4.7.07

Carta do Bispo do Porto a Salazar (1958)

Cerca de um mês depois das eleições presidenciais de 1958, mais precisamente no dia 13 de Julho, D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, escreveu uma longa e corajosíssima carta a Salazar, que lhe valeu dez anos de exílio em Espanha, França e Alemanha (entre 1959 e 1969).

Essa carta foi um marco na resistência dos católicos (então ainda relativamente incipiente) contra a ditadura.

O texto já foi incluído em várias publicações, mas nem sempre é fácil aceder-lhes. Poderá agora ser lido neste blogue e na sua nova «extensão»:


«AO EX.mo PRESIDENTE DO CONSELHO

Porto, 13 de Julho de 1958

Excelência,

Cumpre-me, antes de mais, agradecer a V. Ex.ª o ter manifestado a boa disposição de me ouvir.
Na verdade, estando eu, na ocasião das eleições, legitimamente ausente em Barcelona, a deslocação a Portugal, que se me pedia, por forma tão extraordinária e pública, não poderia deixar de considerar-se propaganda da Situação, visto que, nas condições das duas candidaturas, sem falar sequer da posição ideológica de quem me pedia, era praticamente voto aberto. Isto tinha talvez menos importância; o que a tinha máxima era o carácter plebiscitário que se tem dado às nossas eleições, carácter que eu procurei fazer compreender ao grupo de pessoas que se me dirigiu e que depois V. Ex.ª publicamente reconheceu.
Em tais condições e forçado a ser, diametralmente ao contrário do meu desejo, uma bandeira, eu não podia deixar de fazer uma declaração de voto. Como a não deveria fazer em público, requeri fazê-lo a V. Excelência.
Acho porém preferível enviar primeiro, por escrito, os pontos fundamentais desta minha declaração a fim de poder ser útil à nossa conferência.
Quero, sobretudo e antes de tudo, acentuar que aquilo que se me põe à minha consciência é um problema directamente da Igreja.
A grande e trágica realidade, que já se conhecia mas que a campanha eleitoral revelou de forma irrefragável e escandalosa, é que a Igreja em Portugal está perdendo a confiança dos seus melhores. Não direi se este processo está, em princípio, no meio ou perto do fim; o que é evidente é que tal processo está em curso, por mim penso que muito e muito adiantado.»

Ler o texto completo aqui.

0 comments: