A obra de João Freire, Pessoa Comum no Seu Tempo...(*) já foi detalhadamente analisada na net por quem de direito, entre outros por José Pacheco Pereira e por Rui Bebiano.
São quase 600 páginas e mais de 2 000 notas de rodapé e começo por confessar que estive quase a desistir da leitura, aí pela p.70, tal era o enfado provocado pela avalanche de pormenores sobre tios, primos, amigos e casas. Se houvesse no livro alguma ponta de sentido de humor (mas não é o caso), teria chegado a pensar que o autor se estava (nos estava) a divertir. O meu fascínio por Memórias e um conselho de Rui Bebiano, que me disse para esperar pelos capítulos 4 e 5, fizeram-me continuar e não me arrependi. Mas, dentro do género, nunca li nada de tão estranho (estranha e incompreensível sendo também a capa!...).
Do autor, fiquei com a impressão de que é alguém que esteve sempre um tanto fora de quase todos os mundos em que foi vivendo – há sempre uma distância de tudo e de todos. A mesma, aliás, que se sente em relação aos seus possíveis leitores – parece mesmo não se preocupar muito em saber se virão a existir e não lhes facilita a vida com o seu estilo de escrita, o que por vezes é insólito e chega a ser interessante. Por outro lado, respira-se humildade e honestidade à prova de fogo – está-se na presença de alguém a quem se compraria facilmente um carro em segunda mão.
Da obra, que li até ao fim, mas – aqui me confesso – saltando muitas notas de rodapé, ficou-me informação interessantíssima, da qual destaco especialmente as vivências sobre o anarquismo em Portugal, antes e logo a seguir ao 25 de Abril, domínio em que era e sou especialmente ignorante. (O primeiro contacto «físico» com o dito terá sido, já lá vão décadas, numa noite de insónias em casa de César de Oliveira, no Porto, onde folheei uma coleçcão de A Batalha, arrumada numa estante por cima da minha cama.)
São quase 600 páginas e mais de 2 000 notas de rodapé e começo por confessar que estive quase a desistir da leitura, aí pela p.70, tal era o enfado provocado pela avalanche de pormenores sobre tios, primos, amigos e casas. Se houvesse no livro alguma ponta de sentido de humor (mas não é o caso), teria chegado a pensar que o autor se estava (nos estava) a divertir. O meu fascínio por Memórias e um conselho de Rui Bebiano, que me disse para esperar pelos capítulos 4 e 5, fizeram-me continuar e não me arrependi. Mas, dentro do género, nunca li nada de tão estranho (estranha e incompreensível sendo também a capa!...).
Do autor, fiquei com a impressão de que é alguém que esteve sempre um tanto fora de quase todos os mundos em que foi vivendo – há sempre uma distância de tudo e de todos. A mesma, aliás, que se sente em relação aos seus possíveis leitores – parece mesmo não se preocupar muito em saber se virão a existir e não lhes facilita a vida com o seu estilo de escrita, o que por vezes é insólito e chega a ser interessante. Por outro lado, respira-se humildade e honestidade à prova de fogo – está-se na presença de alguém a quem se compraria facilmente um carro em segunda mão.
Da obra, que li até ao fim, mas – aqui me confesso – saltando muitas notas de rodapé, ficou-me informação interessantíssima, da qual destaco especialmente as vivências sobre o anarquismo em Portugal, antes e logo a seguir ao 25 de Abril, domínio em que era e sou especialmente ignorante. (O primeiro contacto «físico» com o dito terá sido, já lá vão décadas, numa noite de insónias em casa de César de Oliveira, no Porto, onde folheei uma coleçcão de A Batalha, arrumada numa estante por cima da minha cama.)
Além disso, reconheço que fica todo um manancial precioso para a história da sociedade portuguesa no século XX.
Quem seja, como eu, mais ou menos da geração de João Freire, e tenha vivido em Lisboa e / ou nos principais eixos luso-europeus, encontra, entre as 4 000 pessoas que o autor estima ter conhecido ao longo da vida, largas dezenas de nomes de compagnons de route e de amigos próximos (até na Marinha e no Colégio Militar), estranhando só não ter esbarrado na vida com o próprio João Freire. Mas de certo que isso não aconteceu – nunca mais o teria esquecido.
(*) João Freire, Pessoa Comum no Seu Tempo. Memórias de um Médio-Burguês de Lisboa na Segunda Metade do Século XX, Afrontamento, Porto, 2007, 596 p.
1 comments:
Espero que as "subleituras" do livro continuem... :))
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