14.2.11

O amanhã de Cuba


Vale a pena ler um longo texto publicado ontem, no Passa Palavra: Cuba: um olhar socialista para as reformas.

Sem certezas quanto à viabilidade das soluções preconizadas pelos autores do estudo, reconheço que dão pistas importantes para reflexão.

«Está se delineando na Ilha um modelo econômico híbrido com uma tensão cada vez maior em relação à ideologia da Revolução. Frente a este descompasso, entre as decisões econômicas e o projeto de sociedade, nossa proposta é a construção consciente de um modelo misto de economia, onde a participação democrática, a partir das unidades produtivas, sirva não só de modelo de gestão econômica, mas também como contrapeso político aos setores que poderiam desenvolver interesses materiais destinados a uma agenda de restauração do capitalismo. (…)

A atual conjuntura constata a ausência de um plano coerente de reformas que supere a discricionariedade e coordene eficazmente os diferentes atores econômicos, por via da maior autonomia empresarial e territorial, um mercado controlado e um plano indicador com maior participação de trabalhadores e consumidores nas deliberações das agendas de transformação. A persistência de dirigentes (e enfoques) políticos incrustados no modelo estatal tradicional pode ser um lastro para o êxito das reformas anunciadas. Não obstante, se vislumbram esperanças com os debates frente ao próximo Congresso do Partido Comunista, força oficialmente dirigente da sociedade cubana.

Se existe congruência entre a retórica política, as ações em curso e o compromisso com um projeto emancipador da sociedade, a direção do país aproveitará a atual convocatória ao debate para lançar uma discussão ampla, a todos os setores da população, sobre os problemas, os erros, as urgências, os recursos disponíveis e as soluções possíveis no marco de um socialismo participativo e democrático. Estes proporiam pautas para combater as tendências restauradoras do capitalismo e cuja propaganda contribui para o fim do modelo atual.»
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5 comments:

Anónimo disse...

Um comentário simples, sentido, de homenagem a Fidel. Che e a esse pedaço da América há muito libertado: Cuba, vencerá ! Mas ainda que assim não fosse, um obrigado em nome da humanidade que de algum modo é a minha e que represento.
Cuba - Liberdade ou Morte !!!!

João Pedro

Anónimo disse...

Pergunto-me sinceramente se, apesar de ser um país de partido único, não haverá mais democracia em Cuba que no Ocidente democrático e liberal. Vejamos, conselhos de consumidores, conselhos de produtores, planificação da economia consoante as necessidades e não consoante o mercado mundial, um debate público participativo nas hora de crise. Cá temos muitos partidos mas... onde está a participação efectiva nas soluções para o país? (A Joana já foi a Cuba? O que achou?)

Joana Lopes disse...

Sim, já fui a Cuba duas vezes - como turista, entenda-se.
Eu não louvo, de modo algum, o estado das nossas democracias. Mas parece-me que tem uma ideia dourada de Cuba, por exemplo quando fala de «planificação da economia consoante as necessidades». Isso é a teoria, mesmo como turista vê-se que não é a realidade...
Além disso: um país onde há presos por delito de opinião é uma ditadura.

Anónimo disse...

Quanto à questão dos presos políticos, também eu sou intransigente e teria todo o gosto em vê-los livres. E sei também que Cuba é um país pobre e vai passando as suas dificuldades. No entanto a fome, não planificada, mas também não resolvida pelos mercados, é o que não falta na região, em geral mais deseducada e com menos acesso a cuidados de saúde. Por isso, é uma terra dourada nalguns aspectos. Mas do que estava mesmo a falar era da reunião dos cidadãos em torno da discussão de alternativas para o seu futuro. Posso estar a ser iludido e a questão ser apenas discutida entre membros das cúpulas do partido, ao passo que a propaganda não reflecte a realidade...

Septuagenário disse...

Era bonito fazer uma simulação em Portugal da cuba-lusa que tinhamos no 25 de Novº de 1975 e adiar esta data em quatro ou cinco anos.

Veriamos quem eram os primeiros a desistir desse regime se eramos nós ou os outros.

Sim porque em Portugal a política não é como se diz que é um benfica-sporting.

Em Portugal é "nós" e os "ooutros", aqueles malandros.

No benfica-sporting nunca se muda de clube, mas nos nós e nos outros é como quem muda de camisa.

Fazia falta um ensaio cubano de laboratório para esclarecer quem era quem em Portugal.