15.4.07

Cantata da Paz

«A passagem do ano de 1968 para 1969 foi marcada por um acontecimento de forte impacto. Depois de uma missa, celebrada pelo Cardeal Patriarca na Igreja de S. Domingos em Lisboa para assinalar o Dia Mundial da Paz, representantes de muitas dezenas de pessoas informaram­‑no de que permaneceriam em vigília na igreja durante toda a noite. Acusaram os bispos portugueses de revelarem "mais uma vez a realidade do compromisso político da Igreja frente ao Estado", em nota pastoral datada de 13 de Dezembro, na qual convidavam os católicos a participarem nas iniciativas de celebração do Dia da Paz e se referiam aos "povos ultramarinos que integram a Nação Portuguesa". Os promotores da vigília pretenderam, nomeadamente, "assumir publicamente, como cristãos, um compromisso de procura efectiva da Paz frente à guerra de África", que disseram não poder "desconhecer, camuflar ou silenciar"». Uma "Cantata da Paz", com versos de Sophia de Mello Breyner e música de Francisco Fernandes – Vemos, ouvimos e lemos –, ficaria para sempre associada a este evento» (Entre as Brumas da Memória..., p. 133).

Divulgo hoje a letra dessa Cantata.


Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Nós, o Povo de Deus,
Reunidos imploramos
A graça da Paz .

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome,
O caminho da injustiça,
A linguagem do terror.

A bomba de Hisoshima,
Vergonha e todos nós,
Reduziu a cinza
A carne das crianças.

O corpo humano foi
Queimado em Buchenwald.

Os países inventam,
A máquina produz
Bombas e prisões,
Perfeitas sujeições.

E no terceiro mundo,
Nos campos e na rua,
A fome continua.

2 comments:

Anónimo disse...

gostava de lembrar neste acontecimento o imenso padre Alberto Neto, mais tarde assassinado em condições não esclarecidas.
abraço

Joana Lopes disse...

E lembra bem. Conheci o Pe. Alberto, na Capela do Rato. Era uma pessoa impecável.