3.4.21

Uma vitamina por conceber

 


«Quando os meios de comunicação social anunciaram que os habitantes da longínqua cidade de Wuhan, na China, haviam sido atacados por um vírus, tomei conhecimento da notícia, com indiferença, em Goa, longe de imaginar que rapidamente iria transformar-se em pandemia.

Soado o alarme na Índia, na Europa, na América e no mundo inteiro, os sinos tocaram a rebate e as pessoas despertaram para o perigo real que a Covid-19 representava para a humanidade.

Com a conjugação de esforços dos cientistas e utilização de alta tecnologia, sem se olhar para os custos económicos, os laboratórios aceleraram o processo da descoberta de vacinas contra o corona vírus, fazendo surgir, recentemente, uma luz ao fundo do túnel com a anunciada possibilidade de elas poderem ser produzidas e distribuídas com brevidade.

Aguardada com ansiedade, a partir do início da vacinação e apesar de estar a ser processada em escala reduzida, muitos inconscientes e irresponsáveis do mundo inteiro comportam-se como se o problema já tivesse sido solucionado, relaxam na conduta preventiva, desrespeitam o confinamento, menosprezam as consequências extremamente gravosas que daí estão a resultar, esquecendo-se que o problema é de todos nós e não são os hospitais que poderão resolvê-lo se não tiverem a colaboração efectiva de toda a humanidade.

O mundo, por sua vez, respirou de alívio e a esperança iluminou os olhares apreensivos, como se a imunização com a vacina pudesse resolver as questões mais prementes do planeta que habitamos.


Efectivamente, com mais ou menos tempo, maiores ou menores sofrimentos, alterações comportamentais, invenções e reinvenções, avanços e retrocessos, esse vírus, se não for totalmente dominado, pelo menos será contido e as pessoas poderão viver sem terem a espada de Dâmocles apontada às suas cabeças na vivência quotidiana.

Resolvido o problema de Covid-19, com a vacinação em marcha para cobrir a maior parte da população mundial, as dificuldades que afligem a humanidade, agravadas ou alteradas com a pandemia, procrastinadas pelos decisores por terem deixado de ser prioritárias, mais cedo do que tarde irão irromper em força e apresentar-se-ão à luz do dia.

Face à previsível manifestação do estado de insatisfação popular, os promotores da globalização, seus principais beneficiados, pouco se importarão com o bem-estar dos povos e tudo farão para acumular ainda mais riquezas, tal como têm vindo a fazer ao longo dos últimos tempos.

Esses verdadeiros donos do mundo, quais sejam, os dirigentes dos grandes grupos multinacionais, industriais e financeiros, assim como os chefes das poderosas instituições internacionais, muitos deles fazendo parte do Grupo de Bilderberg, munidos da poderosa força económica, financeira e política de que dispõem, irão procurar influenciar os dirigentes dos Estados soberanos, coarctando-lhes a autonomia e obrigando-os a defender os seus interesses específicos.

Em resultado das políticas desenvolvidas por muitos desses senhores, - que apontam o lucro como prioridade das prioridades, sem se preocuparem com as suas consequências nefastas-, tem havido uma aceleração do aquecimento global, gradual descongelamento dos pólos, agravamento da poluição, chuvas torrenciais, calor excessivo, inundações, tornados e desastres naturais, em conjugação com outras calamidades.

Em vez de se preocuparem com o desmantelamento dos arsenais nucleares e lutarem em benefício da paz, produzem uma diversidade de produtos, incluindo armas, cada vez mais sofisticadas, e chegam a fomentar guerras fratricidas para poderem escoar o material armazenado, ou considerado obsoleto, sem se importarem com a provocação do êxodo das populações indefesas e migrações em massa.

Por essa razão, milhares de homens, mulheres e crianças são forçados a abandonar os seus lares, a galgar fronteiras e morrer à fome, perante a incapacidade do Conselho de Segurança das Nações Unidas de pôr termo aos conflitos e o alheamento da grande parte dos concidadãos do mundo.

Nessas contingências específicas, criam-se condições perfeitas para o florescimento do racismo e xenofobia nos países de acolhimento.

Acontece também que, devido à degradação das condições de vida e à própria natureza humana, no plano do relacionamento individual e familiar, muitas vezes prevalece a ambição e o egoísmo em vez da fraternidade. Daí resulta o esfriamento de relações matrimoniais, seguido de incompreensão mútua por ausência de espírito de tolerância, chegando ao ponto de tornar insuportável a convivência dentro de casa e culminando as desavenças com violência doméstica e até assassinatos.

No plano social, como os ricos querem ser cada vez mais ricos, sem se importarem com a multiplicação do exército dos pobres, os seus cúmplices no poder procuram travar o levantamento dos esfomeados, distribuindo migalhas e confundindo solidariedade com esmola.

Dessa maneira, no plano político, a democracia, a liberdade, a igualdade e a fraternidade tendem a tornarem-se palavras ocas e vazias de conteúdo, contudo a democracia, apesar dos seus elevados custos, numerosos defeitos e contradições chocantes , continua a ser o melhor sistema político até hoje praticado.

Se esses e muitos outros males necessitam de um rol de vacinas preventivas e de medicamentos apropriados para casos patológicos, seria bom que a Índia, - grande produtora e exportadora de vacinas contra Covid-19, considerada a "farmácia do mundo" -, sozinha ou em aliança com os donos do mundo concebessem ao menos uma vitamina que possibilitasse a resolução de conflitos através da política de não-violência, como conseguiu Mahatma Gandhi, perdoar os carcereiros, como fez Nelson Mandela, trabalhar em prol do bem comum, como pede o Papa Francisco, e amar o próximo como ensina Jesus Cristo.»

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