8.6.07

De olhos fitos no altar da Pátria

Mais uma Feira do Livro, mais uns manuais escolares de antanho.

Salazar

Quando estudardes a história das outras nações, haveis de verificar que todas elas têm atravessado, no decorrer dos séculos, períodos mais ou menos agitados e crises mais ou menos violentas, a tal ponto que algumas dessas nações perderam para sempre a sua independência.

Não tem Portugal, no decorrer da sua História, escapado também a essas crises; mas sempre a Providência permitiu que, na hora crítica, aparecessem homens de boa vontade, que, cheios de coragem e de patriotismo, conseguiram libertá-lo das garras que tentavam asfixiá-lo. (...)

Foi nessa ocasião que um ilustre professor da Universidade de Coimbra, Dr. Oliveira Salazar, foi convidado para sobraçar a pasta das Finanças. Portugal inteiro fitou nele, ansiosamente, os olhos e ficou aguardando a sua obra. E essa obra aí está grandiosa e eloquente, gravando no granito da imortalidade o nome glorioso daquele que bem mereceu da sua Pátria.

Graças a Oliveira Salazar, a nossa administração pública é agora modelar, e Portugal goza, entre as outras nações, da consideração que lhe é devida.

O seu nome glorioso, depois de ter corrido Portugal de norte a sul, passou as fronteiras e tornou-se conhecido em todo o mundo. E quando, daqui a muitos anos, as gerações futuras o pronunciarem, hão-de dizer baixinho, de olhos fitos no altar da Pátria: – Foi um grande Português!

E não é que disseram mesmo?



2 comments:

cs disse...

gostei imenso deste post.
impecável

caramba. disseram mesmo.

carlos freitas nunes disse...

Alguns disseram. Outra coisa não seria de esperar.
A figura foi controversa e na década, que medeou entre 30 e 40, terá executado o que as elites esperavam dele, resolveu as contas públicas e recolocou as diatribes políticas e libertárias (algumas, nunca entendi o medo dos republicanos em conceder o voto ás mulheres) republicanas nos eixos,(com a Igreja, sobretudo, embora a Concordata seja um documento extraordináriamente dúbio, à velha maneira do "Manholas")de acordo com a mentalidade pequeno-burguesa das elites sociais do "Portugal tranquilo". De resto, a republicação destes livros escolares, para além de terem mercado (uns saudosistas, outros coleccionadores de memórias) permitem aquilatar as matérias inclusas e observar nelas as fórmulas de inculcamento ou imposição de valores, dos valores do regime, sobretudo nas novas gerações. Muitos dos quais ainda hoje vivos.