18.1.09

E se as legislativas fossem amanhã?












Um micro-post em que me regozijei por as sondagens indicarem que o PS perderá a maioria absoluta, e que o BE passará a terceira força na AR, mereceu não só um número razoável de comentários, como mails pessoais que continuam a chegar.

Aproveito para esclarecer, porque respondi directamente a quem mo perguntou: em princípio, votarei BE. Por algumas razões óbvias, e outras talvez nem tanto assim, estão fora de questão CDS, PSD ou CDU. Acrescento que detesto abster-me e me sentiria parva se votasse branco ou nulo (feitios...). Restaria portanto o dilema PS / BE – de resto a única alternativa que parece estar em questão para todos os que me interpelaram.

Correndo o risco de escandalizar alguns, neste sistema em que vivemos – o tal que, até ver, é menos mau do que todos os outros –, na hora de votar, deixo à porta utopias e, só até certo ponto, ideologias.

Julgo que nunca votei PS nas legislativas e fá-lo-ia agora menos do que nunca, antes de mais pela tal esperança de que perca a maioria absoluta. É tempo de este país amadurecer democraticamente, com os chamados partidos do poder a governarem humildemente – se não sabem, aprendam e habituem-se. Ninguém me convencerá a contribuir para o espectáculo de exibicionismo, prepotência e arrogância em que vivemos – nem em nome da eficácia, nem por causa da crise, nem pelo esplendor de Portugal.

Resta-me por isso o Bloco – por exclusão de partes. A alguém que muito estimo (e de que maneira...) e que me escreveu ontem que seria incapaz de votar em quem nunca pôs em causa estalinismos, maoismos e outros ismos, respondi que talvez tivesse isso em conta se houvesse hipótese de o Bloco vir a ser o partido mais votado. Não sendo o caso, quero contribuir para que aumente a sua representação parlamentar, aplicando, aqui e de novo, o tal princípio de que o considero menos mau do que todos os outros.

E por aqui me fico. A quem me perguntou ontem se os meus posts estavam a minguar por influência do Twitter, demonstrei agora que não – infelizmente?

14 comments:

Héliocoptero disse...

Tirando uma coisa ou outra, assino por baixo.

Anónimo disse...

Palermice.

jose reyes disse...

Argumenta como uma miúda de 10 anos.

Anónimo disse...

Chego aqui e vejo um Anónimo falar de palermice. Só se for a dele que nem sequer dá o nome.
Para o José: há miúdas de 10 anos que argumentam muito bem.
Quanto à Joana Lopes, agradeço: fez-me reflectir numa série de aspectos que talvez me escapassem.

José Barroso Dias disse...

Joana, não diria melhor. Para além dos argumentos que utilizas e que já são suficientemente fortes, para quem queira ser mais objectivo em relação ao trabalho do BE,recomendo que estejam mais atentos ao trabalho dos parlamentares deste partido na AR.Têm desenvolvido um trabalho sério e vasto, em defesa de temas muitas vezes totalmente esquecidos por outras bancadas. Embora eu também ainda o considere um partido de esquerda, neste momento votar PS não é solução e só iria aumentar os laivos de autismo e prepotência que este governo maioritário tem demonstrado.E depois.... votar num partido que tem como figuras destacadas personagens como José Lello ou Vitalino Canas, para já não falar de Armando Vara, é mesmo mau gosto. ... e que pena vermos pessoas como Alberto Martins ou Santos Silva a desempenharem papeis tão tristes como os têm feito. Assim sendo, e porque votar à direita está completamente fora de causa, e como votar no PC também está, resta-nos o BE, e tenho mesmo de dizer que para mim não é engolir nenhum sapo.... é simplesmente o resultado das minhas ideias e convicções cruzadas com a análise do espectro partidário actual bem como do desempenho de cada um dos partidos e dos homens e mulheres que os compõem.

Joana Lopes disse...

Olá, Zé,

Ainda bem que hoje deixas rasto. E gosto de saber - embora não fique de todo admirada - que estamos de acordo.

Abraço

Anónimo disse...

Anónimo e José: acho que eventualmente todos poderíamos lucrar com o vosso sentido crítico se fossem mais explícitos. Infelizmente alguns de nós não têm a vossa capacidade de abranger ideias através de monossílabos.

blue disse...

há muito que tenho uma opinião semelhante, não há paciência para mais um "carneirinho" nos rebanhos a uma só voz, como acontece nos grupos parlamentares. ainda que votar no BE seja um voto perdido no meu distrito.
mas, como também não me abstenho...

Anónimo disse...

Fico um pouco confuso com este post.
Por razões obvias não vota CDS, PSD e CDU.
Mais á da frente diz que nunca voutou PS nas legislativas.
Onde é que andou a votar estes anos todos? No MRPP? na AOC? no POUS?
Acho bem que vote do BE. Eu também voto, só não percebi o post.

Joana Lopes disse...

Caro Anónimo,
Até tenho pena, sinceramente, de não ter anotado em quem votei desde 75, tanta foi a variedade.
Em MRPP, AOC e POUS não votei certamente.
Posso ter votado PC ou CDU (já há bastante tempo).UDP garantidamente, Bloco desde que existe. Isto ajudará talvez a situar.

Isabel disse...

pelas mesmas razões votei CDU até começar a votar BE, longe de me fiiar em qualquer um dos dois, discordando em muito dos dois.

nas últimas para as autarquias continuei a votar CDU e possivelmente voltarei a faze-lo. Se calhar porque ainda não passei dos 10 anos.

Até hoje só para PRs votei em vencedores (não no último, cruzes!)

bookworm disse...

É tempo de este país amadurecer democraticamente, com os chamados partidos do poder a governarem humildemente – se não sabem, aprendam e habituem-se. Ninguém me convencerá a contribuir para o espectáculo de exibicionismo, prepotência e arrogância em que vivemos – nem em nome da eficácia, nem por causa da crise, nem pelo esplendor de Portugal.

Resta-me por isso o Bloco – por exclusão de partes.


subscrevo integralmente. e aplaudo, já agora, porque há que chamar os bois pelos nomes)

Anónimo disse...

Vejo também com bons olhos a subida do Bloco; E digo-o sendo militante do PS. Espero que o PS não tenha maioria absoluta nas próximas Legislativas, porque as maiorias absolutas num sistema como o português me parecem particularmente perigosas. O parlamento português, como o notou Cristina Leston-Bandeira, tem já muito pouco a função legislativa. É neste momento um orgão de fiscalização do poder e de debate. Ora um governo secundado por uma maioria na assembleia, fica sem qualquer fiscalização efectiva, faz exactamente o que quer, em benefício de quem quer.

Como os selectorados dos maiores partidos (o meu inclusive) seleccionam o tipo de rapaziada que se conhece, o resultado é este, um «jorjecoelhismo» impune, que nem a comunicação social nem o poder judicial incomoda. Uma maioria absoluta quer do PS, quer do PSD, destina-se apenas a que um Estado extractor de recursos à população (á maneira sul-americana» seja usado sem qualquer limitação pelos grupos que se conhecem.

Aliás, faz-me uma certa confusão que nestas questões de pedir maiorias absolutas a bem da «estabilidade» nunca se aponte como exemplo as democracias escandinavas onde as coligações ou as minorias são a regra, não a excepção; com os "maus resultados" que são conhecidos de todos os que conhecem essas sociedades.

Parece-me preferível um parlamento onde não existam maiorias absolutas, mas onde os partidos tenham que fazer cedências e acordos, onde cheguem as vozes de pequenos segmentos da população que só os pequenos partidos têm assegurado na história recente, tirando uma ou outra iniciativa individual de um ou outro deputado. E é tempo também de que se fale que as maiorias absolutas são obtidas a partir de uma enorme distorção dos resultados eleitorais, especialmente as provocadas pelos círculos de menor dimensão, que a não ser pela forte implantação local de alguns dos partidos pequenos difícilmente elegeriam outros deputados que não os do PS ou PSD.

Parabéns p'lo blog a que só agora cheguei.

Joana Lopes disse...

Obrigada pelo seu comentário, pela sua lcidez e pelo elogio ao blogue.