALIZADO (**)
Na sequência dos discursos proferidos por Sarkozy, no Vaticano em 20 de Dezembro e ontem na Arábia Saudita, e das reacções que os mesmos estão a provocar, o Libération publica hoje um conjunto de artigos relacionados com a questão da laicidade.
Num país como a França, onde a separação entre Igreja e Estado parecia intocável, Sarkozy está a abalá-la com os seus elogios à moral cristã e ao papel das religiões como fundamento das civilizações.
Não o faz à toa. Jean Baubérot, professor de história e sociologia da laicidade, explica, numa curta entrevista, que Sarkozy e os seus conselheiros conhecem bem as teorias pós-modernistas e tiram partido de incertezas, em tempo de declínio das ideologias e de confiança nos méritos do progresso. Fazem-no numa «tentativa neoclerical de re-ligação entre religioso e político, de instrumentalização do religioso pelo político» (*).
Alguns excertos dos discursos de Sarkozy parecem claros.
No Vaticano, a propósito da encíclica de Bento XVI sobre a esperança:
«Um homem que crê é um homem que espera. E é do interesse da República que haja muitos homens e muitas mulheres que esperem.»
E ainda:
«Se existe incontestavelmente uma moral humana independente da moral religiosa, a República tem interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas.»
Uma outra afirmação provocou a fúria das associações de professores:
«Na transmissão dos valores e na aprendizagem da diferença entre o bem e o mal, o professor nunca poderá substituir o pároco ou o pastor, mesmo se é importante que se aproxime, porque lhe faltará sempre a radicalidade do sacrifício da sua vida e o carisma de um compromisso guiado pela esperança.»
«Laicidade positiva», chama-lhe ele. Perigosa e um retrocesso civilizacional, considero-a eu.
Estejamos atentos ao que aí vem dessa Europa onde, cada vez mais, mandarão os grandes - com este francês tão activo e tão admirado, com um papa muito inteligente em Roma, bispos aguerridos em Espanha, polacos de um catolicismo ultra-conservador e um Tony Blair, recém-convertido, à espreita da presidência do Conselho europeu.
(*) Jean Baubérot tem um blogue dedicado a esta problemática.
(**) Pode ouvir reacções aqui.
3 comments:
A resposta da Universidade italiana a este avanço obscurantista não me parece ter sido das melhores. Serviu apenas para vitimizar um Papa que poderá ser tudo na vida menos vítima
Pois, também acho que foi um «fait divers» evitável.
perigoso sim.
eu por acaso gostei do "chega pra lá" da Universidade. vitimizando-se ou não, porque diabos há-de o homem de entrar onde quer e dizer o que quer? a mais nenhum chefe religioso isso é permitido...
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