A crónica de Pedro Lomba no Público de ontem veio recordar-me uma entrevista a Assunção Esteves, que o mesmo jornal divulgou no passado dia 18 de Novembro. Lembro-me de a ter lido, mas realizo agora que o fiz mais ou menos distraidamente, o que aliás me acontece recorrentemente sempre que oiço ou leio algo que se relacione com a segunda figura do Estado.
Foi nesse dia que Assunção Esteves formulou o desejo de organizar tertúlias em cafés para debater problemas nacionais (e julgo que até já existiu uma) e afirmou que é possível definir numa folha A4 o que é necessário para mudar a Europa.
Mas é um excerto que Pedro Lomba cita que merece ser recuperado: «Os deputados sabem que podem contar comigo para defender a imagem a que temos direito, que é uma imagem de dignidade. E é uma dignidade acrescida pelo sentido de entrega que é superior ao do cidadão comum, à das pessoas que estão habituadas às suas vidinhas.»
São estas declarações admissíveis sem provocarem um clamor público? O «sentido da entrega» de um deputado é superior ao dos cidadãos comuns, habituados «às suas vidinhas»? O que dá a esta senhora, a quem a «vidinha» profissional ao serviço da Nação nem tem corrido nada mal, o direito de uma tal sobranceria e aparente desprezo pelos servos da gleba? Atitudes como esta fazem mal à democracia porque cavam o fosso entre eleitores e eleitos e só ajudam a piorar a imagem que a população tem dos seus políticos. O que não é apenas mau mas bem mais do que péssimo.
Enfim, no caso vertente, sempre se tratou de uma figura pública pela qual nunca tive qualquer espécie de simpatia e ainda hei-de um dia conseguir que alguém me explique por que superior razão todas as bancadas (repito: todas as bancadas) aplaudiram de pé a sua eleição para presidente da Assembleia da República. Porque essa eleição pôs fim à candidatura-pesadelo de Fernando Nobre? Porque é mulher e é loira? Não chega como justificação, como os factos estão a demonstrar.
P.S. - Ontem, li a entrevista na íntegra aqui, mas hoje está inacessível.
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3 comments:
Minha cara Joana, concordo. Houve um lapsus notório, se é errada a vida videirinha dos políticos também o alheamento cívico e acrítico da sociedade.
Sempre a considerá-la. Abraço.
Joana, isso só vem comprovar a minha tese: nós não temos governantes. Temos aspirantes a papás e mamãs de um bando de catraios.
Temos de por este país a fazer análise. rapidamente.
Estas palavras da Sª. presidente da AR demonstram o conceito em que têm o povo que lhes dá o voto e lhes paga, através dos impostos, os vencimentos.
É vergonhoso que uma mulher que já tem uma boa aposentação, conseguida com apenas 8 anos de exercício como juiza do TConstitucional, venha referir-se assim aos muitos milhares que nunca puderam, sequer, estudar para terem uma melhor situação.
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