No blogue Caminhos da Memória, foram publicados hoje três textos a propósito da problemática vivida neste momento em Espanha: um de Rui Bebiano, outro de Irene Pimentel e este meu, abaixo transcrito praticamente na íntegra.
Memória e cidadania
Um artigo de Jorge Almeida Fernandes (JAF) no suplemento P2 do Público de ontem abriu uma discussão, tão importante quanto complexa, a propósito das polémicas geradas em torno da recuperação da Memória Histórica em Espanha e da actuação do juiz Baltasar Gárzon na mesma. Desta vez, o que está principalmente em causa é o papel dos historiadores em toda esta problemática, a relação entre a sua actividade e os poderes político e judicial, entre «liberdade» de quem investiga e leis de criminalização do passado.
Regressando ao artigo de JAF (que, diga-se de passagem, parece misturar diferentes temas e planos distintos): a polémica sobre este papel do historiador está muito acesa em França e reflecte-se no texto do abaixo-assinado citado no P2. Acaba de ser lançado um livro de Pierre Nora e Françoise Chandernagor precisamente sobre a mesma problemática. Repito: trata-se de um tema apaixonante mas complicadíssimo.
Talvez por isso, nunca me senti tão aliviada por não ser historiadora, mas apenas alguém que se interessa muito pelas questões relacionadas com a memória. Porque história e memória não são a mesma coisa.
Não sei se os republicanos espanhóis foram vítimas de crimes comuns ou contra a humanidade (e, portanto, se os respectivos processos prescreveram ou não). Não sei se Gárzon é competente ou não para se ocupar do problema (questão muito polémica em Espanha neste momento), nem se o faz por exibicionismo, nem se um juiz pode «escolher» as suas vítimas.
Sei que, tal como não há almoços grátis, também não existem políticas de memória inocentes e imparciais: o governo de Zapatero não promulgou a lei da Memória Histórica por acaso, o PP não põe entraves à toa, Bento XVI não beatificou quase 500 «mártires» franquistas só porque sim. E eu, cidadã comum, sinto-me com todo o direito de escolher as memórias que quero preservar, as vítimas que quero «desenterrar», não só para que justiça se faça, mas porque acredito que é assim que posso tentar contribuir para o progresso da humanidade, nos caminhos que me parecerem mais correctos. Com todos os compagnons de route que for encontrando, sejam eles políticos, juízes, historiadores – ou simples mortais como eu.
Memória e cidadania
Um artigo de Jorge Almeida Fernandes (JAF) no suplemento P2 do Público de ontem abriu uma discussão, tão importante quanto complexa, a propósito das polémicas geradas em torno da recuperação da Memória Histórica em Espanha e da actuação do juiz Baltasar Gárzon na mesma. Desta vez, o que está principalmente em causa é o papel dos historiadores em toda esta problemática, a relação entre a sua actividade e os poderes político e judicial, entre «liberdade» de quem investiga e leis de criminalização do passado.
Regressando ao artigo de JAF (que, diga-se de passagem, parece misturar diferentes temas e planos distintos): a polémica sobre este papel do historiador está muito acesa em França e reflecte-se no texto do abaixo-assinado citado no P2. Acaba de ser lançado um livro de Pierre Nora e Françoise Chandernagor precisamente sobre a mesma problemática. Repito: trata-se de um tema apaixonante mas complicadíssimo.
Talvez por isso, nunca me senti tão aliviada por não ser historiadora, mas apenas alguém que se interessa muito pelas questões relacionadas com a memória. Porque história e memória não são a mesma coisa.
Não sei se os republicanos espanhóis foram vítimas de crimes comuns ou contra a humanidade (e, portanto, se os respectivos processos prescreveram ou não). Não sei se Gárzon é competente ou não para se ocupar do problema (questão muito polémica em Espanha neste momento), nem se o faz por exibicionismo, nem se um juiz pode «escolher» as suas vítimas.
Sei que, tal como não há almoços grátis, também não existem políticas de memória inocentes e imparciais: o governo de Zapatero não promulgou a lei da Memória Histórica por acaso, o PP não põe entraves à toa, Bento XVI não beatificou quase 500 «mártires» franquistas só porque sim. E eu, cidadã comum, sinto-me com todo o direito de escolher as memórias que quero preservar, as vítimas que quero «desenterrar», não só para que justiça se faça, mas porque acredito que é assim que posso tentar contribuir para o progresso da humanidade, nos caminhos que me parecerem mais correctos. Com todos os compagnons de route que for encontrando, sejam eles políticos, juízes, historiadores – ou simples mortais como eu.
3 comments:
Será que os crimes do Salazarismo, mesmo sem o garrote espanhol, não justificam um Juiz Garzon?
Quem tem medo de um Juiz Garçon?
Será que para os brandos costumes já está o julgamento feito?
Um Garzon talvez nos provoque a mesma repulsa, que os toiros de morte.
Os artistas são comuns mortais.
Picasso que era um comum mortal e tinha todos os vícios dos comuns mortais "soube" sempre que o regime franquista acabaria por desaparecer. Por isso deixou em testamento que a "Guernica" voltaria a Espanha no dia em que a Espanha fosse um país livre. Isso aconteceu a 9 de Setembro de 1981, data que os espanhois não esquecerão (e o MOMA tb não)
Os artistas são comuns mortais. E por isso mais "livres" de "pesos" que juízes, políticos e historiadores.
Os artistas "pegam" nas coisas sem "pinças" por isso mesmo, são artistas, "borrifam-se" para as critícas, para os "politicamente correctos", vou mais longe, até para as consequencias.
O maravilhoso nos artistas é que chegam sempre "lá"... primeiro.Ninguém repara, mas chegam.
O franquismo começou a ser julgado no dia em que um miúdo chamado José Luiz Zapatero e umas miúdas que hoje são suas ministras, em liberdade e com menos de vinte anos puderam "ver" em Madrid a Guernica de Picasso.
O mais comum dos mortais sabe, "que uma imagem vale mais de mil palavras"
Caro Septuagenário:
"Será que os crimes do Salazarismo, mesmo sem o garrote espanhol, não justificam um Juiz Garzon?"
Resposta:
Se conseguir enquadra-los como crimes contra a humanidade, sim.
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"Quem tem medo de um Juiz Garçon?"
Resposta:
Mais ou menos os mesmos (incluindo os velhos companheiros do "Maria Rita Pum Pum")que desprezam o trabalho da Maria José Morgado
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"Será que para os brandos costumes já está o julgamento feito?"
Resposta:
Obviamente que Não. Porém só existem "brandos costumes" porque todos nós o permitimos. Umas vezes dá jeito (como referiu não havia garrote), outras não (não existem julgamentos nem me parece vontade para o fazer)
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"Um Garzon talvez nos provoque a mesma repulsa, que os toiros de morte."
Comentário:
As touradas são uma "coisa" muito complicada.Coisa de homens, machos entende?Os touros de morte ainda mais. Não se esqueça que em Portugal essa pratica é proibida, mas no Alentejo, em Barrancos,Camara Municipal CDU(?)ninguém conseguiu por cobro à chacina.
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