25.2.20

Já percebeu o disparate, Augusto Santos Silva?



«Toda a história do avião da TAP que supostamente transportava explosivos para Caracas não tem pés nem cabeça. É evidente que a suspensão dos voos por 90 dias é uma medida arbitrária e uma vingança por Portugal ter reconhecido Juan Guiadó e a companhia aérea o ter transportado, sem qualquer relação com a segurança do país. E esta reação apenas exibe, mais uma vez, o estado decadente em que se encontra o regime de Maduro. Não é por ter indisposto Nicolás Maduro e por este tipo de reações do regime venezuelano que o governo português fez mal em reconhecer Guiadó como Presidente. Um Estado pode estar disposto a lidar com as consequências de defesa de determinados valores. É verdade que Portugal, com uma diplomacia parasitária de outras, não o costuma fazer. Mas até lhe ficava bem. O que não fez qualquer sentido foi, por puro seguidismo, ter reconhecido um Presidente que não o é de facto. Só podia correr mal.

Neste momento, o Estado português encontra-se na situação absurda de tentar negociar uma solução para suspensão de voos da companhia nacional para um país onde vivem centenas de milhares de lusodescendentes com um governo que até há uns dias não reconhecia. Esta suspensão teve, aliás, a função de sublinhar a ridícula situação em que o ministro Santos Silva nos colocou. Disse o presidente da Assembleia Constituinte composta por apoiantes do regime, Diosdado Cabello: “Que a TAP peça a Juan Guaidó uma reconsideração da sanção, para ver quem é o Presidente da Venezuela.”

Portugal reconhece governos de ditaduras e isso não quer dizer que as apoie. Quer apenas dizer que mantém relações diplomáticas com esses Estados e que isso só pode suceder com quem detém o poder de Estado. Reconhecer um Presidente que, para além de não ter sido eleito, não tem qualquer poder real ou espera vir a tê-lo no curto ou médio prazo, foi um ato irresponsável ditado por interesses estranhos ao nosso país.

Do regime venezuelano nada espero para além de se agarrar desesperadamente ao poder o mais que puder, mesmo que isso resulte numa tragédia humanitária de proporções alarmantes. Do homem escolhido por Mike Pence para suceder a Nicolás Maduro e impedir que a Venezuela acabe de novo em mãos pouco amigas nada espero para além da obediência àqueles a quem deveria o poder, se o conquistasse. Mas do governo democrático português esperaria alguma responsabilidade. Não a teve. Agora, ficou na situação caricata de reconhecer quem já não reconhecia e deixar de reconhecer quem tinha reconhecido. Sempre a fingir que ficou tudo na mesma. Por um seguidismo acrítico que pôs os interesses de terceiros à frente dos nossos. Que não são poucos, na Venezuela.

Não foi uma nem duas vezes que Augusto Santos Silva reafirmou que reconhecia Juan Guiadó como “Presidente Interino da Venezuela”. A não ser que passe a haver dois presidentes, um para marcar eleições e outro para não as marcar, Portugal reconhecia, até este diferendo, Guaidó como Presidente. Dizer que não mudou uma linha na sua postura é dar uma cambalhota na trapalhada que tem sido a gestão política das relações portuguesas com a Venezuela.»

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1 comments:

jjoyce disse...

Dizer que a Venezuela está sob uma tragédia humanitária é cómico. Se o estivesse, estaríamos recebendo mais de meio milhão de portugueses e lusodescendentes a morrer à fome.