Declaração de interesses:
Sou leitora (quase) habitual da revista desde o primeiro número. Lamento que «as esquerdas» desdenhem e a ignorem mas não consigam ter nada de equivalente.
Voltando à fotografia. Independentemente do conteúdo do artigo de Rui Ramos (lá chegarei, provavelmente, num segundo post), a capa é um bom furo (quem não faz marketing, até na blogosfera, que atire a primeira pedra), é muito forte e, sobretudo, é um exercício de liberdade de expressão e como tal deve normalmente encarada. Concorde-se ou não – e eu discordo frontalmente – com a mensagem que veicula.
Está ao mesmo nível das caricaturas de Maomé, do preservativo no nariz do papa ou da falta de respeito para com a família real espanhola. Quem não quiser que não olhe. Ou há saudades da censura?
A propósito do 40º aniversário da morte de Che Guevara, os próximos dias vão ser pródigos em posicionamentos politicamente correctíssimos de ex-idólatras arrependidos. Não será o meu caso. Nunca andei com T-shirts guevarianas, mas continuo a valorizar – e muito – o papel que este e outros «heróis» da América Latina tiveram na minha geração e em várias outras, especialmente significativo no Portugal de Salazar.
Como diz Rui Bebiano em A Terceira Noite, num texto de leitura absolutamente obrigatória, «No seu tempo, [CG] foi sim um agente transformador, integrado no fluxo mundial de expectativa de mudança vivido no decurso dos “longos anos 60”, e, ao mesmo tempo, integrador de solidariedades e de projectos de emancipação que cumpriram o seu papel histórico.»
E, em jeito de provocação, tão legítima como a que concedo a quem odeia Che Guevara, hoje ou desde sempre, este blogue tem pela primeira vez música de fundo (que pode ser desligada...).
5 comments:
Joana, parece-me que nenhum dos críticos da capa (entre os quais me incluo) defendeu a sua censura e/ou proibição mas, apenas, fizeram notar o seu mau gosto (at very least). Quando, na quinta-feira, resolvi falar no tema foi como reacção às loas à dita capa. Que é uma provocação (e eu até costumo gostar de provocações, mas esta é infeliz e pueril).
Era impensável que houvesse censura ou proibição - só o referi por «boutade».
Não estava a pensar no seu texto, mas li vários demasiado «indignados», «enojados», etc. - o que não me parece uma reacção muito sã.
A capa é coerente com o conteúdo do artigo de RR, todo ele cheio de «sound bytes». Lá chegarei.
Ainda não li o artigo. Apenas vi a capa. E apenas julgo a capa. Marketing. Os icones são utilizados ao sabor das marés. É por isso que são icones. Já vi uma pomba branca na boina do Guevara, quando o que existiu foi uma estrela de cinco pontas. Depende da "onda". Aparente vontade de chamar a atenção de uma juventude sem ideologia que usa símbolos como quem come hamburgueres. Já agora propunha para próxima capa da revista Hitler com boina à Che. Contra a qual não teria igualmente nada contra! Façam lá a festa que, eu, nem ao trabalho me dou de ir comprar a revista. Em tempos comprava a Kapa. Era melhor. Mas até essa já é um mito. Sem icones na Kapa.
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