29.10.07

498 beatos a mais


Já muito foi escrito sobre a beatificação, ontem em Roma, de 498 alegados «mártires» que, durante a Guerra Civil espanhola, alinharam com Franco. Os jornais espanhóis trazem hoje notícias detalhadas.

Isto acontece quando o governo de José Luís Zapatero reabilita a memória das vítimas do franquismo e não consta que haja qualquer posição da Igreja, em Espanha ou no Vaticano, em que esta se penitencie pela cumplicidade com o fascismo ao longo de décadas.

Espectáculo lamentável a que assistiram pouco mais de 30 000 pessoas quando, em Espanha, se chegou a falar de um milhão.

Entretanto, o «nosso» inefável cardeal José Saraiva Martins, que presidiu às cerimónias, aproveitou para condenar o aborto e a homossexualidade (a que propósito?!...) nestes precisos termos: «Por eso, ser cristianos coherentes nos impone no inhibirnos ante el deber de contribuir al bien común y moldear la sociedad siempre según justicia, defendiendo - en un diálogo informado por la caridad - nuestras convicciones sobre la dignidad de la persona, sobre la vida desde la concepción hasta la muerte natural, sobre la familia fundada en la unión matrimonial una e indisoluble entre un hombre y una mujer (...).»

4 comments:

Anónimo disse...

Se a estimada Joana permite, deixo um ligeiro reparo por mor do rigor. Diz-se aqui "498 alegados «mártires» que, durante a Guerra Civil espanhola, alinharam com Franco", quando, segundo julgo, o período abrangido pelo martírio dos agora beatos reporta ao período 1934-39. Portanto, inclui o período da guerra civil (36-39) mais a fase anterior (34-36) entre a reinstalação da República e o início da guerra. Aliás, disso não tendo a certeza, penso que a maior chacina de religiosos e religiosas (episódio negro e que só pode envergonhar a causa do progresso, cujo nome se invocou para cometer os crimes) se processou em 36 entre a vitória eleitoral da Frente Popular e os primeiros tempos da guerra. Até porque logo que organizada e disciplinada a resistência republicana, os ataques a Igrejas e religiosos(as) não mais foran permitidos. Mas as chacinas de religiosos foi um facto, foram sobretudo incentivadas e praticadas por anarquistas e muitas perpetradas com requintes de malvadez (sobretudo no que tocou a freiras). E, nesse sentido, compreende-se que a Igreja os considere seus mártires e os enalteça. O que é condenável, julgo, é a ocasião escolhida pelo Vaticano para a beatificação (procurando fazer contraponto à Lei de Memória Histórica) e ela não ser acompanhada de idêntico preito para com os sacerdotes bascos e outros que se mantiveram leais à República e que foram fuzilados pelos franquistas, bem como a Igreja não pedir perdão pela sua aliança com Franco e ter fornecido ao franquismo o cimento ideológico para o "nacional-clericalismo", sendo colaboracionista em todo o tempo da ditadura espanhola.

Abraço do
João Tunes

Joana Lopes disse...

Obrigada, João, por todas as precisões - não fui tão longe...

Quanto à proximidade no tempo dos dois acontecimentos - Lei da Memória e beatificação - a Igreja já veio dizer que a data para a segunda já estava prevista há muito (o que é possível) e que se tratou portanto de uma triste coincidência. Mas há adiamentos por motivos menos importantes...

samuel disse...

Cheguei agora do café aqui da esquina. Se os "beatos" cheirarem tão mal como as beatas que estavam no cinzeiro cheio em cima da mesa, o Vaticano não é sítio onde eu vá beber uma bica nos tempos mais próximos.

Anónimo disse...

resposta a Samuel
Percebo o que diz , beatos e beatas houve em todos os tempos uns aolado do progresso , outros não. Embirro com palavra progresso com remeniscências positivistas. A hora em que vivemos é a última estadio do tal progresso.
Mas, eu gosto de fumar; presumo que não é fundamentalista nem puritano, por ser cantor fez a sua escolha. O Tabaco a que se refere será o de segunda, terceira ou quarta ordem que profilera no mercado e engrossa grande Negócio , sabemos com que adjectivo.