Quando li a notícia, pensei imediatamente em Adérito Sedas Nunes: «Um dos mais importantes cientistas sociais portugueses do século XX, foi fundador, durante as décadas de 1950 e 1960, da moderna Sociologia em Portugal. Ajudou a criar, em 1962, o Gabinete de Investigações Sociais, o primeiro centro de investigação inteiramente dedicado às Ciências Sociais. Em 1963 foi fundador e primeiro director da revista Análise Social, a mais antiga e prestigiada neste domínio em Portugal.»
Embora sem ter nada a ver, profissionalmente, com a área da Sociologia, lembro-me bem da verdadeira pedrada no charco que constituíram a criação do Gabinete de Investigações Sociais e o lançamento da Análise Social e a oportunidade que criaram para tantos, conhecidos e até amigos próximos, nesse terrível país cinzento do início da década de 60.
E que diz a referida notícia de hoje, no ano da graça de 2014? Que a Análise Social foi suspensa pelo director do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, José Luís Cardoso, por conter um «ensaio visual» com texto de Ricardo Campos, intitulado «A luta voltou ao muro», acompanhado de fotografias de graffitis em paredes de alguns centros urbanos. O referido director considerou estar-se em presença da utilização de «linguagem ofensiva».
Ver para crer: a versão deste número da revista chegou a estar online, já foi retirada, mas pode ser vista aqui.Os exemplares em papel foram recolhidos dos postos de venda.
Negue-se ou não, estamos na presença de censura pura e dura (estúpida, ainda por cima), 51 anos depois de um acto de coragem, académico e de cidadania, ter conseguido furar anos de chumbo. Duro de engolir, mas é isso mesmo.
P.S. - Na imagem à direita, a primeira página do nº1 da Análise Social (1963). (Daqui.)
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1 comments:
É a isto que eu chamo
puro
serviço público
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