17.8.10

China, a grande esperança para o capitalismo?


O crescimento da economia chinesa está sempre na ordem do dia, mas mais agora que o seu PIB ultrapassou o do Japão e só tem no horizonte alcançar o dos Estados Unidos.

Curiosamente, parece esperar-se que a China seja uma das bóias de salvação para a actual crise mundial do capitalismo – se não a única, pelo menos a principal -, na exacta medida em que se transforme numa grande potência consumidora, não só do que produz mas também do que vier a importar.

Com fim à vista o papel exclusivo de fábrica de objectos baratos, consumidos internamente e exportados para o mundo inteiro? Parece que sim: «Depois de décadas de expansão acima da média, mas pouca contribuição para o crescimento mundial, a China parece agora estar pronta a mudar de rumo. Foi a crise mundial que acordou o gigante adormecido». Por outras palavras: a recessão de outros como o Japão não serve os interesses chineses, muito pelo contrário, e o país julga ter «capacidade não só para alavancar o seu próprio crescimento, como para ajudar as outras economias».

As recentes greves, sobretudo em empresas multinacionais, de que resultaram aumentos salariais significativos, são certamente ainda uma gota de água, mas mostram que se avança numa direcção aparentemente sem retorno e que «a competitividade chinesa já não assenta só na mão-de-obra barata, mas também nos avanços tecnológicos».

Tudo pelo melhor num diferente e inesperado mundo novo? Longe de ser óbvio, porque se vê mal como o poder político vai gerir toda esta mudança. A China ainda continuará «comunista», que mais não seja aos seus próprios olhos? Vai manter a mão de ferro e a limitação de direitos, no tal país que se pretende com dois sistemas e em que se percebe cada vez menos o que um deles possa querer dizer? Com o mundo inteiro a assistir, cada vez mais dependente e até mais «servil»?

Não vale a pena a dizer que o erro está em tentarmos interpretar uma realidade diferente com os nossos olhos ocidentais, porque tudo hoje se tornou muito mais próximo, e consequentemente parecido. O capitalismo «budista» chinês tem certamente muito mais afinidades com Wall Street do que com o «Gross National Happiness» do vizinho Butão.

Estou enganada ou há aqui muita matéria para reflexão?

Partindo daqui.
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3 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Coloquei este comentário no fb, mas como penso que este domínio é mais adequado ao debate, aqui fica tb:

Julgo que a China vai ter 5 enormes problemas para resolver:
1. Conter as populções do interior que não irão aceitar que as zonas costeiras vivam bem e eles no atraso.
2. Uma nova economia já não baseada na extrema exploração da mão-de-obra de miséria. E não será pela deslocalização que já estão a praticar, em busca de mão-de-obra ainda mais barata, que irão ultrapassar a questão.
3. Inadiável actualização do yuan, que irá dificultar as exportações.
4. Confronto regional com o Japão cada vez mais carente de matérias-primas.
5. Dissonância na política interna.
Quem irá beneficiar a prazo com isto? USA, again.
Nota: convém incluir na discussão global, a zona do Golfo com o renascer da Turquia, a nova Europa com o despontar dos "paises de leste" em especial a Polónia, e a América do Sul comandada pelo Brasil.

Joana Lopes disse...

Neste momento, discute-se mais no FB, mas vou responder nos dois lados:
Quanto a 2., julgo que darão a volta.
4. As relações com o Japão são muito complexas e este trata a China com pinças por muitas razões, incluindo pelos grandes investimentos de empresas japonesas na China.

Quem irá beneficiar, não sei. Todos um pouco, a começar pela própria China.

«Nova Europa»? Andas a ler histórias aos quadradinhos???

Vitor M. Trigo disse...

Debate nos dois lados é mais complicado, mas, dado o interesse do tema aqui fica a cópia do fb:

Joana,

A questão 2 não me parece nada linear e depende da adequada resolução dos pontos 1 e 3. Variáveis a mais...

No ponto 4, sem ter nenhuma varinha de condão claro, julgo que o risco de confronto Japão-China é inevitável. Primeiro económico, depois diplomático, e, finalmente corre-se sério risco de bélico. Cada vez mais, o Japão se sentirá dependente do exterior (matérias-primas) para sobreviver. O mar e o ar são as hipóteses a explorar e em ambas o japão é superior à China e não pode perder as vias de acesso já condicionadas pelos USA, que, aliás, após as concessões a que os Britânicos foram obrigados pela WW2, dominam todos os oceanos. Os USA irão explorar esta rivalidade, como de costume.

Acerca do ponto final, não estou nada a brincar não. A Europa vai definhar como a conhecemos, sem dívida, mas não vai acabar. UK não quer nada com a EU - irá virar-se definitivamente para os USA, aliás como Portugal e Espanha. França e Alemanha não querem nada um com o outro, e a UE só tem a perder com isso. Ambos irão perder importância. O centro da Europa arrisca-se assim a deslocar-se para leste, mesmo com a progressiva perda de influência da Rússia. A Polónia, eterna inimiga da Alemanha e da Rússia, e confinando com ambas, não poderá contar com nenhum destes países, mas irá tirar partido do jogo estratégico dos USA e da NATO.