14.3.08

«O dia em que o capitalismo se afundou»


ADENDA (**)

As semanas que se seguiram ao 11 de Março de 1975 foram, naturalmente, ricas em acontecimentos e convulsões. Três dias depois, no dia 14, para além de ser criado o Conselho da Revolução, deu-se a nacionalização da Banca e dos Seguros.

Para o bem e para o mal, foi um marco importante da nossa História (muito) recente. Os mais novos não terão mais do que uma ideia muito difusa do que se passou, os mais velhos poderão ter amalgamado recordações com tudo o que se seguiu.

Da imprensa da época:

«As nacionalizações são saudadas à esquerda e não são contrariadas à direita. O PPD apoio-as, aliás, embora previna que “substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa”.

Mário Soares mostra-se mais expansivo. Eufórico mesmo, considerando aquele “
um dia histórico, em que o capitalismo se afundou”. Dirá, a propósito o líder socialista, num comício: “A nacionalização da banca, que por sua vez detém (...) a maior parte das acções das empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de se criar uma sociedade nova em Portugal”.» (*)


Gosto de pensar o presente com vivências, tão fortes como estas, em pano de fundo. Ajuda-me a perceber muita coisa – para o bem e para o mal.

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(*) Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, edições Expresso / Público, 2006, p. 28. O realce é meu.

(**) Não deixem de ler o texto que Raimundo Narciso deixou na Caixa de Comentários e, já agora, a minha resposta.

2 comments:

Raimundo Narciso disse...

Olá Joana
Não me lembro das reacções públicas de Mário Soares à nacionalização da banca, em 14 de Março de 1975, no entanto, ao ler o que reproduzes lembro-me, e muito bem, do seguinte episódio.
Uma delegação do PS ia encontrar-se com o PCP a seguir ao 11 de Março de 75. Chegaram ao 3º andar da sede do CC do PCP, era já noite, Mário Soares e Salgado Zenha. Eu estava à porta à sua espera. No preciso momento em que chegaram e eu os recebia ouviu-se na rádio a bombástica notícia da nacionalização da banca decidida creio que pelo Conselho da Revolução. A notícia vinha de um pequeno rádio situado na cabina de vidro da telefonista que se situava mesmo junto à porta. A reacção de Soares e Zenha foi de irreprimivel sobressalto mas possivelmente não constituia excessiva surpresa dado os desenvolvimentos políticos dos 3 últimos dias. Pararam à entrada a ouvir o resto da notícia. Não fizeram comentários à minha frente. Mas o sobressalto e a contrariedade foram mais que notórios e... significativos. Por isso quando os jornais noticiam que "Mário Soares mostra-se mais expansivo[que o PSD]. Eufórico mesmo, considerando aquele “um dia histórico, em que o capitalismo se afundou”...concluo que o que os jornais dizem é uma coisa e a realidade (com frequência) outra muito diferente.

Joana Lopes disse...

Ora até que enfim que reapareces na blogosfera, Raimundo.

Em relação ao que dizes, e dado que não ponho em causa a seriedade do trabalho dos dois autores do livro que cito (AG e JPC) e que eles referem as afirmações de Soares entre aspas dizendo que foram proferidas num comício, inclino-me a pensar que houve uma primeira reacção que foi a que tu presenciaste - e que é historicamente interessantíssima - e uma segunda que é a que eles citam, e que terá sido feita mais tarde, perante factos consumados ou já embarcada no entusiasmo generalizado nas multidões.

Mas posso estar enganada. Se apanhar por aí o Soares num corredor de uma qualquer sessão, o que por vezes me acontece, falo-lhe disto. Fico curiosa de saber o que diz hoje...