Morreu com 56 anos, faria hoje 80, mas é-me absolutamente impossível imaginá-lo com tal idade porque o «fixei» na casa dos trinta. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como de vintage absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo.
Errando pelos mesmos meios oposicionistas, os destinos juntaram-nos também em casa de amigos comuns, onde passámos longas semanas de férias, (castamente) separados por uma cortina de chita – nos tais anos sessenta que foram de facto loucos, em plena Serra da Arrábida, sem electricidade e quando um gira-discos a pilhas, vindo da América, fez figura do mais sofisticado robot. Um pouco mais tarde, viria a acampar, no sentido estrito da palavra, no minúsculo apartamento em que o Nuno viveu vários anos em Paris. Confirmo que saía de casa por volta das cinco da manhã para escrever algumas horas antes de iniciar mais um dia de trabalho.
Hoje todos citarão o escritor e muitos recordarão o excelente filme U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Prefiro registar o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência - neste caso não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi.
(Assinatura do Nuno para os amigos)
4 comments:
Ainda bem que existem sítios como este que impedem que pessoas e factos caiam no esquecimento colectivo. O Nuno Bragança - correcta ou incorrectamente - era conhecido no meio portuense onde nos mexíamos como um dos quatro Nunos da Diecção da PRAGMA. (Esta ideia, no entanto, deverá ser incorrecta, de acordo com o que é descrito no respectivo capítulo do livro "Entre as Brumas da Memória" onde, aquando das prisões que ocorreram, apenas são referidos dois dos Nunos). Julgo que não tive o previlégio de o conhecer pessoalmente ou, pelo menos, de com ele conviver. (Digo "julgo" porque existiram uns raríssimos encontros no Porto com pessoas da PRAGMA e neles poderia o Nuno Bragança também ter participado).
No entanto o que permanece na nossa memória, isto é, na memória de muitos dos que viveram os anos 60 "empenhados" em diversas actividades foi o seu livro «A Noite e o Riso» e a grande "pedrada no charco" de então! Poucos terão sido os que não o leram (por exemplo, dos espólios que eu e minha mulher trouxemos da nossa anterior vida de solteiros, resultaram dois exemplares do livro).
Pois, Jorge, o N. Bragança não foi de nenhuma direcção da Pragma, garantidamente. Frequentava-a, como é óbvio (tenho fotos que o mostram), poderá ter feito uma apresentação ou outra, mas nem foi um membro muito activo.
já é segunda vez que coincidimos, maria velho da costa e agora nuno bragança; fico contente
Também eu, Ana Cristina.
Além disso, estes dois estão para mim ligados por muitas razões, incluindo a do murro estômago que foi, na arena cinzenta de 1969, a publicação quase simultâncea de «A Noite e o Riso» e de «Maina Mendes».
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