17.8.10

Em defesa do avião


Na continuação da ponta do véu que ontem levantei sobre Michel Onfray e a sua Teoria da viagem. Poética da geografia, mais uns fragmentos que me limitei a «colar», como se de um retrato se tratasse, do que tantas vezes senti e muito gostaria de algum dia ser capaz de assim exprimir.

«Os defensores de formas antigas e ultrapassadas de viajar apelam à lentidão e amaldiçoam a velocidade, causa de todos os males. Celebram a passada do burro, o barco de roda, travessia dos oceanos em cruzeiros, descida de rios em canoa, roulottes com cavalos, estadias longas em albergues, em quintas, imobilizações voluntárias e involuntárias, um tipo de sedentarismo reinstalado em casa de outrem. Imaginam que, assim, com tempo, apreendem melhor, experimentam uma empatia mais autêntica, realizam melhores encontros. É evidente que os defensores desta hipótese parmenidiana detestam aviões, símbolos do que de pior possa haver.

Adoro aviões. (…) A sua velocidade modifica a apreensão do espaço e contribui para a sua redução (…). Nos ecrãs, sucedem-se mapas que reduzem o espaço real a um desenho em que o verde das terras e o azul dos mares são atravessados pelo traço vermelho do nosso percurso (…), tudo o que parece grande e importante no solo torna-se pequeno, irrisório e insignificante no ar (…), sentimo-nos fragmento de um grande todo, pedaço irrelevante de um mecanismo importante que nos contém e nos ultrapassa(…), cada ponto do globo fica imediatamente acessível e torna a vontade capaz de vencer resistências (…). Sentir-se homem na carlinga deste instrumento transformado em energia e em velocidade metamorfoseia mais a alma do que a leitura dos Evangelhos (…).

A história desaparece, demasiado preocupada de peripécias locais, em prol da geografia, habituada a durações indefinidas e a lentidões magníficas».

Exactissimamente…
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4 comments:

São disse...

Eu também adoro aviões, mas, Joana, um burrinho (mula) de vez em quando dá muito jeito...eheheh

Joana Lopes disse...

Claro que pensei nisso...

Niet disse...

Caríssima: Grande perfomance no seu Blogue. Crescente, anti-espectacular e com a ousadia sublime de Nietszche/ Onfray. Continue!Algures num café da zona de Algezur. Bom Vento! Niet

Joana Lopes disse...

Obrigada, Niet, bom (fim?) de férias.