7.6.07

6 de Junho de 1968 – Maurice Béjart expulso de Portugal (II)

Republicação corrigida e aumentada:

A Margarida emendou: em 1968, o que Béjart apresentou em Portugal foi «Romeu e Julieta». Razão tinha eu para dizer, no meu texto, «salvo erro» - errei mesmo. Para me redimir: podem ver
aqui e aqui parte de uma encenação de RJ de 1979.

O Rui Bebiano enviou-me um link para um «Le Sacre du Printemps» versão Pina Bausch, que inseri no fim dest post.


De «Entre as Brumas da Memória...», pp. 118-119

«Em 6 de Junho morreu Robert Kennedy, vítima de um atentado que tivera lugar dois dias antes. Nessa mesma noite, em Lisboa, Maurice Béjart apresentou o seu Ballet du XXe. Siècle, no Coliseu dos Recreios absolutamente repleto. Assistimos, salvo erro, a um magnífico Le Sacre du Printemps. Durante a última cena, ouviu-se gritar, repetidamente, "Façam amor, não façam guerra!". Simultaneamente e em várias línguas, eram lidas notícias sobre lutas, revoltas e injustiças. Foi arrepiante a emoção vivida na sala que se levantou em aplauso prolongado. Béjart veio então ao palco para afirmar que Robert Kennedy fora “vítima de violência e de fascismo” e para pedir um minuto de silêncio “contra todas as formas de violência e de ditadura”. Com a maior parte dos espectadores de pé, renovaram-se os aplausos, com mais força e com mais entusiasmo.

Informado do sucedido, Salazar proibiu os espectáculos seguintes e ordenou que Béjart saísse imediatamente de Portugal. Franco Nogueira cita uma nota distribuída à imprensa pelo Secretariado Nacional de Informação:
“Foram dirigidas à juventude exortações derrotistas e tomadas atitudes de especulação política inteiramente estranhas ao próprio espectáculo. Perante a luta que teremos que manter em defesa da integridade nacional, não pode consentir-se que uma companhia estrangeira aproveite, abusivamente, um palco português para contrariar objectivos nacionais.”

Béjart nunca se referiu a Portugal. Mas Salazar era bom entendedor e bastava-lhe menos de meia palavra para perceber – como nós – que Béjart quisera deixar um sinal de solidariedade aos antifascistas portugueses.

Momentos raros como este funcionavam para nós como bálsamo e como estímulo. Ajudavam-nos a não desanimar.»



Aqui ficam alguns minutos de «Le Sacre du Printemps» de Maurice Béjart.





Le «Sacre du Printemps» - Pina Bausch

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