9.12.09

Cruzes canhoto














O Senado belga começa a discutir amanhã uma proposta de um deputado socialista sobre a aplicação (muito) estrita da separação entre Igreja e Estado.

Está em causa, por exemplo, «a proibição generalizada, para qualquer agente ou entidade pública, de manifestar de qualquer modo as suas convicções religiosas e filosóficas, independentemente de estar ou não em contacto com o público».

Na mira, também, a tradição do Te Deum celebrado todos os anos no dia do aniversário do rei.

Last but not the least, «As partes comuns dos cemitérios deveriam também respeitar estritamente o princípio da neutralidade, o que se traduziria na interdição de colocar cruzes nessas partes comuns».

Não sei se a lei passará mas, a tomar à letra esta notícia tal como é veiculada por muitos jornais, parece no mínimo excessiva. De acordo quanto ao Te Deum, mas o tesoureiro da comuna de Rhode Saint Genèse não poderá participar na procissão organizada pela paróquia lá do sítio? O rei ficaria impedido de assistir ao baptizado dos netos? E não sei exactamente o que possam ser partes não-comuns nos cemitérios já que se trata de lugares públicos - talvez o interior dos jazigos ou dos caixões…

Enfim: fico com a vaga sensação de que um dos objectivos semi-escondidos é a proibição do véu islâmico nas escolas, temo que o feitiço se vire contra o feiticeiro e espero que não esteja prevista nenhuma visita do papa à Bélgica para os próximos tempos…

(Fonte)

4 comments:

virgili o vargas disse...

Provavelmente chegar-se-á ao ponto de ser ilegal dizer "Santinho!" quando alguém espirrar....

Joana Lopes disse...

Ah pois claro...

Joca disse...

Se o Papa visitar a Bélgica deviam exigir-lhe pelo menos que não fosse de saias.
Aliás acho que em Portugal deviam fazer-lhe a mesma exigência.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Deve haver algo muito importante que me escapa, não vejo outra explicação.

1º) Para quem não saiba, talvez por morar numa vivenda (e não estar familiarizad@ com a banal linguagem dos Condomínios urbanos), as partes não-comuns dos Cemitérios são, precisamente, todas as partes privadas, ou seja, as campas (não sómente os interior dos caixões...), que constituem propriedade PARTICULAR de quem as adquiriu, como as Fracções nos prédios; de notar que a Proposta de retirar símbolos religiosos só se aplica, ÓBVIAMENTE, às PARTES COMUNS dos Cemitérios, que são as zonas de circulação por onde passam todos os Funerais (sejam eles de defuntos Cristãos, ou de qualquer outra Religião);


2º) Associar o Rei oficialmente a uma Religião e manifestá-lo exuberantemente não será propriamente o exemplo ideal de laicidade do Estado - se o Rei quer ir a um Te Deum que vá, mas não em funções representativas de Estado;


3º) Entrar de turbante numa Repartição de Finanças e ter a atendê-lo uma carrancuda senhora de cruz ao pescoço, ou mesmo entrar de cruz ao pescoço num Tribunal e encarar com uma sorridente Juiza ostentando um lindo broche em ouro em forma de crescente sobre a negra toga, são igualmente exemplos edificantes de neutralidade da Administração Pública, não acham?


Posto o que, passado já o sorriso amarelo com as oportunas anedotas do "santinho!" e da maxi-saia do Papa, cabe-me perguntar, o que sobra MESMO para criticar na Proposta do parlamentar belga?