3.1.17

E depois do escudo



«Há 15 anos, o escudo eclipsou-se. Foi um fim fulminante, tal como o das cabinas telefónicas, das máquinas de escrever ou dos postais de Boas Festas. Tornou-se uma relíquia, excepto para os mais velhos que ainda fazem contas em "contos".

O euro impôs-se na sociedade portuguesa e alimentou, durante anos, uma sociedade que se julgou rica até acertar com a cabeça na parede em 2011. Ninguém se preocupou muito durante alguns anos: estávamos na Europa, um daqueles "desígnios" que costumam toldar a visão portuguesa de tempos a tempos. (…) O problema é que nos atrelámos à Europa e esta hoje é, apenas, o euro. O resto são ficções de unidade política e económica. Até a livre circulação de pessoas vai um dia destes estoirar.

Pode não se ter saudades do escudo. Mas este euro traz mais problemas do que soluções a países como Portugal. Não há soluções claras para nenhum problema. A política não é uma ciência matemática. Mas parece claro que o futuro do euro é uma incógnita. Até porque é impossível conciliar uma única economia que cresce a sério (a da Alemanha) com a de países perdidos na dívida. (…) Se a Alemanha não quiser pagar para corrigir estas discrepâncias, não há máscaras que salvem o futuro pobre do Sul da Europa. É certo que na Europa ninguém vota por uma Cassandra e pelas suas profecias certeiras e nenhum político quer fazer de Cassandra, mas esta ficção acabará por se tornar um drama.»

Fernando Sobral

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