17.9.18

Pedrógão Pequeno



«De um dia para o outro Pedrógão Grande transformou-se em Pedrógão Pequeno. Não foi um truque de magia: tratou-se, simplesmente, de destruir, sem piedade, um símbolo de solidariedade em nome da esperteza gananciosa.

Algo que parece típico neste país. Quando face a tantas questões inquietantes sobre a validação dos processos das casas por reconstruir o presidente da câmara municipal local, Valdemar Alves, apenas diz: "Se punham lá primeira habitação, como podemos dizer à pessoa que não era?", que responder? Investigando, talvez.

Num país em que, para tudo, o Estado pede certificados, comprovativos e demais papéis para satisfazer a sua burocracia, dar dinheiro de portugueses solidários para reconstruir casas sem verificação é algo que se faz levianamente? Pelos vistos, é. Só se comprova o que dá jeito. Portugal sempre foi um refém feliz da corrupção. O exemplo vem de cima porque Portugal é um país de desconfiados. Desconfiamos sempre dos suspeitos do costume. E dos outros.

Os portugueses conseguem, ao mesmo tempo, desconfiar dos políticos, dos polícias, dos árbitros, dos professores e dos médicos. Em contrapartida há uma desconfiança muito mais sinistra. O Estado desconfia dos portugueses. Desconfia que estes não pagam impostos e que se esquecem de pagar o estacionamento. Investiga-os.

Mas parece que isso só se aplica aos pacóvios. No que é importante verificar, o Estado esquece-se de o fazer. Ou cria condições para que isso não seja feito. Agora ninguém responsável sabe o que quer que seja. Não se compreende é como, num país que faz tanta filtragem, com medo de alguém estar a aldrabar o Estado, casas de segunda ou terceira habitação, ou simplesmente abandonadas, tenham sido abençoadas com dinheiro dos cidadãos crentes.

A burocracia e a inércia fazem parte do Estado e também dos partidos políticos que convivem com este mundo paralelo. Mas se rapidamente não se assumir uma terapia de choque, o Estado e os partidos que não se demarcam deste triste estado das coisas acabarão condenados a uma irrelevância que acabará por consumi-los.»

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